Não é só atração física. Não é apenas a minha mania de
observar seus lábios enquanto você fala. Não são tuas mãos finas ou o jeito com
que elas brincam com o meu cabelo. Não são teus braços que me envolvem com
menos frequência do que eu gostaria. Não é a sua voz rouca. Não são teus olhos,
ah esses olhos, que me encantaram logo do primeiro instante. Eu não sei te dizer o que sempre me traz de
volta para você todo esse tempo, mas eu sou honestamente grato por isso.
Talvez seja o modo com que teus olhos escondidos por detrás de
óculos escuros me procuram entre os passantes, ou a forma que teus lábios se
estendem em um sorriso quando finalmente me encontra. Talvez seja o silêncio
que se forma quando você deita sua cabeça no meu colo e como todo o resto do
universo simplesmente perde a importância. Talvez isso seja uma coisa
passageira, talvez isso dure para sempre. E eu sinto essa necessidade de te ter
por perto, cuidar de você, ter certeza de que tudo está bem. Coisa que cresce no
meu peito e por vezes parece que me tenta sufocar. Não precisamos falar nada,
estar ao seu lado já é o suficiente. Um olhar rápido para não sermos pegos. Um
sorriso de canto de boca. Um suspiro que eu tento guardar para mim.
Eu não sei explicar o que eu sinto, mas sei que sinto. Sinto
que meu coração acelera quando eu digo teu nome, e que aquelas malditas
borboletas se batem dentro de mim quando penso naqueles olhos que gosto tanto.
E enquanto estou do seu lado, nem passado, nem futuro me preocupam. Tudo o que
tenho é aquele momento, mesmo que sejam alguns segundos, mesmo que seja um
sorriso e um aceno enquanto passamos nos corredores. E eu vivo o presente,
coisa que quase nunca faço.
Sei que sinto porque teimo em ouvir repetidamente a mesma
canção. A voz suave que canta no rádio do meu carro, preenchendo cada pequeno
espaço que antes eu julgava vazio. Ocupando cada fresta no meu coração.
Ocupando todo o ar do automóvel, transbordando das janelas e inundando meu
caminho para casa. Então eu fecho os olhos por poucos segundos e sorrio sem
notar o que faço. A avenida continua vazia, o vento fresco me bagunçando os
cabelos, e a voz tocando nos alto falantes. E a tua presença no meu peito.
Sei que sinto porque mesmo no silêncio absoluto a canção
volta a tocar só para mim. E é impossível não sorrir, é impossível não pensar
em você. Sei que sinto porque no escuro do meu quarto o pensamento corre para
você e a cor dos teus olhos ilumina todo o lugar. Talvez isso seja amor, talvez
seja apenas uma leve demência, talvez eu esteja tão acostumado a guardar o que
sinto que hoje não sei dizer do que se trata. Sinto que eu poderia passar o
resto dos meus dias tentando colocar tudo isso em palavras e nada seria o
bastante.
Não sei o que sinto, mas sei que sinto. Sinto, e muito.
Não sei o que sinto, mas sei que me sentiria um tolo se não
o sentisse.
Por Mariana J.
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