*voz de narrador* AND HERE'S WHAT YOU MISSED ON WRAPPED AROUND YOUR FINGER: Começamos com Allison, uma jovem atriz, que conhecendo Joshua, um jovem empresário e herdeiro de uma considerável fortuna, em uma cafeteria aleatória. Josh, o cara que fuma demais, bebe café demais e é gato demais. Os dois se apaixonam loucamente, Ally entra para uma nova sitcom onde faz amizade com um monte de gente legal, incluindo Tyler que também é super gato e super alto mas isso não vem ao caso. Então Joshua precisa ir embora por motivos de trabalho - e de pai que não entende nada - e Ally fica dia e noite chorando, fumando e tomando café, enquanto sua melhor amiga e fiel escudeira Charlie não sabe como ajudar. As coisas vão piorando até que o relacionamento a distância de Josh e Ally acaba e Joshally is no longer a thing e Tyler se esforça ao máximo (a pedido de Josh) para deixar Allisson feliz e saudável até que: Oops, ninguém escolhe por quem se apaixona e Tally is onn (amizade colorida mas tá valendo). É muito amor, é muita fofura, é muita alegria porém nem tudo são flores e depois de passar a noite na praia na véspera do aniversário de 22 anos de Allison, ela e Ty se envolvem em um acidente de carro e tudo fica muito preocupante por algum tempo. Vai ficar tudo bem, calma.
Agora sim, vamos para a parte 10:
Charlotte
Ashton e eu ainda dormíamos quando meu celular começou a
vibrar na mesa de cabeceira. Rolei mal humorada até que minha mão direita
encontrasse o aparelho. Precisei coçar meus olhos antes de conseguir ler o nome
que brilhava no visor: Tyler.
- Ty? Tá tudo bem? – Em dois segundos eu estava tão acordada
quanto eu estaria se tivesse tomado dez canecas de café. Eu sabia que não estava tudo bem. Tyler não
me ligaria às 8 da manhã se estivesse tudo bem.
- Charlie, eu tô no hospital com a Ally. Nós... Um babaca
bateu no nosso carro no comecinho da manhã e agora a gente tá no UCLA Medical
Center. – A voz de Tyler estava fraca e
tremida, como se estivesse se segurando para não chorar. Nunca o imaginei numa
situação dessas.
Eu não sabia o que fazer. Foi como se por alguns segundos
meu cérebro sofresse um apagão e eu não soubesse lidar com informação nenhuma,
até que como numa explosão tudo veio a tona ao mesmo tempo. Ally estava no
hospital, provavelmente ferida. A minha melhor amiga estava no hospital.
- MAS O QUE ACONTECEU? A ALISSON TÁ BEM? VOCÊ TÁ BEM? ELA TÁ
ACORDADA?
- Eu não sei Charlie, eu não sei o que aconteceu, eu não sei
de onde aquele... – a voz quebrada – A Ally tá fazendo uns exames agora. É
culpa minha, só pode ser, eu tava com sono, devo não ter visto o carro, eu... Eu não sei o que fazer Charlotte.
Ele chorava. E eu chorava. Ashton, meio acordado e meio
dormindo, me olhava preocupado enquanto tentava entender o que acontecia.
- Tyler... Tyler, fica calmo. – respondi com o máximo de
calma que consegui juntar em mim - Os pais da Ally já estão pra chegar no
aeroporto, assim que eles estiverem aqui nós vamos pro hospital. Vai ficar tudo
bem, você me deixa informada de qualquer coisa ok? Respira fundo, vai ficar
tudo bem.
- Me liga se precisar. – Completei antes de largar o
aparelho sobre o colchão e abraçar meus próprios joelhos.
Mesmo com a minha cabeça apoiada em minhas pernas e de olhos
fechados, eu sabia que Ash me observava. Seus braços me puxavam para junto de
seu peito descoberto, suas mãos acariciavam os meus cabelos. Soava como uma
manhã normal para nós dois; exceto que minha melhor amiga e o melhor amigo do
meu namorado haviam sofrido um acidente sobre o qual eu não sabia quase nada.
Só a ideia de que algo de ruim pudesse ter acontecido com Ally, virava meu
estômago de cabeça para baixo.
- Vai se arrumar amor, - Ele me disse antes de me beijar a
testa – eles chegam no aeroporto em uma hora.
- Ei – Ashton disse levantando meu rosto com a ponta dos dedos
– vai ficar tudo bem, eu te prometo ok?
Concordei com a cabeça.
- Você me conta o que aconteceu no caminho. – Completou
antes de me soltar e correr atrás de uma troca de roupa limpa com que pudesse
se vestir.
Tyler
A minha própria voz pedindo que Ally ficasse acordada ainda
ressoava nos meus ouvidos, como se os auto falantes da sala de espera
insistissem em gritar o que eu tentava tanto esquecer. Sentia que todos os
pares de olhos daquele lugar estavam me observando. Mas também pudera, tanto
minha camisa quanto minha calça estavam com grandes manchas de sangue. Tive o
supercílio direito cortado, assim como outro corte de aproximadamente 5
centímetros que chegava quase a alcançar meu coro cabeludo. Por sorte meus
cabelos estavam grandes o suficiente para esconder o corte maior. Ao todo,
foram 12 pontos. E uma costela fraturada.
Queria sair daquela cadeira, encontrar Allison, saber que
ela estava bem, mas não podia. Já havia feito tudo que poderia para matar o
tempo. Repassei todas os cuidados que os médicos responsáveis pelo meu
atendimento me deram, tomei um café (bem ruim, na verdade), falei com os
policiais sobre o acidente e acertei as questões do seguro do meu carro, andei
de um lado para o outro do hospital, telefonei para Charlotte e ainda assim o
tempo parecia se arrastar.
“O que você foi fazer, Tyler?” “Não é porque você tem essas
crises idiotas que você precisa levar a pobre da garota junto”, conseguia ouvir
meu pai dizendo claramente. Ele não poderia ficar sabendo, nosso relacionamento
ficaria ainda pior – se é que isso é possível.
Respirei fundo e senti uma pontada no lado esquerdo do meu
corpo. Já não doía tanto, os analgéticos funcionavam maravilhosamente bem. Com
os cotovelos sobre minhas pernas, escondi meu rosto entre as mãos por alguns segundos;
as pessoas daquela sala já haviam me visto chorar demais para algumas horas. Eu
jurei que cuidaria de Ally, e lá estávamos nós em um hospital. Parte por minha
culpa. Eu poderia ter feito outro caminho. Eu poderia ter olhado para o lado de
onde veio o carro mais uma vez antes de passar. Eu poderia ter levado ela para
casa na noite anterior, ao invés de ter inventado toda aquela história de ir
para a praia de madrugada.
Mas não foi isso que eu fiz.
Já estava exausto por toda essa situação quando um senhor
rechonchudo e de meia idade foi até a cadeira em que eu estava largado,
enquanto arrumava os óculos de grau sobre o nariz arredondado.
- Tyler Hawkins? – O homem me perguntou depois de olhar a
papelada que carregava nas mãos. Fiz que sim com a cabeça enquanto me
levantava. Ele devia ser quase meio metro mais baixo do que eu, resolvi voltar
a sentar depois que apertamos as mãos.
- Allison está bem, fique tranquilo. – o médio me deu um
tapa reconfortante no ombro quando disse isso, e senti como se finalmente
conseguisse respirar novamente – Não houve nenhum trauma cerebral, o desmaio
foi mais pela pancada e estresse do momento do que qualquer outra coisa. Já
fechamos seu corte na testa e no momento estão engessando seu braço. Fora isso
não houve outras fraturas, felizmente.
Então era como se o peso do mundo todo finalmente saísse dos
meus ombros. Já estava me sentindo culpado o suficiente por tudo isso, não
conseguia nem imaginar como conviveria comigo mesmo se algo mais grave tivesse
acontecido com Allison. Não ligava para a minha saúde, nem um pouco, mas só de
imaginá-la sofrendo, eu preferia estar sozinho no carro.
- Pelo o que eu soube do acidente sua amiga teve muita
sorte, se você estivesse dirigindo um pouco mais devagar o outro automóvel teria
acertado o lado do carona em cheio. Provavelmente seria bem pior. – Completou.
- Quando eu posso ver minha namorada doutor? – Minha namorada. Era engraçado me referir
a ela como minha namorada, mas ah... a sensação era maravilhosa.
- Sua... – o senhor sorriu sem graça antes de arrumar os
óculos sem necessidade nenhuma – Me desculpe rapaz, achei que fossem só amigos.
- Nós tentamos isso, - respondi rindo enquanto passava a mão
na nuca – não deu muito certo.
- Vocês formam um belo casal, Hawkins. De qualquer forma –
consultou os papeis que carregava mais uma vez antes de voltar a me olhar –
Allison está no quarto 106. Ela é a única usando o quarto então você pode
entrar se quiser.
Agradeci o homem que com um aceno de cabeça e um sorriso cordial
foi se afastando de onde eu estava sentado, porém após alguns poucos passos,
voltou para minha direção e disse:
- Estou indo para o quarto de sua namorada agora, quer me
acompanhar?
No segundo seguinte eu já estava a caminho do quarto.
Ally
- Pode ser um pouco difícil mas tente ao máximo não molhar o
gesso durante o banho, certo? Enrolar o braço em um saco plástico costuma
funcionar bem. – A ortopedista que me atendera me passava as últimas
recomendações. Ela devia estar na casa dos 40 anos, os cabelos escuros presos
no topo da cabeça, o olhar cansado.
- Daqui a pouco os analgésicos farão efeito e você vai
sentir bastante sono, pode dormir tranquila, certo? Sua dor de cabeça e
muscular vão passar até mais rápido com um pouco de descanso.
Concordei com a cabeça e sorri o máximo que consegui até que
minha atenção se virou para leves batidas na enorme porta branca do quarto. Assim
que ela se abriu eu vi um senhor rechonchudo e de óculos de grau, estender seu
corpo para o interior do local.
- Davies? Posso falar com você aqui fora um pouquinho? –
perguntou sorrindo para a mulher que apoiava a mão no meu ombro. A doutora me
desejou melhoras e confirmou que em algumas horas eu já estaria livre para ir
para casa antes de sair pela porta – Tem uma pessoa aqui querendo muito te ver,
Alisson. – O senhor gordinho completou antes de dar espaço para que Tyler
entrasse.
O médico disse mais alguma coisa antes de sair, mas eu não
consegui prestar atenção.
Assim que Tyler pisou para dentro do cômodo com os olhos
azuis marejados, saltei da cama na qual eu devia descansar. Ele estava bem,
estava inteiro. Com as roupas manchadas de sangue, mas bem. Não sei se alguma
vez ele me abraçara como naquele momento. Seu peito vibrava, os braços fortes
me segurando como se estivesse com medo de me deixar cair, seus lábios beijando
cada milímetro que conseguiam alcançar.
- Me desculpe, me desculpe, me desculpe – ele dizia entre
cada beijo, a voz fraca e rouca.
- Não foi culpa sua. – respondi com a voz tão embargada
quanto a do ruivo. Me lembrei de seu desespero dentro do carro, não largando de
minha mão nem por um segundo. Me lembrei da história que havia me contado
poucas horas antes. Eu poderia não estar naquele hospital no dia do meu
aniversário, mas de alguma forma eu estava grata por isso.
- Eu te amo tanto, Allison Rose O’Callaghan. Tanto. – Tyler
me disse com os olhos avermelhados por culpa das lágrimas, segurando meu rosto
entre suas mãos. Seus polegares delicadamente acariciando minhas bochechas e
secando algumas lágrimas teimosas.
- Eu te amo, Tyler Joseph Hawkins. Demais. – respondi antes
de lhe beijar os lábios com calma – Você pode não acreditar – comentei partindo
o beijo sem me distanciar do rapaz – mas esse foi um dos meus melhores
aniversários.
Ty riu com nossas testas coladas, e eu senti alguma coisa se
debatendo dentro de mim enquanto ele deslizava suas mãos até o cós da minha
calça jeans.
- Fico feliz que você tenha gostado baixinha. Mas ano que
vem acho melhor a gente pular a parte do acidente de carro.
- Se você diz – dei de ombros rindo, sabendo que isso o
faria sorrir.
- Sério, eu tenho que perguntar para Charlie mais tarde que
tipo de desastres aconteceram nos seus últimos aniversários pra esse ser um dos
melhores. – ouvir seu riso me fez esquecer a dor que eu sentia, me fez esquecer
do peso que eu carregava no meu braço direito, me fez esquecer do que havia nos
levado para lá.
- Você é impossível mesmo grandão.
Por sorte a cama do quarto era grande o suficiente para que
nós dois nos deitássemos, bem juntinhos, mas era o bastante. Deitei minha
cabeça sobre o travesseiro ao invés de sobre
peito de Tyler, ele insistia que me apoiasse nele mas eu conseguia
sentir que sua respiração falhava quando o fazia. Apesar do cheiro de hospital
e sangue seco que o ruivo emanava, apesar dos murmúrios que eu escutava do lado
de fora e do som de passos apresados para todo lado, estar deitada ali era
bastante relaxante na verdade. Ty beijava minha testa e fazia carinho na minha
nuca como se minha vida dependesse disso, e talvez por conta dos remédios ou da
noite sem sono algum eu adormeci; provavelmente bem mais depressa do que eu
imagino.
Charlotte
O clima no interior do carro do meu namorado conseguia ser
ainda mais terrível do que eu imaginava. Os pais de Allison quase não falavam
no banco de trás e espiando pelo retrovisor consegui ver que os dois não
soltavam as mãos um do outro. De três em três minutos eu tentava falar com
Tyler mas como sempre, a operadora dizia que ele estava numa área sem sinal.
- Nada? – Ashton sussurrou para mim quando larguei meu
celular sobre meu colo mais uma vez. Neguei com a cabeça antes de apoiar meu
braço direito próximo a janela e deitar minha cabeça nele.
- Já estamos chegando Sr. e Sra. O’Callaghan, tenho certeza
que a filha de vocês está bem. – Ouvi Ash dizer ao meu lado, o tom de voz um
pouco mais alto e mais sorridente do que eu esperava.
- Obrigada querido. – Lauren, mãe da Ally, soltou quase num
suspiro antes de afagar o ombro do motorista – Vocês dois são ótimos, obrigada
por tudo Charlie. – a mulher que me viu crescer soltou afagando meu ombro, a
voz doce de sempre.
- É o mínimo que eu poderia fazer.
***
Depois que finalmente chegamos ao hospital - a meia hora
mais eterna de toda a minha vida - e nossa entrada na emergência foi liberada,
deixei que Lauren e Edward seguissem na frente acompanhados de uma das
enfermeiras; Ashton e eu seguíamos logo atrás.
- Tá tudo bem? - Meu namorado sussurrava em meu ouvido, o
braço tatuado me segurando a cintura. Neguei com a cabeça. – O que tá se
passando nessa sua cabecinha?
Eu precisei respirar fundo antes de voltar a falar.
- Eu sinto que de algum jeito isso é culpa minha – quando
ergui meus olhos, encontrei Ashton com a expressão mais confusa possível – sei
lá, eu sinto que eu poderia ter evitado isso. Quando nós éramos crianças tinha
um grupo de garotas na nossa escola que gostavam de zoar a Ally por causa do
aparelho ortodôntico que ela usava e ela realmente se magoava com isso. E eu
prometi que nunca deixaria que nada a machucasse e agora... Pela primeira vez
ela literalmente se machucou e eu nem estava lá pra ajudar.
Ashton soltou o ar de seus pulmões pesadamente antes de me
puxar para seu peito e me segurar forte, beijando a lateral da minha cabeça. “Eu
sei que é bobo, mas eu fico pensando que se eu estivesse lá isso não teria
acontecido”, soltei com a voz estranha por estar com a bochecha prensada contra
o peito dele.
-Você sabe que não é culpa sua bebê, e se você estivesse
junto o máximo que teria acontecido seria você também estar lá dentro agora.
Não foi culpa sua, não foi culpa do Tyler, foi culpa do babaca do outro carro,
certo? Olha pra mim. – Ashton disse se afastando poucos centímetros de mim e
levantando meu rosto com calma.
- Não tinha como você evitar nada disso, mas isso não
significa que você não pode ajudar. Você já tá ajudando na verdade Charlie e se
tem uma coisa que eu sei é que você nunca deixaria a Ally na mão. – Me disse
com um sorriso de canto de boca e eu tive que sorrir junto.
- E se tem outra coisa que eu sei – ele continuou, me
puxando de volta para ele pela barra da camiseta que eu vestia – é que eu te
amo mais do que tudo. E que você fica linda vestindo roupa minha.
Por vezes Ashton se faz de machão, o tipo “não tenho sentimentos”
e “não ligo pra nada”, mas no fundo esse é ele. Fofo, sempre preocupado comigo
e com qualquer outra pessoa, que me empresta uma camiseta quando eu não consigo
encontrar a que eu estava vestindo antes, que percebe quando alguma coisa está
errada sem que eu precise dizer nada. Ele tem cara de mal, cabelo desgrenhado e
tatuagens, mas tem também um coração enorme e eu sou muito sortuda por ocupar
um espacinho nele.
- Vocês vão entrar? – A enfermeira dizia
Allison
- Sua idiota! – Charlie disse logo após ter colocados os pés no quarto em que eu estava, seus olhos estavam
marejados mas a garota sorria mesmo assim – Você quase me matou do coração.
Disse vindo em minha direção com os braços preparados para
um abraço que saiu meio desengonçado já que eu tinha um dos meus braços
imobilizados junto do meu corpo. Ashton me abraçou com força até me levantar
alguns centímetros do chão. “Vou querer assinar isso aí depois, ok?” sussurrou
no meu ouvido quando voltou a me por no chão. Sabia que meu gesso não ficaria
em branco por muito tempo.
Charlie e Ash me olhavam com as mãos apoiadas na ponta da
cama em que minha mãe e eu estávamos sentadas, enquanto meu pai ficava na
poltrona com Tyler como se estivesse de guarda ao seu lado. Era fofo o quão sem
jeito ele estava de estar junto dos meus pais.
“Mãe, pai, esse é o Tyler” falei depois que consegui
convencer meus pais de que eu estava bem. Ty havia pulado da cama numa
velocidade assustadora assim que meus pais entraram no quarto e parecia não ter
nem piscado nesse meio tempo. “Ele é meu...namorado”, completei segurando a mão
do ruivo que corou instantaneamente. Os olhos de minha mãe passavam do rosto do
meu pai, para sorriso no meu rosto, para as nossas mãos entrelaçadas, para o
jeito que Tyler me observava e de volta ao meu pai em milésimos de segundo.
Ela não disse nada, apenas veio até nós dois em silencio e
com um sorriso no rosto e nos abraçou. Sussurrou alguma coisa para Ty que eu
não consegui entender já que estava sendo esmagada entre os dois, mas meu
namorado – estranho falar assim – afirmou com a cabeça, então acredito que
tenha sido algo bom. Meu pai se limitou a cumprimentar Tyler com um meio
sorriso e um aperto de mão. E mesmo com meu braço quebrado, um machucado no
rosto e as roupas sujas de sangue, eu me sentia estranhamente bem. Talvez
fossem as companhias.
- E quando você vai poder voltar pra casa Ally? Ainda tenho
que fazer o seu bolo.
De volta ao presente, Charlie me perguntava com os braços de
Ashton ao redor do seu corpo esguio.
- Acho que não demoro muito, a médica disse que só precisava
conferir uns papeis, uma meia hora talvez.
- Tyler, querido, você deveria voltar pra casa. – Minha mãe
disse indo de encontro a ele, a voz doce – Você precisa descansar, de noite tem
jantar de aniversário da Ally no apartamento das meninas e a sua presença é
indispensável, certo?
- Já que a minha baixinha – pausa pra deixar claro que eu
derreti ao ouvir o “minha baixinha”-
está em boas mãos agora acho que vou fazer isso mesmo, muito obrigado Sra.
O’Callaghan. Tchau baixinha – ele disse com um sorriso cansado antes de beijar
o topo da minha cabeça, como de costume.
- Sr. e Sra. O’Callaghan, foi um prazer conhecer vocês. –
“Não vá esquecer do jantar, querido” minha mãe falou rápido, fazendo-o rir. –
Não vou esquecer.
Se despediu de Charlotte com um beijo no rosto e virou para
um abraço com Ashton que o interrompeu dizendo:
- Cara, seu carro não foi pra oficina?
- Foi, foi sim, vou pegar um taxi aqui na frente. – Assim
que Charlie abriu a boca para protestar Ashton completou:
- Eu tô com o meu carro aqui cara, eu te deixo em casa, o
taxi vai ficar caro.
- Mas... – Antes que Tyler encontrasse qualquer complicação,
Charlie soltou “Eu volto com os pais da Ally de taxi, o ap é bem mais perto
daqui do que a sua casa, não se preocupa Ty”- Não vai ficar muito fora do seu
caminho cara?
Ty perguntava sem jeito para o amigo que com um tapinha
amistoso nas costas do ruivo, completou antes de trocarem um sorriso:
- Imagina se seria um problema Tyler. Sou seu melhor amigo
ou não?
- O melhor do mundo todo.
Tyler
- Puta merda.
Soltei quando vi a quantidade de ligações perdidas de minha
mãe que apareciam na tela do meu celular. Quatorze ligações.
- O que foi? – Ashton perguntava sentado ao meu lado, o
rosto preocupado porém sem desviar os olhos do trânsito.
- Aparentemente minha mãe descobriu sobre o acidente porque
ela me ligou 14 vezes no celular. Ela nunca liga no meu celular.
Guardei o aparelho no bolso da minha calça manchada
novamente. Ligaria quando chegasse em casa, ela já esperou mais de uma hora, 5
minutos não seria nada. Mick Jagger cantava no rádio mas meu amigo, e grande fã
dos Stone, não o que era bastante estranho. Sei que eu estava sério, também
pudera, não havia dormido nada e ainda me envolvido em um acidente de carro;
mas o silêncio de Ashton estava começando a me preocupar. Assim que eu abri a
boca para perguntar se estava tudo bem, Ash foi mais rápido:
- Você sabe que não é culpa sua né? – Perguntou me olhando
rapidamente. O rosto preocupado.
- Você sabe que quem tava errado era aquele filho da mãe,
né?
Insistiu, me olhando de relance em pequenos intervalos. Não
respondi, apenas respirei fundo e raspei uma das machas de sangue de minha
calça com a ponta da unha. Provavelmente teria que jogá-la fora, o que era uma
pena.
- Até a Charlie tá se sentindo culpada. E eu sei, é loucura
ela estar se sentindo culpada sendo que nem por perto ela estava – Continuou depois
que eu o olhei com o meu mais profundo e sincero olha de “????” – O que eu
quero dizer é: Nenhum de vocês é culpado pelo acidente. Você sabe que fez o que
pode para que isso não acontecesse, mas infelizmente existe muita gente filha
da puta por aí.
Tentei segurar o riso mas foi em vão. Só Ashton conseguia
dar apoio para alguém e xingar ao mesmo tempo. Eu sabia que ele falava sério,
mas talvez pelo sono era difícil não achar graça no seu discurso. Assim que
estacionamos em frente ao prédio em que moro, Ashton me abraçou dando três
tapinhas em minhas costas e completou:
- Agora me faça um favor e tome um banho, você tá fedendo a
sangue seco.
Charlotte
- Charlie?
- Oi?
- Você pode trazer meu celular? – Mal conseguia entender o
que Allison dizia com a cara enfiada em seu travesseiro. Os olhos verdes quase
fechados mas ainda assim queria o celular, maldito vício. – Tá... Na minha
bolsa? Acho que tá.
- Pode deixar que eu encontro, não precisa se preocupar.
Dito isso sai em direção da sala de estar, onde acreditava
que tinha visto Lauren largando a bolsa da filha antes de ir para o hotel. De
fato estava lá. Assim que abri o zíper, senti uma vibração vindo lá de dentro,
porém precisei retirar tudo de dentro para que finalmente encontrasse o
aparelho. Incrível como uma bolsa daquele tamanho conseguia ser tão bagunçada.
A tela do celular de Allison estava abarrotada de notificações.
22 ligações (minhas, vale dizer), um 100+ no ícone do Twitter, e uma notificação
de uma nova mensagem; aquela que fez o interior da bolsa vibrar segundos antes.
O destinatário fez meu coração parar por alguns segundos.
“Feliz aniversário
princesa! Espero que você tenha um dia maravilhoso, assim como uma vida
maravilhosa. Você não merece nada menos do que isso. Saudades do tamanho da distância.
Com amor,
J.”
Li a mensagem incontáveis vezes. Fechei meus olhos e
respirei fundo. Lembrei do estado em que Ally estava poucos meses antes,
lembrei do cheiro de cigarro constante, das noites que a ouvi em prantos em seu
quarto, sem ter como ajudar além de oferecer um ombro amigo. Me lembrei da Ally
do dia anterior, do sorriso que teimava em não sair de seu rosto, lembrei da
forma com que seus olhos se iluminavam quando via Tyler. Eu sabia o que era
melhor para ela. Eu sabia o que tinha que fazer.
Selecionei o botão “deletar
mensagem” e voltei para o quarto de minha amiga.
O que os olhos não veem o coração não sente, certo?
22/12 - noite
Allison
Esse foi oficialmente o melhor aniversário da minha vida.
Gravei um vídeo que estava fazendo um baita sucesso na internet com 3 das
minhas pessoas favoritas, ganhei um ingresso para o show de uma das minhas
cantoras favoritas, passei a noite toda na praia com o cara que eu amo (e
depois sofremos um acidente de carro mas essa parte a gente pula). Meus pais
organizaram um jantar delicioso com meus pratos favoritos e me mimaram o dia
todo e recebi flores e ligações amorosas o dia todo. (minha sogra – uau,
continua estranho – ficou longos minutos me perguntando se eu realmente não
queria que ela cruzasse o país para cuidar de mim e de Tyler.) O apartamento
estava parecendo uma floricultura, sem mentira.
Por conta do imprevisto, Charlie não teve tempo de me
preparar o bolo que queria, mas ainda assim me fez uns 30 cupcakes de chocolate
recheados com manteiga de amendoim (meu favorito), lindamente decorados com
flores de açúcar, um deles com um par de números dois roxos. No fim do dia, eu
não mudaria nada nas últimas 48 horas. Bem, talvez a parte em que quebrei meu
braço, aquele gesso era pesado e meu braço coçava. Mas fora isso, não tinha
motivos para desejar que fosse diferente.
Enquanto meu pai desejava um brinde pelo meu aniversário,
olhei para cada um que estavam sentados àquela mesa e me surpreendi com o
tamanho do afeto que eu sentia por cada um. O quanto eu queria abraçar cada um
deles e agradecer por horas pelo simples fato de existirem. E eu senti saudades
dele, não vou negar. Me perguntei mentalmente se ele lembrara do dia, se havia
pensado em mim, mas rapidamente espantei todas essas perguntas para o mais
longe possível. Tyler estava ali, um dos braços ao redor da minha cintura,
nossas testas coladas, e era só isso que eu precisava.
- Gostou do seu aniversário, baixinha?
- Demais.
Seus olhar estava tão calmo, a voz tão tranquila, como se
fosse adormecer a qualquer instante. Notei então que eu havia decorado a
posição de suas sardas e que seus olhos pareciam mais azuis a cada dia. Depois
de toda a turbulência do dia, estar só nós dois na minha cama, apenas olhando
um para o outro era algo absurdamente calmante.
- O que você achou dos meus pais?
Perguntei fazendo com que Tyler soltasse uma gargalhada.
Aparentemente ele estava pensando na mesma coisa. Eu amo o modo que seu pomo de
Adão meche enquanto ele ri. Eu amo como ele aperta os olhos com força e amo as
ruguinhas que se formam nos cantos deles.
- Sua mãe é uma querida. Seu pai é bem sério, mas é fácil de
ver que ele gosta de entreter as pessoas, me contou uma piada sobre o
descobrimento da América e eu não tenho certeza se eu entendi, mas ri mesmo
assim. – Essa foi a minha vez de gargalhar. Isso era bem típico do meu pai -
Mas sei lá, acho que ele não gosta de mim. NÃO POSSO CULPÁ-LO.
Era incrível como em poucas horas tantas coisas haviam
mudado. Como em alguns meses nosso relacionamento havia se tornado algo que eu
jamais imaginara. Depois de tanto tempo eu me sentia tão profundamente feliz
que ficava até um pouco preocupada, como se a qualquer momento as coisas fossem
ralo abaixo novamente. Não sei se eu conseguiria perder Tyler como havia
perdido Joshua. Não queria. Não me permitiria.
- Você não tem medo?
Soltei aleatoriamente enquanto passava a ponta do meu dedo
indicador pelo peito de Tyler, jogando um “ligue os pontos” imaginário com suas
sardas.
- Que seu pai não goste de mim e esteja planejando uma
vingança por ter te envolvido num acidente de carro? Muito.
Me senti tão boba que desejei poder guardar aquelas palavras
de volta na minha boca. E as que eu disse em sequência também.
- Você não tem medo disso?
– Continuei enquanto apontava rapidamente de seu peito para mim – Você não tem
medo de não darmos certo?
Tyler respirou fundo. Reconheci seu olhar, era o mesmo de
quando perguntei o que nós seríamos depois do que aconteceu em sua festa de
aniversário.
- Não. - Por fim me deu um sorriso de canto de boca antes de
puxar uma longa mecha do meu cabelo para trás de minha orelha esquerda – Eu não
sei como a vida vai ser daqui uma semana. Um mês, muito menos daqui dez horas,
mas eu sei que eu te amo. E eu sei que você me ama, o que é incrível, mas mesmo
se você não sentisse o mesmo por mim eu continuaria te amando.
Então deitou a cabeça no mesmo travesseiro em que eu deitava
a minha, o movimento de seus cílios gerando uma brisa leve em meu rosto.
- É claro que eu me preocupo com o futuro, e me pergunto
como seria se eu tivesse te conhecido um pouquinho antes, mas no fim nada disso
importa. Eu continuo te amando e vou continuar mesmo que você se canse de mim.
- Deus do céu, eu tenho ou não tenho o melhor namorado do
mundo? – Disse rindo em direção ao teto do meu quarto.
- Tem sim. E eu tenho a melhor namorada.
- Isso é verdade. – Respondi antes que Tyler passasse seu
braço ao meu lado para que ficasse com o rosto sobre o meu antes de me beijar
os lábios. Bem, se estou vivendo um sonho por favor não me acordem.
Por Mariana J.
n/a parte 2: PARTE 10 GENTE!!!!!!!!!!!! Sério, eu achava que ia acabar essa história quando chegasse na 10 mas na verdade tem tanto chão ainda, vocês vão ter que me aguentar por um tempo. Juro que vou tentar não demorar 3 meses para atualizar a história de novo, mas vocês sabem como é, bloqueio criativo + último ano de faculdade é pesado. Deixo vocês com a música desse capítulo. Sim, é Taylor Swift de novo.