terça-feira, 21 de abril de 2015

Everything has changed

n/a: Eu demorei infinitamente mais do que eu planejava para escrever a sequência da última parte de WAYF que eu postei então me sinto na obrigação de fazer uma breve recapitulada da história até agora, caso você esteja meio perdido. E caso você não tenha lido a parte 9 faça isso já, não quero te dar spoilers. Então lá vamos nós:
*voz de narrador* AND HERE'S WHAT YOU MISSED ON WRAPPED AROUND YOUR FINGER: Começamos com Allison, uma jovem atriz, que conhecendo Joshua, um jovem empresário e herdeiro de uma considerável fortuna, em uma cafeteria aleatória. Josh, o cara que fuma demais, bebe café demais e é gato demais. Os dois se apaixonam loucamente, Ally entra para uma nova sitcom onde faz amizade com um monte de gente legal, incluindo Tyler que também é super gato e super alto mas isso não vem ao caso. Então Joshua precisa ir embora por motivos de trabalho - e de pai que não entende nada - e Ally fica dia e noite chorando, fumando e tomando café, enquanto sua melhor amiga e fiel escudeira Charlie não sabe como ajudar. As coisas vão piorando até que o relacionamento a distância de Josh e Ally acaba e Joshally is no longer a thing e Tyler se esforça ao máximo (a pedido de Josh) para deixar Allisson feliz e saudável até que: Oops, ninguém escolhe por quem se apaixona e Tally is onn (amizade colorida mas tá valendo). É muito amor, é muita fofura, é muita alegria porém nem tudo são flores e depois de passar a noite na praia na véspera do aniversário de 22 anos de Allison, ela e Ty se envolvem em um acidente de carro e tudo fica muito preocupante por algum tempo. Vai ficar tudo bem, calma.
Agora sim, vamos para a parte 10:



Charlotte
Ashton e eu ainda dormíamos quando meu celular começou a vibrar na mesa de cabeceira. Rolei mal humorada até que minha mão direita encontrasse o aparelho. Precisei coçar meus olhos antes de conseguir ler o nome que brilhava no visor: Tyler.
- Ty? Tá tudo bem? – Em dois segundos eu estava tão acordada quanto eu estaria se tivesse tomado dez canecas de café.  Eu sabia que não estava tudo bem. Tyler não me ligaria às 8 da manhã se estivesse tudo bem.
- Charlie, eu tô no hospital com a Ally. Nós... Um babaca bateu no nosso carro no comecinho da manhã e agora a gente tá no UCLA Medical Center.  – A voz de Tyler estava fraca e tremida, como se estivesse se segurando para não chorar. Nunca o imaginei numa situação dessas.
Eu não sabia o que fazer. Foi como se por alguns segundos meu cérebro sofresse um apagão e eu não soubesse lidar com informação nenhuma, até que como numa explosão tudo veio a tona ao mesmo tempo. Ally estava no hospital, provavelmente ferida. A minha melhor amiga estava no hospital. 
- MAS O QUE ACONTECEU? A ALISSON TÁ BEM? VOCÊ TÁ BEM? ELA TÁ ACORDADA?
- Eu não sei Charlie, eu não sei o que aconteceu, eu não sei de onde aquele... – a voz quebrada – A Ally tá fazendo uns exames agora. É culpa minha, só pode ser, eu tava com sono, devo não ter visto o carro, eu... Eu não sei o que fazer Charlotte.  
Ele chorava. E eu chorava. Ashton, meio acordado e meio dormindo, me olhava preocupado enquanto tentava entender o que acontecia.
- Tyler... Tyler, fica calmo. – respondi com o máximo de calma que consegui juntar em mim - Os pais da Ally já estão pra chegar no aeroporto, assim que eles estiverem aqui nós vamos pro hospital. Vai ficar tudo bem, você me deixa informada de qualquer coisa ok? Respira fundo, vai ficar tudo bem.
- Me liga se precisar. – Completei antes de largar o aparelho sobre o colchão e abraçar meus próprios joelhos.
Mesmo com a minha cabeça apoiada em minhas pernas e de olhos fechados, eu sabia que Ash me observava. Seus braços me puxavam para junto de seu peito descoberto, suas mãos acariciavam os meus cabelos. Soava como uma manhã normal para nós dois; exceto que minha melhor amiga e o melhor amigo do meu namorado haviam sofrido um acidente sobre o qual eu não sabia quase nada. Só a ideia de que algo de ruim pudesse ter acontecido com Ally, virava meu estômago de cabeça para baixo.
- Vai se arrumar amor, - Ele me disse antes de me beijar a testa – eles chegam no aeroporto em uma hora.
- Ei – Ashton disse levantando meu rosto com a ponta dos dedos – vai ficar tudo bem, eu te prometo ok?
Concordei com a cabeça.
- Você me conta o que aconteceu no caminho. – Completou antes de me soltar e correr atrás de uma troca de roupa limpa com que pudesse se vestir.

Tyler
A minha própria voz pedindo que Ally ficasse acordada ainda ressoava nos meus ouvidos, como se os auto falantes da sala de espera insistissem em gritar o que eu tentava tanto esquecer. Sentia que todos os pares de olhos daquele lugar estavam me observando. Mas também pudera, tanto minha camisa quanto minha calça estavam com grandes manchas de sangue. Tive o supercílio direito cortado, assim como outro corte de aproximadamente 5 centímetros que chegava quase a alcançar meu coro cabeludo. Por sorte meus cabelos estavam grandes o suficiente para esconder o corte maior. Ao todo, foram 12 pontos. E uma costela fraturada.
Queria sair daquela cadeira, encontrar Allison, saber que ela estava bem, mas não podia. Já havia feito tudo que poderia para matar o tempo. Repassei todas os cuidados que os médicos responsáveis pelo meu atendimento me deram, tomei um café (bem ruim, na verdade), falei com os policiais sobre o acidente e acertei as questões do seguro do meu carro, andei de um lado para o outro do hospital, telefonei para Charlotte e ainda assim o tempo parecia se arrastar.
“O que você foi fazer, Tyler?” “Não é porque você tem essas crises idiotas que você precisa levar a pobre da garota junto”, conseguia ouvir meu pai dizendo claramente. Ele não poderia ficar sabendo, nosso relacionamento ficaria ainda pior – se é que isso é possível.
Respirei fundo e senti uma pontada no lado esquerdo do meu corpo. Já não doía tanto, os analgéticos funcionavam maravilhosamente bem. Com os cotovelos sobre minhas pernas, escondi meu rosto entre as mãos por alguns segundos; as pessoas daquela sala já haviam me visto chorar demais para algumas horas. Eu jurei que cuidaria de Ally, e lá estávamos nós em um hospital. Parte por minha culpa. Eu poderia ter feito outro caminho. Eu poderia ter olhado para o lado de onde veio o carro mais uma vez antes de passar. Eu poderia ter levado ela para casa na noite anterior, ao invés de ter inventado toda aquela história de ir para a praia de madrugada.
Mas não foi isso que eu fiz. 

Já estava exausto por toda essa situação quando um senhor rechonchudo e de meia idade foi até a cadeira em que eu estava largado, enquanto arrumava os óculos de grau sobre o nariz arredondado.
- Tyler Hawkins? – O homem me perguntou depois de olhar a papelada que carregava nas mãos. Fiz que sim com a cabeça enquanto me levantava. Ele devia ser quase meio metro mais baixo do que eu, resolvi voltar a sentar depois que apertamos as mãos.
- Allison está bem, fique tranquilo. – o médio me deu um tapa reconfortante no ombro quando disse isso, e senti como se finalmente conseguisse respirar novamente – Não houve nenhum trauma cerebral, o desmaio foi mais pela pancada e estresse do momento do que qualquer outra coisa. Já fechamos seu corte na testa e no momento estão engessando seu braço. Fora isso não houve outras fraturas, felizmente.
Então era como se o peso do mundo todo finalmente saísse dos meus ombros. Já estava me sentindo culpado o suficiente por tudo isso, não conseguia nem imaginar como conviveria comigo mesmo se algo mais grave tivesse acontecido com Allison. Não ligava para a minha saúde, nem um pouco, mas só de imaginá-la sofrendo, eu preferia estar sozinho no carro.
- Pelo o que eu soube do acidente sua amiga teve muita sorte, se você estivesse dirigindo um pouco mais devagar o outro automóvel teria acertado o lado do carona em cheio. Provavelmente seria bem pior. – Completou.
- Quando eu posso ver minha namorada doutor? – Minha namorada. Era engraçado me referir a ela como minha namorada, mas ah... a sensação era maravilhosa.
- Sua... – o senhor sorriu sem graça antes de arrumar os óculos sem necessidade nenhuma – Me desculpe rapaz, achei que fossem só amigos.
- Nós tentamos isso, - respondi rindo enquanto passava a mão na nuca – não deu muito certo.
- Vocês formam um belo casal, Hawkins. De qualquer forma – consultou os papeis que carregava mais uma vez antes de voltar a me olhar – Allison está no quarto 106. Ela é a única usando o quarto então você pode entrar se quiser.
Agradeci o homem que com um aceno de cabeça e um sorriso cordial foi se afastando de onde eu estava sentado, porém após alguns poucos passos, voltou para minha direção e disse:
- Estou indo para o quarto de sua namorada agora, quer me acompanhar?
No segundo seguinte eu já estava a caminho do quarto.

Ally
- Pode ser um pouco difícil mas tente ao máximo não molhar o gesso durante o banho, certo? Enrolar o braço em um saco plástico costuma funcionar bem. – A ortopedista que me atendera me passava as últimas recomendações. Ela devia estar na casa dos 40 anos, os cabelos escuros presos no topo da cabeça, o olhar cansado.
- Daqui a pouco os analgésicos farão efeito e você vai sentir bastante sono, pode dormir tranquila, certo? Sua dor de cabeça e muscular vão passar até mais rápido com um pouco de descanso.
Concordei com a cabeça e sorri o máximo que consegui até que minha atenção se virou para leves batidas na enorme porta branca do quarto. Assim que ela se abriu eu vi um senhor rechonchudo e de óculos de grau, estender seu corpo para o interior do local.
- Davies? Posso falar com você aqui fora um pouquinho? – perguntou sorrindo para a mulher que apoiava a mão no meu ombro. A doutora me desejou melhoras e confirmou que em algumas horas eu já estaria livre para ir para casa antes de sair pela porta – Tem uma pessoa aqui querendo muito te ver, Alisson. – O senhor gordinho completou antes de dar espaço para que Tyler entrasse.
O médico disse mais alguma coisa antes de sair, mas eu não consegui prestar atenção.
Assim que Tyler pisou para dentro do cômodo com os olhos azuis marejados, saltei da cama na qual eu devia descansar. Ele estava bem, estava inteiro. Com as roupas manchadas de sangue, mas bem. Não sei se alguma vez ele me abraçara como naquele momento. Seu peito vibrava, os braços fortes me segurando como se estivesse com medo de me deixar cair, seus lábios beijando cada milímetro que conseguiam alcançar.
- Me desculpe, me desculpe, me desculpe – ele dizia entre cada beijo, a voz fraca e rouca.
- Não foi culpa sua. – respondi com a voz tão embargada quanto a do ruivo. Me lembrei de seu desespero dentro do carro, não largando de minha mão nem por um segundo. Me lembrei da história que havia me contado poucas horas antes. Eu poderia não estar naquele hospital no dia do meu aniversário, mas de alguma forma eu estava grata por isso.
- Eu te amo tanto, Allison Rose O’Callaghan. Tanto. – Tyler me disse com os olhos avermelhados por culpa das lágrimas, segurando meu rosto entre suas mãos. Seus polegares delicadamente acariciando minhas bochechas e secando algumas lágrimas teimosas.
- Eu te amo, Tyler Joseph Hawkins. Demais. – respondi antes de lhe beijar os lábios com calma – Você pode não acreditar – comentei partindo o beijo sem me distanciar do rapaz – mas esse foi um dos meus melhores aniversários.
Ty riu com nossas testas coladas, e eu senti alguma coisa se debatendo dentro de mim enquanto ele deslizava suas mãos até o cós da minha calça jeans.
- Fico feliz que você tenha gostado baixinha. Mas ano que vem acho melhor a gente pular a parte do acidente de carro.
- Se você diz – dei de ombros rindo, sabendo que isso o faria sorrir.
- Sério, eu tenho que perguntar para Charlie mais tarde que tipo de desastres aconteceram nos seus últimos aniversários pra esse ser um dos melhores. – ouvir seu riso me fez esquecer a dor que eu sentia, me fez esquecer do peso que eu carregava no meu braço direito, me fez esquecer do que havia nos levado para lá.
- Você é impossível mesmo grandão.
Por sorte a cama do quarto era grande o suficiente para que nós dois nos deitássemos, bem juntinhos, mas era o bastante. Deitei minha cabeça sobre o travesseiro ao invés de sobre  peito de Tyler, ele insistia que me apoiasse nele mas eu conseguia sentir que sua respiração falhava quando o fazia. Apesar do cheiro de hospital e sangue seco que o ruivo emanava, apesar dos murmúrios que eu escutava do lado de fora e do som de passos apresados para todo lado, estar deitada ali era bastante relaxante na verdade. Ty beijava minha testa e fazia carinho na minha nuca como se minha vida dependesse disso, e talvez por conta dos remédios ou da noite sem sono algum eu adormeci; provavelmente bem mais depressa do que eu imagino.

Charlotte
O clima no interior do carro do meu namorado conseguia ser ainda mais terrível do que eu imaginava. Os pais de Allison quase não falavam no banco de trás e espiando pelo retrovisor consegui ver que os dois não soltavam as mãos um do outro. De três em três minutos eu tentava falar com Tyler mas como sempre, a operadora dizia que ele estava numa área sem sinal.
- Nada? – Ashton sussurrou para mim quando larguei meu celular sobre meu colo mais uma vez. Neguei com a cabeça antes de apoiar meu braço direito próximo a janela e deitar minha cabeça nele.
- Já estamos chegando Sr. e Sra. O’Callaghan, tenho certeza que a filha de vocês está bem. – Ouvi Ash dizer ao meu lado, o tom de voz um pouco mais alto e mais sorridente do que eu esperava.
- Obrigada querido. – Lauren, mãe da Ally, soltou quase num suspiro antes de afagar o ombro do motorista – Vocês dois são ótimos, obrigada por tudo Charlie. – a mulher que me viu crescer soltou afagando meu ombro, a voz doce de sempre.
- É o mínimo que eu poderia fazer.
***
Depois que finalmente chegamos ao hospital - a meia hora mais eterna de toda a minha vida - e nossa entrada na emergência foi liberada, deixei que Lauren e Edward seguissem na frente acompanhados de uma das enfermeiras; Ashton e eu seguíamos logo atrás.
- Tá tudo bem? - Meu namorado sussurrava em meu ouvido, o braço tatuado me segurando a cintura. Neguei com a cabeça. – O que tá se passando nessa sua cabecinha?
Eu precisei respirar fundo antes de voltar a falar.
- Eu sinto que de algum jeito isso é culpa minha – quando ergui meus olhos, encontrei Ashton com a expressão mais confusa possível – sei lá, eu sinto que eu poderia ter evitado isso. Quando nós éramos crianças tinha um grupo de garotas na nossa escola que gostavam de zoar a Ally por causa do aparelho ortodôntico que ela usava e ela realmente se magoava com isso. E eu prometi que nunca deixaria que nada a machucasse e agora... Pela primeira vez ela literalmente se machucou e eu nem estava lá pra ajudar.
Ashton soltou o ar de seus pulmões pesadamente antes de me puxar para seu peito e me segurar forte, beijando a lateral da minha cabeça. “Eu sei que é bobo, mas eu fico pensando que se eu estivesse lá isso não teria acontecido”, soltei com a voz estranha por estar com a bochecha prensada contra o peito dele.
-Você sabe que não é culpa sua bebê, e se você estivesse junto o máximo que teria acontecido seria você também estar lá dentro agora. Não foi culpa sua, não foi culpa do Tyler, foi culpa do babaca do outro carro, certo? Olha pra mim. – Ashton disse se afastando poucos centímetros de mim e levantando meu rosto com calma.
- Não tinha como você evitar nada disso, mas isso não significa que você não pode ajudar. Você já tá ajudando na verdade Charlie e se tem uma coisa que eu sei é que você nunca deixaria a Ally na mão. – Me disse com um sorriso de canto de boca e eu tive que sorrir junto.
- E se tem outra coisa que eu sei – ele continuou, me puxando de volta para ele pela barra da camiseta que eu vestia – é que eu te amo mais do que tudo. E que você fica linda vestindo roupa minha.
Por vezes Ashton se faz de machão, o tipo “não tenho sentimentos” e “não ligo pra nada”, mas no fundo esse é ele. Fofo, sempre preocupado comigo e com qualquer outra pessoa, que me empresta uma camiseta quando eu não consigo encontrar a que eu estava vestindo antes, que percebe quando alguma coisa está errada sem que eu precise dizer nada. Ele tem cara de mal, cabelo desgrenhado e tatuagens, mas tem também um coração enorme e eu sou muito sortuda por ocupar um espacinho nele.
- Vocês vão entrar? – A enfermeira dizia

Allison
- Sua idiota! – Charlie disse logo após ter colocados os pés no quarto em que eu estava, seus olhos estavam marejados mas a garota sorria mesmo assim – Você quase me matou do coração.
Disse vindo em minha direção com os braços preparados para um abraço que saiu meio desengonçado já que eu tinha um dos meus braços imobilizados junto do meu corpo. Ashton me abraçou com força até me levantar alguns centímetros do chão. “Vou querer assinar isso aí depois, ok?” sussurrou no meu ouvido quando voltou a me por no chão. Sabia que meu gesso não ficaria em branco por muito tempo.
Charlie e Ash me olhavam com as mãos apoiadas na ponta da cama em que minha mãe e eu estávamos sentadas, enquanto meu pai ficava na poltrona com Tyler como se estivesse de guarda ao seu lado. Era fofo o quão sem jeito ele estava de estar junto dos meus pais.
“Mãe, pai, esse é o Tyler” falei depois que consegui convencer meus pais de que eu estava bem. Ty havia pulado da cama numa velocidade assustadora assim que meus pais entraram no quarto e parecia não ter nem piscado nesse meio tempo. “Ele é meu...namorado”, completei segurando a mão do ruivo que corou instantaneamente. Os olhos de minha mãe passavam do rosto do meu pai, para sorriso no meu rosto, para as nossas mãos entrelaçadas, para o jeito que Tyler me observava e de volta ao meu pai em milésimos de segundo.
Ela não disse nada, apenas veio até nós dois em silencio e com um sorriso no rosto e nos abraçou. Sussurrou alguma coisa para Ty que eu não consegui entender já que estava sendo esmagada entre os dois, mas meu namorado – estranho falar assim – afirmou com a cabeça, então acredito que tenha sido algo bom. Meu pai se limitou a cumprimentar Tyler com um meio sorriso e um aperto de mão. E mesmo com meu braço quebrado, um machucado no rosto e as roupas sujas de sangue, eu me sentia estranhamente bem. Talvez fossem as companhias.
- E quando você vai poder voltar pra casa Ally? Ainda tenho que fazer o seu bolo.
De volta ao presente, Charlie me perguntava com os braços de Ashton ao redor do seu corpo esguio.
- Acho que não demoro muito, a médica disse que só precisava conferir uns papeis, uma meia hora talvez.
- Tyler, querido, você deveria voltar pra casa. – Minha mãe disse indo de encontro a ele, a voz doce – Você precisa descansar, de noite tem jantar de aniversário da Ally no apartamento das meninas e a sua presença é indispensável, certo?
- Já que a minha baixinha – pausa pra deixar claro que eu derreti ao ouvir o “minha baixinha”- está em boas mãos agora acho que vou fazer isso mesmo, muito obrigado Sra. O’Callaghan. Tchau baixinha – ele disse com um sorriso cansado antes de beijar o topo da minha cabeça, como de costume.
- Sr. e Sra. O’Callaghan, foi um prazer conhecer vocês. – “Não vá esquecer do jantar, querido” minha mãe falou rápido, fazendo-o rir. – Não vou esquecer.
Se despediu de Charlotte com um beijo no rosto e virou para um abraço com Ashton que o interrompeu dizendo:
- Cara, seu carro não foi pra oficina?
- Foi, foi sim, vou pegar um taxi aqui na frente. – Assim que Charlie abriu a boca para protestar Ashton completou:
- Eu tô com o meu carro aqui cara, eu te deixo em casa, o taxi vai ficar caro.
- Mas... – Antes que Tyler encontrasse qualquer complicação, Charlie soltou “Eu volto com os pais da Ally de taxi, o ap é bem mais perto daqui do que a sua casa, não se preocupa Ty”- Não vai ficar muito fora do seu caminho cara?
Ty perguntava sem jeito para o amigo que com um tapinha amistoso nas costas do ruivo, completou antes de trocarem um sorriso:
- Imagina se seria um problema Tyler. Sou seu melhor amigo ou não?
- O melhor do mundo todo.

Tyler
- Puta merda.
Soltei quando vi a quantidade de ligações perdidas de minha mãe que apareciam na tela do meu celular. Quatorze ligações.
- O que foi? – Ashton perguntava sentado ao meu lado, o rosto preocupado porém sem desviar os olhos do trânsito.
- Aparentemente minha mãe descobriu sobre o acidente porque ela me ligou 14 vezes no celular. Ela nunca liga no meu celular.
Guardei o aparelho no bolso da minha calça manchada novamente. Ligaria quando chegasse em casa, ela já esperou mais de uma hora, 5 minutos não seria nada. Mick Jagger cantava no rádio mas meu amigo, e grande fã dos Stone, não o que era bastante estranho. Sei que eu estava sério, também pudera, não havia dormido nada e ainda me envolvido em um acidente de carro; mas o silêncio de Ashton estava começando a me preocupar. Assim que eu abri a boca para perguntar se estava tudo bem, Ash foi mais rápido:
- Você sabe que não é culpa sua né? – Perguntou me olhando rapidamente. O rosto preocupado.
- Você sabe que quem tava errado era aquele filho da mãe, né?
Insistiu, me olhando de relance em pequenos intervalos. Não respondi, apenas respirei fundo e raspei uma das machas de sangue de minha calça com a ponta da unha. Provavelmente teria que jogá-la fora, o que era uma pena.
- Até a Charlie tá se sentindo culpada. E eu sei, é loucura ela estar se sentindo culpada sendo que nem por perto ela estava – Continuou depois que eu o olhei com o meu mais profundo e sincero olha de “????” – O que eu quero dizer é: Nenhum de vocês é culpado pelo acidente. Você sabe que fez o que pode para que isso não acontecesse, mas infelizmente existe muita gente filha da puta por aí.
Tentei segurar o riso mas foi em vão. Só Ashton conseguia dar apoio para alguém e xingar ao mesmo tempo. Eu sabia que ele falava sério, mas talvez pelo sono era difícil não achar graça no seu discurso. Assim que estacionamos em frente ao prédio em que moro, Ashton me abraçou dando três tapinhas em minhas costas e completou:
- Agora me faça um favor e tome um banho, você tá fedendo a sangue seco.


Charlotte
- Charlie?
- Oi?
- Você pode trazer meu celular? – Mal conseguia entender o que Allison dizia com a cara enfiada em seu travesseiro. Os olhos verdes quase fechados mas ainda assim queria o celular, maldito vício. – Tá... Na minha bolsa? Acho que tá.
- Pode deixar que eu encontro, não precisa se preocupar.
Dito isso sai em direção da sala de estar, onde acreditava que tinha visto Lauren largando a bolsa da filha antes de ir para o hotel. De fato estava lá. Assim que abri o zíper, senti uma vibração vindo lá de dentro, porém precisei retirar tudo de dentro para que finalmente encontrasse o aparelho. Incrível como uma bolsa daquele tamanho conseguia ser tão bagunçada.
A tela do celular de Allison estava abarrotada de notificações. 22 ligações (minhas, vale dizer), um 100+ no ícone do Twitter, e uma notificação de uma nova mensagem; aquela que fez o interior da bolsa vibrar segundos antes. O destinatário fez meu coração parar por alguns segundos.

“Feliz aniversário princesa! Espero que você tenha um dia maravilhoso, assim como uma vida maravilhosa. Você não merece nada menos do que isso. Saudades do tamanho da distância.
Com amor,
J.”

Li a mensagem incontáveis vezes. Fechei meus olhos e respirei fundo. Lembrei do estado em que Ally estava poucos meses antes, lembrei do cheiro de cigarro constante, das noites que a ouvi em prantos em seu quarto, sem ter como ajudar além de oferecer um ombro amigo. Me lembrei da Ally do dia anterior, do sorriso que teimava em não sair de seu rosto, lembrei da forma com que seus olhos se iluminavam quando via Tyler. Eu sabia o que era melhor para ela. Eu sabia o que tinha que fazer.
Selecionei o botão “deletar mensagem” e voltei para o quarto de minha amiga.
O que os olhos não veem o coração não sente, certo?


22/12 - noite
Allison
Esse foi oficialmente o melhor aniversário da minha vida. Gravei um vídeo que estava fazendo um baita sucesso na internet com 3 das minhas pessoas favoritas, ganhei um ingresso para o show de uma das minhas cantoras favoritas, passei a noite toda na praia com o cara que eu amo (e depois sofremos um acidente de carro mas essa parte a gente pula). Meus pais organizaram um jantar delicioso com meus pratos favoritos e me mimaram o dia todo e recebi flores e ligações amorosas o dia todo. (minha sogra – uau, continua estranho – ficou longos minutos me perguntando se eu realmente não queria que ela cruzasse o país para cuidar de mim e de Tyler.) O apartamento estava parecendo uma floricultura, sem mentira.
Por conta do imprevisto, Charlie não teve tempo de me preparar o bolo que queria, mas ainda assim me fez uns 30 cupcakes de chocolate recheados com manteiga de amendoim (meu favorito), lindamente decorados com flores de açúcar, um deles com um par de números dois roxos. No fim do dia, eu não mudaria nada nas últimas 48 horas. Bem, talvez a parte em que quebrei meu braço, aquele gesso era pesado e meu braço coçava. Mas fora isso, não tinha motivos para desejar que fosse diferente.
Enquanto meu pai desejava um brinde pelo meu aniversário, olhei para cada um que estavam sentados àquela mesa e me surpreendi com o tamanho do afeto que eu sentia por cada um. O quanto eu queria abraçar cada um deles e agradecer por horas pelo simples fato de existirem. E eu senti saudades dele, não vou negar. Me perguntei mentalmente se ele lembrara do dia, se havia pensado em mim, mas rapidamente espantei todas essas perguntas para o mais longe possível. Tyler estava ali, um dos braços ao redor da minha cintura, nossas testas coladas, e era só isso que eu precisava.
- Gostou do seu aniversário, baixinha?
- Demais.
Seus olhar estava tão calmo, a voz tão tranquila, como se fosse adormecer a qualquer instante. Notei então que eu havia decorado a posição de suas sardas e que seus olhos pareciam mais azuis a cada dia. Depois de toda a turbulência do dia, estar só nós dois na minha cama, apenas olhando um para o outro era algo absurdamente calmante.
- O que você achou dos meus pais?
Perguntei fazendo com que Tyler soltasse uma gargalhada. Aparentemente ele estava pensando na mesma coisa. Eu amo o modo que seu pomo de Adão meche enquanto ele ri. Eu amo como ele aperta os olhos com força e amo as ruguinhas que se formam nos cantos deles.
- Sua mãe é uma querida. Seu pai é bem sério, mas é fácil de ver que ele gosta de entreter as pessoas, me contou uma piada sobre o descobrimento da América e eu não tenho certeza se eu entendi, mas ri mesmo assim. – Essa foi a minha vez de gargalhar. Isso era bem típico do meu pai - Mas sei lá, acho que ele não gosta de mim. NÃO POSSO CULPÁ-LO.
Era incrível como em poucas horas tantas coisas haviam mudado. Como em alguns meses nosso relacionamento havia se tornado algo que eu jamais imaginara. Depois de tanto tempo eu me sentia tão profundamente feliz que ficava até um pouco preocupada, como se a qualquer momento as coisas fossem ralo abaixo novamente. Não sei se eu conseguiria perder Tyler como havia perdido Joshua. Não queria. Não me permitiria.
- Você não tem medo?
Soltei aleatoriamente enquanto passava a ponta do meu dedo indicador pelo peito de Tyler, jogando um “ligue os pontos” imaginário com suas sardas.
- Que seu pai não goste de mim e esteja planejando uma vingança por ter te envolvido num acidente de carro? Muito.
Me senti tão boba que desejei poder guardar aquelas palavras de volta na minha boca. E as que eu disse em sequência também.
- Você não tem medo disso? – Continuei enquanto apontava rapidamente de seu peito para mim – Você não tem medo de não darmos certo?
Tyler respirou fundo. Reconheci seu olhar, era o mesmo de quando perguntei o que nós seríamos depois do que aconteceu em sua festa de aniversário.
- Não. - Por fim me deu um sorriso de canto de boca antes de puxar uma longa mecha do meu cabelo para trás de minha orelha esquerda – Eu não sei como a vida vai ser daqui uma semana. Um mês, muito menos daqui dez horas, mas eu sei que eu te amo. E eu sei que você me ama, o que é incrível, mas mesmo se você não sentisse o mesmo por mim eu continuaria te amando.
Então deitou a cabeça no mesmo travesseiro em que eu deitava a minha, o movimento de seus cílios gerando uma brisa leve em meu rosto.
- É claro que eu me preocupo com o futuro, e me pergunto como seria se eu tivesse te conhecido um pouquinho antes, mas no fim nada disso importa. Eu continuo te amando e vou continuar mesmo que você se canse de mim.
- Deus do céu, eu tenho ou não tenho o melhor namorado do mundo? – Disse rindo em direção ao teto do meu quarto.
- Tem sim. E eu tenho a melhor namorada.
- Isso é verdade. – Respondi antes que Tyler passasse seu braço ao meu lado para que ficasse com o rosto sobre o meu antes de me beijar os lábios. Bem, se estou vivendo um sonho por favor não me acordem.

Por Mariana J.


n/a parte 2: PARTE 10 GENTE!!!!!!!!!!!! Sério, eu achava que ia acabar essa história quando chegasse na 10 mas na verdade tem tanto chão ainda, vocês vão ter que me aguentar por um tempo. Juro que vou tentar não demorar 3 meses para atualizar a história de novo, mas vocês sabem como é, bloqueio criativo + último ano de faculdade é pesado. Deixo vocês com a música desse capítulo. Sim, é Taylor Swift de novo.



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Lembranças de outubro

Por alguns segundos foi como se estivéssemos completamente sozinhos.  Eu nada entendia das conversas ao nosso redor, e também pouco me importava. Ela estava vindo na minha direção e tudo parecia acontecer em câmera lenta, talvez pela minha noite mal dormida ou pelo excesso de remédio para gripe.
Seus olhos estavam cansados, o olhar disperso, os ombros magros levemente pendendo para frente. Por alguns segundos eu realmente acreditei que ela passaria por mim sem se dar conta de que eu estava parado ali e senti uma pontada de tristeza, mesmo que nada tivesse acontecido. Que tolo eu fui. Assim que aquele par de olhos cor de céu de manhã cedo encontraram os meus e seus lábios formaram um sorriso cansado, eu soube o quão sortudo eu era.  Sortudo porque ela passara por todos os outros de cabeça baixa. Sortudo porque vi naqueles olhos o brilho que sempre me cativou. Sortudo por ser o único a receber aquele sorriso.
E mesmo que suas mãos não funcionassem como deveriam, mesmo que ela não estivesse nos seus melhores dias ou que seu sorriso abrisse um pouco menos do que de costume, continuava sendo ela. Era ela, e eu continuava apaixonado por seus cabelos escuros, pela textura de suas mãos no meu rosto, pelo seu riso. Era ela e eu continuava encantado pelo jeito que ela andava, mexendo os ombros. Era ela e eu continuava apaixonado pelo jeito que sempre conseguia criar um sorriso no meu rosto, mesmo que o mundo estivesse desmoronando ao meu redor. Era ela e eu não conseguia controlar meus olhos que insistiam em segui-la enquanto subia as escadas, para longe de todas aquelas conversas. Era ela, mesmo que não emanasse o mesmo aroma. Era ela mesmo que não soubesse o quanto meu coração acelerava todas as vezes que citavam seu nome.
Ainda era ela.
E eu continuava apaixonado.
Ainda que não admitisse. 

Por Mariana J.