Seus olhos estavam cansados, o olhar disperso, os ombros
magros levemente pendendo para frente. Por alguns segundos eu realmente
acreditei que ela passaria por mim sem se dar conta de que eu estava parado ali
e senti uma pontada de tristeza, mesmo que nada tivesse acontecido. Que tolo eu
fui. Assim que aquele par de olhos cor de céu de manhã cedo encontraram os meus
e seus lábios formaram um sorriso cansado, eu soube o quão sortudo eu era. Sortudo porque ela passara por todos os outros
de cabeça baixa. Sortudo porque vi naqueles olhos o brilho que sempre me
cativou. Sortudo por ser o único a receber aquele sorriso.
E mesmo que suas mãos não funcionassem como deveriam, mesmo
que ela não estivesse nos seus melhores dias ou que seu sorriso abrisse um
pouco menos do que de costume, continuava sendo ela. Era ela, e eu continuava apaixonado por seus cabelos escuros,
pela textura de suas mãos no meu rosto, pelo seu riso. Era ela e eu continuava
encantado pelo jeito que ela andava, mexendo os ombros. Era ela e eu continuava
apaixonado pelo jeito que sempre conseguia criar um sorriso no meu rosto, mesmo
que o mundo estivesse desmoronando ao meu redor. Era ela e eu não conseguia
controlar meus olhos que insistiam em segui-la enquanto subia as escadas, para
longe de todas aquelas conversas. Era ela, mesmo que não emanasse o mesmo
aroma. Era ela mesmo que não soubesse o quanto meu coração acelerava todas as
vezes que citavam seu nome.
Ainda era ela.
E eu continuava apaixonado.
Ainda que não admitisse.
Por Mariana J.
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