E eu lembro de tudo. Eu lembro de
tudo, o tempo todo. Lembro da primeira vez que senti seus dedos nos meus, e o
quão estranho e confortável aquilo era. Lembro das horas que passamos apenas
falando de coisas que no fundo tinham nenhuma ligação entre si. Me lembro de
quando comecei a ver esse sentimento florescer, e como tive vontade de
desaparecer quando afoguei meu carro sem querer pois me distrai com seu braço
em meus ombros. Lembro daquele fim de festa, quando as conversas já eram mais
altas do que a música e um simples beijo na testa fez meu coração falhar. Eu
lembro da faísca que senti quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez.
Me lembro dos seus olhos pousados em mim enquanto passava mais uma camada de
batom antes de sairmos, e lembro também de rir de nós, enquanto tentava limpar
aquelas manchas vermelhas do seu rosto algumas horas depois.
Lembro da expressão no seu rosto ao me ver com
um estilo de maquiagem que não costumo usar. Lembro dos meus amigos comemorando
um relacionamento que nunca chegou a existir. Me lembro também sobre o que
falamos no caminho de volta pra casa, quando faltava pouco para o sol nascer, e
lembro do arrepio que senti com seus dentes no meu pescoço; e lembro do seu
sorriso quando se despediu. Ainda me lembro de dirigir sozinha pelas ruas
desertas, o combustível acabando, minha música favorita tocando, e tudo parecia
estar no lugar certo. Então vejo como tudo está agora e isso parece ser tudo o
que me resta: lembranças. Fragmentos seus que eu tento apagar mas que voltam
toda vez que vejo seus olhos.
Parece injusto para mim, ver que
você está tão em paz com tudo enquanto eu me sento aqui, sentindo cada parte de
mim e de tudo a minha volta, virando pó. É injusto perceber que naquele dia
você sabia que era a última vez seus lábios tocavam os meus, enquanto eu cheguei
a acreditar que aquilo poderia ser o início de algo. E tudo o que eu mais quero
no momento é recomeçar, não encontrar seus olhos no meio de um mar de gente,
não esperar por seus abraços, não desejar te ter ao meu lado, mas alguns dias
são piores do que outros, e esse é um deles. Porque agora eu evito cruzar seu
caminho, me seguro ao máximo para não falar com você, só que for necessário,
engulo meus sentimentos junto com qualquer coisa que me embriague e mande minha
cabeça para longe.
Mas sei que preciso me acostumar
a estar do outro lado, me acostumar a ver os seus dedos entrelaçados nos dela,
não sentir um peso no peito ao imaginar sua mão sobre o joelho dela, escondidos
pela mesa do bar. Tenho que me acostumar e seguir em frente, já que ao que me parece,
essa é a única opção que me sobra no fim disso tudo. Esconder o que eu sabia
que não deveria ter sentido desde o início, o que eu sei que você percebeu, o
que você não quis como quer o dela, e deixar o tempo passar. Só espero que você
não mude de ideia, pois não teria forças para passar por isso novamente.
Por Mariana J.
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