sábado, 28 de dezembro de 2013

Josh,

Exatamente, nada de “querido”, “amor”, “babe”, ou qualquer outra coisa. Josh. Joshua.
O relógio marcava 3 da manhã e eu me peguei olhando para o nada do meu quarto meio vazio repetindo seu nome com todas as seis letras que eu aprendi a amar até que a palavra perdesse o sentido. Toda minha mobília estava no lugar certo, os livros em ordem alfabética na estante. As gavetas fechadas. As luzes apagadas. Mas algo estava errado, algo está faltando, não só no meu quarto como dentro de mim. Você não está mais aqui mas eu ainda assim te enxergo em cada pequeno detalhe do cômodo. E em mim. E em cada esquina que eu viro.
Meu corpo doía. Eu sentia que se caso pousasse minhas mãos sobre meu tórax eu encontraria minha camiseta totalmente encharcada de sangue e conseguiria sentir os buracos em minha carne assim como a trajetória destruidora dos projeteis que me acertaram.  Mas não havia nada ali além do tecido de algodão desgastado e amarelado.
Esse incidente dos buracos de bala foi a quase um ano e ainda assim, com todo o tempo percorrido eu me pego nessa mesma situação quase que todas as noites. Deitada no chão. Deitada no centro da minha cama de casal. Encolhida em um canto de um cômodo qualquer. Suspirando. Chorando. Soluçando o seu nome. Aquelas seis letras. J-O-S-H-U-A. E eu as repito por horas, até a dor cessar ou o sono me embalar.
Eu sei que você está por aí em algum lugar. Sentado em um banco de praça. Calça jeans justa. Uma camiseta simples. Talvez uma camisa xadrez ou um casaco. Óculos escuros. Fones de ouvido. Os cabelos castanhos bagunçados de alguém que acabara de despertar. Um cigarro pendendo nos lábios finos. Pensando no livro que terminara de ler. Ou na música que toca apenas para ti. Ou quem sabe, pensa em mim.
Sei que isso é a última coisa que eu deveria estar fazendo. Escrevendo essas linhas tortas para alguém que não vai chegar a lê-las. Mas agora o relógio já marca quase quatro da manhã e eu sei que terei um dia cheio em poucas horas, porém não existe nada que me faça parar de pensar em você . Além de você mesmo.
Quando ando pelas ruas sempre procuro fragmentos de você nas pessoas.
O cabelo bagunçado.
Os olhos escuros.
O par de vans azuis que te dei.
Os óculos de sol.
O riso doce.
A voz grave.
O aroma único que seu perfume tinha misturado ao cheiro de um Marlboro Light.
A linha de pensamento que eu acredito que ninguém mais no mundo seria capaz de criar.
As piadas ruins que me faziam rir de qualquer forma.
Suas tatuagens: no pé, nos antebraços, entre suas clavículas.
Eu procuro em todos um pouco de ti e nunca encontro nada.
Ninguém jamais me amará do jeito que você me amou. Ninguém tem o mesmo gosto musical que você tem. Ninguém acha minhas histórias interessantes como você. Ninguém vai conseguir tocar meu coração como você tocou.
A verdade é que não importa o quanto eu tente te encontrar em outros rostos, você é, sempre foi e sempre será único. 
Único no sentido mais amplo possível.
Você apareceu na minha vida quando eu menos esperava e quando me dei conta tudo o que eu fazia era girar no seu eixo. Tudo era sobre você. Meus pensamentos. Meus sonhos. Meus medos. Meu riso. Meu pesar. Tudo por meia dúzia de letras arrumadas no nome que eu continuo repetindo. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua. Joshua.
Tudo o que eu quero é te ter aqui. Do meu lado. No meu quarto. No metrô. Na livraria. Em uma rua qualquer. Dentro do meu carro. Na minha vida.
Eu não te pedi pra partir. Também não te pedi para ficar. Você nunca me deu uma chance para fazer isso.
Depois que você partiu só o que sobrou em mim foram marcas. Algo como aquelas cicatrizes de quando você é criança e cai de bicicleta na rua, ou aquelas manchas disformes nas costas que ficam depois de um tempo por passar um período longo demais no sol quente. Talvez você nem consiga vê-las depois de um tempo mas você sempre lembrará do que as causou. 
Mesmo você não estando mais aqui eu ainda consigo te sentir. Os braços ao meu redor. Os olhos me observando por cima de um livro enquanto eu escrevo. A ponta dos dedos desenhando minhas costas enquanto sua voz me embala o sono.
Você está nas minhas noites em claro.
Você está em cada uma das cicatrizes nos meus braços.
Você está nas músicas que eu escuto.
Você está guardado entre as páginas dos meus livros favoritos.
Você está nas minhas veias e nas minhas vísceras.
Você está em cada pequeno detalhe da minha vida.
E eu sei que não importa o quão magnífico o próximo cara que entrar na minha vida possa ser ele nunca será você.
Você foi único Josh. Joshua. Meu-e-para-sempre-meu-Joshua.
E eu sei que não importa o quanto eu escreva. O quanto eu grite, chore, murmure, gema seu nome. Você não vai voltar pra mim.
E ainda mais eu sei que poderia escrever milhares de páginas mas jamais conseguiria expressar melhor o que eu sinto agora do que com uma pequena frase: Eu sinto sua falta.

Ah se eu sinto. 

Por Mariana J. 

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