É sério? Isso é realmente sério?
Eu estava voltando do banheiro quando vi Laura se
aproximando da nossa mesa com um cara. Porra Laura. Ela me diz que vai sair pra
fumar e volta com um grandalhão amarrado naquele pescoçinho fino e branquelo
dela.
“Eu não vou ficar com ninguém hoje” ela disse enquanto
andávamos todos para a mesa 5. Pelo jeito aquele cigarro rendeu mais do que
cheiro de fumaça nas roupas. Eu me larguei no sofá, olhei o relógio, chequei o
celular, olhei ao redor, qualquer coisa pra evitar ter que aturar aquela cena.
Laura entrando na área privativa puxando o cara pela mão e sentando em seu colo
como se os dois se conhecessem por anos.
Parecia que mais ninguém a minha volta tinha notado a
presença do penetra. Todos estavam ocupados demais com suas cervejas e suas
conversas que só diziam respeito a eles mesmos. Eu gostava de cada um naquela
quinta mesa – menos o babaca em quem Laura se enroscava- mas porra, ninguém vai
mesmo perguntar o que diabos aquele babaca fazia ali? Então é assim que
funciona? Você se forma na faculdade, reserva a melhor mesa do pub pra você e
seus amigos comemorarem – só vocês- e do nada um cara vem com a mulher que você
gosta, bebe da sua cerveja, e fica tudo por isso mesmo? Absurdo.
Pedro estava conversando animadamente sobre algum jogo que
havia zerado semana passada e eu fingia que ouvia mas tudo o que eu conseguia
fazer era pensar naqueles dois pecadores sentados na minha frente quase se
engolindo. Porra Laura.
Pede um combo aí. vodka e energético.
Três dedos de vodka, 2 de energético. O primeiro copo desceu
ardendo mas era melhor do que aguentar o casal desentupidor. Cada um com um
copo na mão, vodka, energético, gelo, cerveja. A garrafa passando de mão em mão
com menos líquido em cada passada.
Três dedos de vodka, 2 de energético. O grandão afunda a cara grande dele no
pescoço branco feito cal dela.
Três dedos de vodka, 2 de energético. A banda começa a tocar
e eu gosto da música, antes que eu pudesse entender, Anna me faz levantar e me
leva até o palco para dançar um pouco. Tropeço.
Voltamos pra nossa mesa depois de meia dúzia de músicas
porque os pés de Anna doem. Três dedos de vodka, 2 de energético. Noto que
Laura está sentada agora na poltrona e não no colo do babaca. Troquei a vodka pela água.
Enquanto cantava com um dos meus braços abraçando as costas
de Pedro vi Laura se levantando e o babaca voltando. Voltei para a vodka.
Três dedos de vodka, 2 de energético. Ela está sentada se
lado sobre as pernas grossas dele. Seu vestido azul sobe alguns centímetros
enquanto ele passa sua mãozona sobre as coxas dela e sussurra algo em seu
ouvido. E ela gosta. Porra Laura.
Arrumem um quarto.
Me levanto e vou trombando nas pessoas que dançam até o
banheiro masculino. Meus olhos já estão vermelhos do álcool. Junto um pouco de
água gelada nas minhas mãos e acerto no meu rosto deixando cair um pouco sobre
minha camiseta. Grande merda.
Começo a me sentir enjoado mas tenho plena noção de que não
é culpa da segunda garrafa de vodka que roda os dez pares de mãos na mesa
cinco. Laura canta animadamente enquanto o cara observa os integrantes da
banda. Pelo menos os dois estão de pé. Três dedos de vodka, 2 de energético.
Solto uma risada baixa ao notar que Mr.Brightside toca nos
altos falantes enquanto a banda faz seu intervalo para tomar uma água, uma
cerveja ou ir ao banheiro dar uma mijada. Essa música não poderia vir em hora
melhor. E eu ainda não consigo olhar os dois.
It’s killing me and taking control. Ninguém parece notar então eu só canto
junto.
Quatro dedos de vodka e só porque o grandão terminou com o
energético.
Anna, pede uns refrigerantes aí.
Quatro dedos de vodka, 3 de refrigerante. Melina me pede um
gole do meu copo e eu levo até ela. Tudo em câmera lenta.
“Caralho cara, isso tá muito forte.”
Eu nem tô sentindo mais.
Eu olho em volta e vejo todos dançando, menos o casal
desentupidor. Parece que o cara está tentando tirar algum órgão dela pela boca.
E eu me divirto mesmo assim. É complicado não se divertir depois de ter tomado
sozinho meia garrafa de qualquer bebida alcoólica. Mas ela está chupando o
pescoço dele e ele aperta a bunda dela. E ela não reclama. Porra Laura.
Meus amigos começam a ir embora. Primeiro foram Melina e
Tiago. E o grandão continua alí. Ele tem cara de Rodrigo. Laura foi ao banheiro
retocar o batom. Pra que retocar se já vai esfregar a boca vermelha na cara
inteira do Rodrigo. Ou Carlos. Ou Matheus. Ele tem cara de Rodrigo.
“Chega de vodka, agora você vai ficar só na água velho. Não
quero gente vomitando no meu carro.”
Pode deixar.
Um dedo de vodka, três de refrigerante.
Eu tô com fome Pedro.
“Eu também, a gente passa em algum lugar no caminho da tua
casa.”
Pedro sim é um amigo. Laura não. Amigos não trazem um
estranho pra mesa que você reservou e ficam se lambendo. Ela se levantou e veio
se despedir de mim.
“A gente se vê por aí.” Ela disse me beijando o rosto.
“Desculpa por ele.” Falou me olhando com
aqueles olhos negros e dissimulados. Tive vontade de beijá-la. Beijá-la melhor
do que aquele babaca ou qualquer outro cara jamais faria. Tirar seu folego. Mas
não. Só acenei pra ela e para o grandalhão enquanto eles saiam do pub. Grande
merda.
Digamos que a noite não foi exatamente como eu tinha
imaginado e eu vou vomitar até o que eu não tenho no corpo mas por alguns
minutos eu consegui me esquecer dos dois. O que importa mesmo é que eu tenho
amigos que me aturam mesmo estando bêbado. Todo mundo precisa de amigos assim.
Eu fiquei repetindo pra mim que eu estava pouco me fodendo
para o que os dois fariam depois de sair. Laura já é grandinha o suficiente. No
dia seguinte ela provavelmente ficaria falando por horas de como a noite foi
maravilhosa e eu fingiria que não tive que me segurar para não dar uns bons
murros naquele cara. Quebrar cada dente perfeito. Emoldurar aqueles olhos azuis
com círculos roxos. Quebrar umas duas costelas e depois ir embora com ela.
O que realmente importa é que a vodka existe.
Por Mariana J.
Ainda bem que você existe pra me proporcionar leituras assim <3
ResponderExcluirOBRIGADA RENIIIIIIIIIIIIIIIIS <3
Excluiraf, você é foda.
ResponderExcluirOlha só quem fala.
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