O ano era 2004 e eu tinha 9 anos na época. Acabara de me
mudar de colégio e sentia que um novo mundo estava abrindo suas portas para
mim: outra estrutura, outros professores, outros colegas de classe. Se dez anos
atrás você me dissesse que aquela menininha da quarta série 1 se tornaria a
minha melhor amiga eu no mínimo acharia estranho já que nem da mesma sala nós
éramos. E eu nem me lembro ao certo como tudo isso aconteceu, mas me recordo de
algumas coisas. Me lembro do circo do colégio, os uniformes da bandinha em azul
escuro - que mais parecia roupa de paquita-
os ensaios, o nervosismo na noite da apresentação, a tinta que me fazia
ter vontade de coçar meu rosto. E lá estava ela, a menina loirinha com mechas
no cabelo da turma 1. Acho que foi nessa época que tudo começou.
Ainda hoje eu tenho uma folha de papel guardada, toda
dobradinha e desgastada, com o endereço da sua antiga casa; escrita naquela
caligrafia que só ela consegue fazer. Tenho ainda o convite de seu aniversário
do ano seguinte, o primeiro em que eu estive presente, assim como inúmeros
bilhetinhos partilhados em 6 anos estudando juntas. As cartinhas de feliz
aniversário. A folha do “Rap da Amanda”. As mensagens deixadas ao fim de cada
ano nas camisetas do colégio. As promessas de estar sempre uma ao lado da
outra, custe o que custar.
Desde o início eu vi nela um passarinho que queria voar pra
bem longe dessa cidadezinha do interior do Paraná o mais rápido possível, mas
que ao mesmo tempo tinha medo de cair do ninho que sempre a protegera. Em pouco
tempo eu consegui ver com facilidade que aquela menininha loira era alguém com
quem eu gostaria de dividir cada pedacinho do meu dia-a-dia, além de alguém em
quem eu poderia me espelhar. Amanda sempre foi uma pessoa incrível. Preocupada,
dedicada a tudo que se propõe a fazer, linda tanto por fora quanto por dentro,
amorosa com todos, ótima com crianças, engraçada, inteligente – sempre me
revoltei com as notas que ela tirava em provas para as quais nem havia
estudado-, pé no chão, generosa, sempre com a família em primeiro lugar. As
vezes ciumenta, se preocupando com coisas e pessoas que nem são tão importantes
afinal. Não estaria mentindo se eu
dissesse que eu sempre quis ser como ela.
Eu agradeço muitíssimo por ter tido a oportunidade de ter
alguém como ela na minha vida desde cedo, alguém que consegue saber o que se
passa em minha mente sem que eu precise dizer uma só palavra; como se eu fosse
clara como cristal. Por vezes eu me forcei a escurecer para não transparecer
coisas que me machucavam ou preocupavam pelo simples fato de não querer que ela
se envolvesse nos meus dramas bobos, mas de alguma forma –cedo ou tarde- ela
acabava sabendo de tudo. Era ela que estava me abraçando no intervalo da aula
porque meu coração doía por algum menino idiota. Foi com ela que eu passei incontáveis
noites em claro, falando sobre assuntos aleatórios, dividindo segredos,
fofocando, ouvindo músicas, rindo das fotos de certas pessoas – “pegando as
bergamotas mais doces”-, pensando no nosso futuro, nos nomes dos filhos de cada
uma, fazendo duetos de HSM2, virando copinhos de Amarula e chorando nossas
mágoas, vendo episódios repetidos de Hannah Montana, cozinhando de madrugada. E
quando eu me recordo de cada momento desses eu realmente não consigo me
imaginar partilhando essas memórias com nenhuma outra pessoa. Apenas ela.
Lembrar todas as situações maravilhosas que passamos faz com
que os momentos ruins pareçam ainda mais bobos do que foram, apesar de que na
época – ao menos para mim- parecia ser o fim do mundo. Três anos atrás quando
fiquei uma semana (ou algo do gênero) sem falar com ela, eu sentia sinceramente
que as coisas jamais voltariam a ser as mesmas; achava que aquele
desentendimento seria o fim da nossa amizade e ponto, mas hoje vejo que foi uma
situação necessária apesar de desconfortável. Eu cresci muito com as coisas
boas mas principalmente com as discussões, as brigas, os dias que passamos sem
nem olhar uma pra cara da outra. Aprendi na prática que nenhum tipo de relação
é simples, ainda mais com alguém que você vê todos os dias (ou via) e que te
conhece talvez até mais do que você mesma. Sou muito grata a tudo isso.
Eu adoro a forma como ela fala sem parar quando está com
sono, sua risada, o seu estilo pra se vestir, sua dedicação com os estudos, a
cor natural do seu cabelo, seus dotes culinários, os drinks estranhos, a
maneira com que conseguimos nos comunicar só pelo olhar, o jeito como ela sorri
com os olhos, a mania de cantar músicas aleatórias. Adoro mais ainda poder
observar como ela cresceu nos últimos 10 anos e a mulher incrível que está se
tornando. Aquele passarinho pequeno e assustado cresceu, e está voando cada dia
mais alto sem o menor medo de cair. Mesmo assim se um dia esse passarinho cair
por algum motivo, eu estarei aqui para tratar suas assas quebradas e fazer com
que ele volte a voar – e ainda mais alto do que antes.
Algumas pessoas simplesmente combinam com o nome que lhes
foi dado. As vezes elas só “tem cara”, de Maria, de Pedro, de Andressa; mas por
vezes parecem terem nascido para receber aquele nome, como se nenhum outro
fosse possível. Amanda significa “digna de ser amada”, e apesar de piadinhas
ridículas que já fiz com isso – Amanda = pessoa que ama andar- eu não consigo
imaginar ninguém que combine mais com essas 6 letras do que ela mesma.
E agora que ela completa dezenove primaveras tudo o que
quero fazer é desejar toda a felicidade e sucesso nos próximos longos voos que
a esperam, além de agradecer pela paciência infinita que tem comigo. Eu sei que
eu poderia escrever folhas e mais folhas sobre ela mas jamais conseguiria
exprimir tudo o que eu sinto. Toda a gratidão, a felicidade e acima de tudo o
orgulho. Assim eu tento com todas essas palavras mal escritas em frases
confusas dizer o que realmente importa: Parabéns Mandy, que você continue sendo
essa pessoa magnífica que você é e que eu tenha a chance de continuar do seu
lado por muitos e muitos anos ainda pra te ver voando e ficar morrendo de
orgulho aqui de baixo. Muito obrigada por tudo irmãzinha e madrinha do meu
casamento.
Eu te amo muito mais do que você imagina.
Por Mariana J.
N/A: (como já deu pra perceber) dedico essas linhas a minha
irmã de outra mãe e a melhor amiga que alguém poderia ter: Amanda Camila de
Oliveira Poppi. Ou só Amanda mesmo. Mais tarde eu te aperto, coisa linda.
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