E é em dias como hoje que eu mais sinto sua falta.
Dias em que nada que escrevo parece certo. Dias em que nada
parece satisfazer esse buraco negro que eu tenho dentro do peito. Dias em que
meu único desejo é deixar meu rosto se perder na infinidade dos teus cabelos. A
chuva caí do lado de fora e eu consigo escutar cada pingo martelando a janela
insistentemente e espero te ver entrando no meu quarto, vestindo sua enorme
camiseta do Two Door Cinema Club, dançando na ponta dos pés e cantando aquela música
sobre chuva. Como era mesmo? “Rain... I don’t mind” alguma coisa, alguma coisa.
Não me lembro exatamente. Eu sinto falta disso, de verdade, sinto falta de
ouvir sua voz abafada pelo cobertor me pedindo pra te abraçar sempre que
precisava me ausentar da sua companhia mesmo que por míseros minutos.
Meus cigarros mentolados duram muito mais agora sabia? Na
verdade eu só os comprava porque sabia que você preferia estes aos que eu
costumava fumar. A sua ultima caixa ainda está aqui, vazia mas ainda me faz
companhia. Já perdi a conta das vezes em que me encontrei com os cotovelos
encostados no beiral da sacada, assistindo a fumaça dançando para fora no meu
cigarro e esperando o sol se por e as luzes da cidade se intensificarem como
nós fazíamos. A cidade é a mesma. O céu é o mesmo. As luzes, idem. Mas não eu,
eu não posso ser o mesmo sem você.
Eu sinto falta de ter
alguém pra dividir um copo de café nas minhas madrugas insones. Eu sinto falta
das nossas discussões ridículas causadas pelo seu ciúme, e pelo meu também.
Sinto falta até do seu costume chato de deixar seus sapatos largados por aí e
de tratar o meu –antigo- gato como um bebê. Ele foi embora alguns dias depois
de você, quem sabe ele esteja contigo agora. Sabe, eu amava ficar doente com
você por perto pois eu sabia que iria cuidar de mim. Traria bala de gelatina em
formato de tubarões e dormiria aninhada no meu peito sem ter medo de pegar o
que quer que eu tivesse na época. Além que você sempre ria quando eu respondia
sua mensagem preocupada de “Posso te ajudar em alguma coisa?” com um “Traga
doce, um filme de terror e uma lingerie preta”.
Alguns dias atrás eu estava fazendo uma limpa no meu armário
para mandar algumas roupas velhas para doação quando encontrei o seu lenço
favorito, aquele vermelho com bolinhas brancas com o qual você costumava
prender os cabelos. A princípio eu estranhei que você o tivesse deixado para
trás pois você sempre me dizia o quão importante ele era mas então pensei
melhor e notei que você costumava dizer o mesmo de mim. E eu continuo aqui,
assim como o velho lenço que agora não é mais tão importante.
Talvez eu vá sempre sentir falta do seu perfume, das suas
piadas terríveis, do seu bom gosto musical, da sua paciência infinita comigo e
do som do seu riso. Agora que não te tenho mais por perto o buraco negro dentro
do meu peito parece maior e maior a cada dia e eu temo, minha cara, que um dia
eu seja todo escuridão.
É... É em dias assim que eu mais sinto sua falta.
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