Gabriel estava sentado em frente ao computador com a tela
desligada enquanto tentava em vão se concentrar no livro de história. Mesmo com
o prazo de entrega do trabalho sobre Esparta se aproximando não havia nada no mundo
que conseguisse fazer com que o garoto passasse da primeira frase no topo da
página. “Os guerreiros espartanos...” e
de repente a única coisa em que ele conseguia pensar era no quase inaudível som
das pontas dos dedos de Léo passando sobre o texto escrito em braile. A
respiração baixa do garoto. A canção distante de um pássaro qualquer. Foi então
que ele desistiu de tentar. “Foda-se” pensou.
Afastou o livro alguns centímetros para o lado e assim
deixou seu rosto pender sobre a mão gelada. Existia algo em Léo que o deixava
assim. Mãos geladas, o coração acelerado, aquela sensação de que poderia fazer
qualquer coisa no mundo para protegê-lo. Gabriel adorava poder observar o outro
garoto mesmo sabendo que nunca seria pego por ele com os olhos deliciados. “Por
que você tá me olhando assim Gabriel?” imaginou o amigo falando com aquele tom
risonho de sempre. Tudo o que Léo não conseguia expressar pelo olhar ele
conseguia, de alguma forma, expressar com os lábios e essa era uma das coisas
que ele mais gostava no colega de sala.
Queria poder se aproximar, tocar seus cabelos castanhos,
sentir a textura de cada fio. Ter o rosto do rapaz em suas mãos para que seus
dedos o decorassem da mesma forma que os de Léo decoraram o alfabeto braile.
Sentir o seu perfume misturado com o cheiro de roupa recém lavada, aquele aroma
confortável que fazia com que seus pulmões se sentissem em casa a cada vez que
inspirava. Ter os dedos de Leonardo entrelaçados nos seus ao invés de apenas
tocando seu braço enquanto o guiava de volta para casa depois de um dia no
colégio.
E se Léo enxergasse? Será que ele o acharia tão atraente
quanto as garotas do colégio diziam que ele era? Será que ele não acharia os
cabelos do garoto volumosos demais? Ou os olhos demasiadamente grandes? Magro demais? Talvez devesse malhar mais...
Ou quem sabe, voltar para a natação.
Seria Gabriel alto demais para ele? Tudo o que ele sabia era que o
garoto em sua frente era simplesmente perfeito em todos os sentidos. Bonito,
engraçado, inteligente, um ótimo amigo, corajoso, bondoso com todos,
independente na medida do que era possível e mesmo que tímido tinha sempre um sorriso
enorme iluminando todo lugar em que chegava. Ah como ele queria poder ficar
daquele jeito para sempre... Apenas observando-o e admirando cada traço do
garoto.
Subitamente Léo afastou os dedos das páginas do livro sobre
seu colo fazendo com que Gabriel tomasse um susto que o fez sorrir sozinho. Era
como se de alguma forma o amigo soubesse que estava sendo observado a longos
minutos.
- Gabriel? – perguntou em direção ao lugar onde o garoto
estava sentado com o rosto preocupado.
- Oi Léo – com a resposta o primeiro garoto automaticamente
voltou a sorrir e Gabriel não conseguiu evitar de sentir algumas borboletas no
estômago como acontecia todas as vezes que via aquele sorriso.
- Ah, achei que você tava dormindo ou sei lá... Tinha me
deixado sozinho aqui. – Leonardo disse fechando o livro calmamente. Gabriel
respirou fundo tentando acalmar as borboletas que pareciam querer sair por sua
garganta de tanto que se debatiam antes de responder:
- Eu nunca vou te deixar sozinho Léo. Pode acreditar.
Por Mariana J.
n/a: Esse texto é na verdade uma fanfic (one shot talvez?) baseada do longa nacional "Hoje eu quero voltar sozinho" que sinceramente se você ainda não viu, deveria.
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