Adoro as ruguinhas nos cantos dos seus olhos quando você
sorri.
Eu adoro a sensação da sua pele sob a ponta dos meus dedos e
acredito realmente que ficaria desenhando coraçõezinhos nela até o fim, ou até
quando suportar, o que acontecer primeiro.Adoro como tudo parece tão bom do seu lado. Calmo. Acolhedor. Confortável.
Tranquilo. O mais tranquila que eu me lembro de estar, nesses meus quase 22
anos de vida. Adoro a sua risada e como você se ilumina quando acontece. Adoro
até as borboletas no meu estômago sempre que sei que vou te ver, apesar de por
vezes me irritar com as palavras que sempre se enrolam na minha garganta e não
saem por nada.
Eu adoro seus dedos entrelaçados aos meus. Ou quando apoia a
cabeça em meu ombro. Ou quando passo meu braço pelas suas costas e deixo minha
mão na sua cintura. Qualquer toque, mesmo que o de nossos joelhos se
encontrando debaixo da mesa, já me deixa feliz. Eu adoro estar perto de você,
talvez dê para notar isso, mas deixemos registrado. E toda vez que eu preciso
te deixar ir, me bate a vontade de te puxar pela mão e com cara de dó te pedir
pra ficar. Você não tem ideia do quanto eu luto comigo mesma para não fazer
isso, e juro que fica mais difícil a cada dia. A cada mensagem, a cada beijo, a
cada olhar fica mais difícil.
A cada beijo na
testa, a cada carinho na mão, a cada abraço. A cada coisa aleatória que vejo e
me vem você no pensamento, a cada vontade súbita de te ver, a cada história
compartilhada, a cada música que entra na grande lista conhecida como “músicas
que agora só dizem seu nome”, fica mais claro para mim. E fica maior o medo que
eu tento esconder. Medo de me machucar. Medo de te machucar. Medo de abaixar
minha guarda demais e depois ter que te ver partir. São tantos medos e neuras
desnecessárias que é até difícil apontar todas.
Mas então me vem você, com os olhinhos esverdeados, o
coração que diz ser gelado - mas que já entendi que é só uma forma de tentar se
proteger -, e o sorriso que melhora o meu dia, e me faz deixar tudo isso de
lado, nem que por algum tempo. Quando estou com você nada mais cruza meus
pensamentos. É só você e nada mais. Você e toda a calma que veio contigo, coisa
que eu nem sabia que me fazia tanta falta.
Adoro como durante os minutos que passei escrevendo essas
linhas, não parei de sorrir.
É o seu efeito sobre mim, e por isso, e por tantas outras
coisas, sou eternamente grata.
É tão estranho pensar como tudo
pode mudar tão drasticamente entre duas pessoas em tão pouco tempo. Um ano,
menos que isso. Um ano atrás eu dirigia de madrugada com as janelas abertas, o
vento batendo no rosto, aquela música preenchendo cada pequena rachadura do meu
coração; hoje só ouvir seu nome faz o mesmo doer. Meses atrás nos ver com os
dedos entrelaçados não era estranho, agora até um aceno parece errado. Dias
atrás eu acreditei que poderíamos nos reconectar, já no dia seguinte percebi
que estava enganada. É como se nada nunca tivesse acontecido. Por vezes
acredito que tudo seria mais fácil assim. Porém, esquecer não é tão simples
quanto achei que fosse.
E eu lembro de tudo. Eu lembro de
tudo, o tempo todo. Lembro da primeira vez que senti seus dedos nos meus, e o
quão estranho e confortável aquilo era. Lembro das horas que passamos apenas
falando de coisas que no fundo tinham nenhuma ligação entre si. Me lembro de
quando comecei a ver esse sentimento florescer, e como tive vontade de
desaparecer quando afoguei meu carro sem querer pois me distrai com seu braço
em meus ombros. Lembro daquele fim de festa, quando as conversas já eram mais
altas do que a música e um simples beijo na testa fez meu coração falhar. Eu
lembro da faísca que senti quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez.
Me lembro dos seus olhos pousados em mim enquanto passava mais uma camada de
batom antes de sairmos, e lembro também de rir de nós, enquanto tentava limpar
aquelas manchas vermelhas do seu rosto algumas horas depois.
Lembro da expressão no seu rosto ao me ver com
um estilo de maquiagem que não costumo usar. Lembro dos meus amigos comemorando
um relacionamento que nunca chegou a existir. Me lembro também sobre o que
falamos no caminho de volta pra casa, quando faltava pouco para o sol nascer, e
lembro do arrepio que senti com seus dentes no meu pescoço; e lembro do seu
sorriso quando se despediu. Ainda me lembro de dirigir sozinha pelas ruas
desertas, o combustível acabando, minha música favorita tocando, e tudo parecia
estar no lugar certo. Então vejo como tudo está agora e isso parece ser tudo o
que me resta: lembranças. Fragmentos seus que eu tento apagar mas que voltam
toda vez que vejo seus olhos.
Parece injusto para mim, ver que
você está tão em paz com tudo enquanto eu me sento aqui, sentindo cada parte de
mim e de tudo a minha volta, virando pó. É injusto perceber que naquele dia
você sabia que era a última vez seus lábios tocavam os meus, enquanto eu cheguei
a acreditar que aquilo poderia ser o início de algo. E tudo o que eu mais quero
no momento é recomeçar, não encontrar seus olhos no meio de um mar de gente,
não esperar por seus abraços, não desejar te ter ao meu lado, mas alguns dias
são piores do que outros, e esse é um deles. Porque agora eu evito cruzar seu
caminho, me seguro ao máximo para não falar com você, só que for necessário,
engulo meus sentimentos junto com qualquer coisa que me embriague e mande minha
cabeça para longe.
Mas sei que preciso me acostumar
a estar do outro lado, me acostumar a ver os seus dedos entrelaçados nos dela,
não sentir um peso no peito ao imaginar sua mão sobre o joelho dela, escondidos
pela mesa do bar. Tenho que me acostumar e seguir em frente, já que ao que me parece,
essa é a única opção que me sobra no fim disso tudo. Esconder o que eu sabia
que não deveria ter sentido desde o início, o que eu sei que você percebeu, o
que você não quis como quer o dela, e deixar o tempo passar. Só espero que você
não mude de ideia, pois não teria forças para passar por isso novamente.
Eu cresci ouvindo todos os tipos de clichês românticos
possíveis. Toda aquela história de que todos nós temos a nossa outra metade da
laranja, amor à primeira vista e como os opostos se atraem. Ainda sou um tanto
cética com essa ideia de se apaixonar em poucos segundos e principalmente essa
história de cada um tem apenas uma “metade da laranja”, mas e quanto aos
opostos? Ah, nisso eu acredito. E o pior de tudo, comecei a acreditar por sua
causa.
É incrível como duas pessoas podem ser tão diferentes e tão
parecidas ao mesmo tempo.
Gosto de me imaginar como uma manhã de chuva. Calma.
Preguiçosa. Nebulosa. Já você é uma tarde ensolarada de verão. Aquele tipo de
dia em que o universo parece implorar para que você se divirta. Animado.
Quente. Ensolarado. Os meus olhos escuros em nada lembram os seus cor de mar.
Eu me sinto perfeitamente bem com um grupo pequeno de amigos, já para você,
quanto mais gente por perto melhor.
Eu danço o máximo de músicas de uma festa quanto meus pés
conseguirem suportar, enquanto você passa mais tempo na área de fumantes do que
provavelmente deveria. Eu sou apaixonada por um bom e velho drama. Você já
prefere um filme de ação do tipo que faz seus pulmões pararem de funcionar. Eu
sou o doce que é tão absurdamente doce que tomar um enorme copo de água logo após
parece ser a única opção. Você é o salgado, o tipo que você precisa todos os
dias. O tipo que um só não é suficiente.
Eu sou aquele filme repetido que você assiste numa madrugada
de sábado já que não consegue cair no sono. Você é a décima garrafa de cerveja
consecutiva na mesa de bar de um grupo de amigos de longa data. Eu sou um tango,
você é samba. Eu sou a pessoa que precisa seguir as regras, ter uma rotina,
anotar compromissos. Você é aquela que chega na casa de alguém tarde, e no meio
da semana, chama para um passeio despreocupado. Eu tento sempre passar despercebida entre as
pessoas, você pelo contrário se diverte em ser o centro das atenções. Eu me
preocupo demais com tudo. Você parece não se importar com nada.
Realmente não sei dizer se já tive alguma paixão à primeira
vista. Muito menos sei se já encontrei a minha metade da laranja, ou ainda se
na verdade são dez metades de laranja e se eu tiver sorte vou encontrar ao
menos uma. Pelo menos a parte dos opostos se atraírem me parece bem real. Na
física pelo menos é um conceito que claramente funciona. Mas no final talvez
tudo isso que nos contam quando somos pequenos, e a mídia reforça com milhares
de comédias românticas e músicas pop seja realmente verdade. Talvez os opostos
de fato se atraiam, mas isso não significa que eles ficam juntos no final.
Eu odeio as borboletas no meu estômago que brotam quando te
vejo. Odeio quando passa por mim sem me cumprimentar e odeio ainda mais quando
se vai sem se despedir de mim. Eu odeio como meu humor muda drasticamente
quando você está por perto. Odeio quando você me olha nos olhos por tempo
demais e faz com que eu me sinta transparente, como se você fosse capaz de ver
tudo que se passa dentro de mim. Odeio a sua postura de quem não se importa com
nada, e odeio ainda mais quando acredito que essa sua postura é real comigo
também.
Eu odeio quando você insiste em dizer que está tudo bem
quando eu posso ver estampado na sua cara que isso é uma enorme mentira. Odeio
te ver voltando a velhos hábitos e odeio sentir que meu apoio não te vale de
nada as vezes. Odeio o modo como você parece nunca conseguir ficar quieto por
mais de meio segundo. E talvez seja paranoia minha, mas eu realmente odeio
quando percebo de canto de olho que você pede para alguém falar mais baixo
quando o assunto não me seria interessante.
Eu odeio o sabor amargo que a sua música favorita me deixa
nos lábios quando a escuto agora, odeio também esse vazio que aparentemente nem
todas as garrafas de vodca no universo conseguiriam preencher; já que mesmo
quando meu cérebro não consegue controlar meus membros a memória de você
continua lá, boiando em meio ao álcool. Como eu odeio isso... Odeio o quão
triste eu fico quando te escuto bater a porta do carro. Odeio quando você não
responde minhas mensagens e odeio ainda mais quando as responde com uma palavra.
Eu odeio lembrar da cor dos seus olhos na penumbra, tão
próximos dos meus que minha visão embaçava levemente. Odeio o toque de seus
dedos no meu rosto. Odeio como me faz rir. Odeio o nervosismo ridículo que toma
conta de mim quando sei que vou te encontrar, e também odeio o sentimento que
me toma quando não te vejo. Odeio quando ficamos sem nos falar por muitos dias
e não consigo vencer esse meu orgulho inútil. Odeio lembrar de alguma coisa
aleatória que disse tempos atrás e como eu sempre acabo rindo, por mais sem
graça que a memória seja.
Eu odeio desejar que você estivesse ao meu lado em momentos
aleatórios do dia, e odeio sentir saudade de como as coisas eram no início.
Odeio como de repente tudo parece me lembrar você e o quão cansativo isso tudo
é. Odeio sentir o ciúmes aquecendo meu sangue quando você insiste em me contar
das garotas do passado, odeio também imaginar quais são as do presente. Odeio o
quanto me divirto ao seu lado e quão sem sentido algumas coisas parecem ser
quando você não está por perto. Odeio as bitucas de cigarro que você deixa por
aí. Odeio o fato de ter que controlar a minha respiração e me concentrar ao
máximo para não deixar umas lágrimas teimosas me escaparem enquanto escrevo
isso. Odeio não conseguir te dizer tudo isso pessoalmente.
Eu odeio ainda mais não conseguir dizer o que eu sinto por
você. Mesmo que eu acredite que você já saiba, o que me faz te odiar um
pouquinho mais por não tocar no assunto. Às vezes eu te odeio. Às vezes sinto
vontade de te virar as costas e nunca mais voltar. E eu não consigo. Não
consigo porque não importa quantos milhões de coisas eu odeie em você, de
alguma forma elas sempre me parecem insignificantes perto de tudo o que eu
adoro em você. A lista é igualmente grande. Eu odeio muitas coisas em você, mas
acima de tudo eu odeio a forma com que eu nunca consigo te odiar.
Meses atrás eu disse que não sou do tipo que se apaixona.
Bem, eu menti. Eu sou do tipo que se apaixona, mesmo sem se dar conta. Do tipo
que sente sua falta dois segundos depois de te ouvir fechando a porta. Sou do
tipo que sente o coração batucando no peito quando sei que vou te encontrar em
breve. Do tipo que abre um sorriso quando ouço sua voz à distância e que ri de
todas as suas piadas, mesmo as que aparentemente não tenham graça alguma.
Juro que nunca quis ser assim, mas sou do tipo que se
entrega completamente. Do tipo que acorda pensando nos teus olhos e adormece
desejando te ter ao lado. Sou do tipo que se segura para não sair falando
demais sobre você para os amigos já que, coitados, eles não tem culpa de eu
estar assim. Assim. Inegavelmente apaixonado. Sou do tipo que cruzaria todos os
oceanos num barquinho com uma colher de pau como remo caso você precisasse de
mim. O tipo que te adora com os cabelos curtos. Ou longos. Ou bem arrumados. Ou
totalmente desgrenhados. Te adoro vestindo azul. E cinza. E vermelho. E branco.
E literalmente qualquer outra cor.
Tenho certos problemas para admitir que sou esse tipo de
pessoa, e eu tentei – ah se tentei – não me apaixonar por você, mas como não?
Você é exatamente o tipo de pessoa por quem eu me apaixonaria. Não estou
falando dos teus olhos cor de céu de manhã cedo, não, eu estou falando do jeito
que você faz eu me sentir. Falo de como meu humor melhora imediatamente quando
você está por perto, do quanto adoro suas mãos nas minhas me guiando entre as
pessoas. Da sua capacidade de falar sobre qualquer assunto com qualquer pessoa,
e como você se dá bem com os outros em tão pouco tempo. Falo dos seus abraços
apertados e de como brinca com os meus cabelos. Falo do jeito como me olha. E
eu sinceramente não posso nem sentir ciúmes de tantos outros que sei que já se
sentiram como eu me sinto hoje, e você não consegue evitar. É simplesmente o
tipo de pessoa que você é.
Você é do tipo que entra em um lugar sabendo que todos os
olhos estão em ti, e isso não parece te preocupar nem um pouco, muito pelo
contrário. Do tipo que tem uma piada para cada situação, uma música que ninguém
conhece, uma história que surpreenderia a todos. Do tipo que escuta, que se
preocupa, que não te deixa para trás por nada. Você é do tipo que sabe que
arranca suspiros, mas nem por isso se vangloria de nada. Do tipo que me aparece
quando mais preciso. Meu coração é uma bomba relógio e você é a responsável por
iniciar a contagem regressiva. Você é do tipo que faz pedacinho de pessoas como
eu. E acho que sempre soube disso.
Me lembro bem de como me senti como te vi pela primeira vez.
E todas as vezes seguidas nesse tempo, são exatamente iguais à primeira. O
coração acelerado, a vontade de te levar para longe somado ao receio de me
aproximar. Naquela segunda-feira, tanto tempo atrás, eu soube que a contagem
regressiva no meu peito havia começado, bem silenciosa e sorrateira, mas
impossível de se parar. Nos últimos tempos eu vejo claramente a contagem
acelerando como nunca antes e tenho a noção de que é apenas uma questão de
tempo. O painel no meu peito pode zerar a qualquer momento e sei que depois
terei que juntar cada caco meu que sobrou, mas eu mal vejo a hora de ser
destruído novamente.
Como de costume, a ouvi destrancar a porta de entrada, e em
seguida fecha-la. Escutei o som de saltos sobre o chão de madeira da sala. O
som das chaves do carro sendo deixadas sobre o balcão. Meu coração batia rápido
em meu peito e meus ouvidos pareciam pulsar no mesmo ritmo. Tentei me acalmar
para que pudesse ouvir normalmente, mesmo já sabendo que não ouviria nenhum
outro som do andar de baixo. Ela não podia estar em casa. Mesmo relutante
me pus para fora de meu quarto, encostando a porta atrás de mim. Já não ouvia
mais seus passos, não ouvia sequer os meus, abafados pelas meias grossas que
vestia.
Desci cada degrau como se não quisesse que a escada chegasse
ao fim, ouvindo o rangido de um deles. Ao pé da escada olhei em volta, nada de
diferente. A porta estava trancada exatamente como havia deixado algumas horas
antes. Não havia chave alguma sobre o balcão. Em passos rápidos fui até a
cozinha e separei o que seria necessário para me preparar uma caneca de café.
Dificilmente conseguiria voltar a dormir, então que passasse as próximas horas
corrigindo as provas de meus alunos.
Assim que o líquido escuro começou a pingar no interior da
caneca de porcelana, ouvi o rangido vindo da escada novamente e o ar em meus
pulmões pareceu congelar por alguns segundos. “É tudo
coisa da sua cabeça.” Repetia mentalmente enquanto fazia meu caminho de
volta para o andar de cima só para encontrar a porta, que eu tinha certeza que
havia fechado, entreaberta. Entrei rispidamente no cômodo, como se esperasse
assim pegar alguém no flagra, o que não aconteceu.
De volta à cozinha, sentia seus olhos sobre mim. Enquanto
pegava a caneca com as mãos trêmulas, fantasiava que ela estava de pijama, os
cabelos bagunçados, sentada à mesa atrás de mim, com uma caneca como a minha.
Tinha insônia, sempre acordava às três da manhã; e eu seguia seus passos. Meus
olhos ardiam, minha cabeça doía, porém sabia que não voltaria a dormir. Por
saudade, por medo, por culpa.
Quando me virei para
onde a imaginara, lá estava ela. Só reconhecia aqueles enormes olhos verdes.
Pude sentir todo o ar de meus pulmões me deixando enquanto algo me perfurava o
abdome. Senti um gosto de ferro em minha boca enquanto deixava a caneca se
partir no chão.
“Por que você não me
ajudou?” Ela dizia com a voz chorosa.A pele mal existia, era quase carne viva. “Você me deixou pra morrer.” Soltou entre dentes enquanto me perfurava
novamente. Coloquei as mãos sobre minha barriga e senti o sangue escorrer. “Como?” Indaguei soltando uma bolha
vermelha e brilhante com a boca. Sem resposta, senti mais três perfurações
antes de desmoronar. Enquanto me arrastava pelo piso da cozinha, inutilmente tentando
alcançar o longo fio do telefone, ela me observava da mesa. Um sorriso macabro
no rosto.
n/a: Eu demorei infinitamente mais do que eu planejava para escrever a sequência da última parte de WAYF que eu postei então me sinto na obrigação de fazer uma breve recapitulada da história até agora, caso você esteja meio perdido. E caso você não tenha lido a parte 9 faça isso já, não quero te dar spoilers. Então lá vamos nós: *voz de narrador* AND HERE'S WHAT YOU MISSED ON WRAPPED AROUND YOUR FINGER: Começamos com Allison, uma jovem atriz, que conhecendo Joshua, um jovem empresário e herdeiro de uma considerável fortuna, em uma cafeteria aleatória. Josh, o cara que fuma demais, bebe café demais e é gato demais. Os dois se apaixonam loucamente, Ally entra para uma nova sitcom onde faz amizade com um monte de gente legal, incluindo Tyler que também é super gato e super alto mas isso não vem ao caso. Então Joshua precisa ir embora por motivos de trabalho - e de pai que não entende nada - e Ally fica dia e noite chorando, fumando e tomando café, enquanto sua melhor amiga e fiel escudeira Charlie não sabe como ajudar. As coisas vão piorando até que o relacionamento a distância de Josh e Ally acaba e Joshally is no longer a thing e Tyler se esforça ao máximo (a pedido de Josh) para deixar Allisson feliz e saudável até que: Oops, ninguém escolhe por quem se apaixona e Tally is onn (amizade colorida mas tá valendo). É muito amor, é muita fofura, é muita alegria porém nem tudo são flores e depois de passar a noite na praia na véspera do aniversário de 22 anos de Allison, ela e Ty se envolvem em um acidente de carro e tudo fica muito preocupante por algum tempo. Vai ficar tudo bem, calma. Agora sim, vamos para a parte 10:
Charlotte
Ashton e eu ainda dormíamos quando meu celular começou a
vibrar na mesa de cabeceira. Rolei mal humorada até que minha mão direita
encontrasse o aparelho. Precisei coçar meus olhos antes de conseguir ler o nome
que brilhava no visor: Tyler.
- Ty? Tá tudo bem? – Em dois segundos eu estava tão acordada
quanto eu estaria se tivesse tomado dez canecas de café.Eu sabia que não estava tudo bem. Tyler não
me ligaria às 8 da manhã se estivesse tudo bem.
- Charlie, eu tô no hospital com a Ally. Nós... Um babaca
bateu no nosso carro no comecinho da manhã e agora a gente tá no UCLA Medical
Center.– A voz de Tyler estava fraca e
tremida, como se estivesse se segurando para não chorar. Nunca o imaginei numa
situação dessas.
Eu não sabia o que fazer. Foi como se por alguns segundos
meu cérebro sofresse um apagão e eu não soubesse lidar com informação nenhuma,
até que como numa explosão tudo veio a tona ao mesmo tempo. Ally estava no
hospital, provavelmente ferida. A minha melhor amiga estava no hospital.
- MAS O QUE ACONTECEU? A ALISSON TÁ BEM? VOCÊ TÁ BEM? ELA TÁ
ACORDADA?
- Eu não sei Charlie, eu não sei o que aconteceu, eu não sei
de onde aquele... – a voz quebrada – A Ally tá fazendo uns exames agora. É
culpa minha, só pode ser, eu tava com sono, devo não ter visto o carro, eu... Eu não sei o que fazer Charlotte.
Ele chorava. E eu chorava. Ashton, meio acordado e meio
dormindo, me olhava preocupado enquanto tentava entender o que acontecia.
- Tyler... Tyler, fica calmo. – respondi com o máximo de
calma que consegui juntar em mim - Os pais da Ally já estão pra chegar no
aeroporto, assim que eles estiverem aqui nós vamos pro hospital. Vai ficar tudo
bem, você me deixa informada de qualquer coisa ok? Respira fundo, vai ficar
tudo bem.
- Me liga se precisar. – Completei antes de largar o
aparelho sobre o colchão e abraçar meus próprios joelhos.
Mesmo com a minha cabeça apoiada em minhas pernas e de olhos
fechados, eu sabia que Ash me observava. Seus braços me puxavam para junto de
seu peito descoberto, suas mãos acariciavam os meus cabelos. Soava como uma
manhã normal para nós dois; exceto que minha melhor amiga e o melhor amigo do
meu namorado haviam sofrido um acidente sobre o qual eu não sabia quase nada.
Só a ideia de que algo de ruim pudesse ter acontecido com Ally, virava meu
estômago de cabeça para baixo.
- Vai se arrumar amor, - Ele me disse antes de me beijar a
testa – eles chegam no aeroporto em uma hora.
- Ei – Ashton disse levantando meu rosto com a ponta dos dedos
– vai ficar tudo bem, eu te prometo ok?
Concordei com a cabeça.
- Você me conta o que aconteceu no caminho. – Completou
antes de me soltar e correr atrás de uma troca de roupa limpa com que pudesse
se vestir.
Tyler
A minha própria voz pedindo que Ally ficasse acordada ainda
ressoava nos meus ouvidos, como se os auto falantes da sala de espera
insistissem em gritar o que eu tentava tanto esquecer. Sentia que todos os
pares de olhos daquele lugar estavam me observando. Mas também pudera, tanto
minha camisa quanto minha calça estavam com grandes manchas de sangue. Tive o
supercílio direito cortado, assim como outro corte de aproximadamente 5
centímetros que chegava quase a alcançar meu coro cabeludo. Por sorte meus
cabelos estavam grandes o suficiente para esconder o corte maior. Ao todo,
foram 12 pontos. E uma costela fraturada.
Queria sair daquela cadeira, encontrar Allison, saber que
ela estava bem, mas não podia. Já havia feito tudo que poderia para matar o
tempo. Repassei todas os cuidados que os médicos responsáveis pelo meu
atendimento me deram, tomei um café (bem ruim, na verdade), falei com os
policiais sobre o acidente e acertei as questões do seguro do meu carro, andei
de um lado para o outro do hospital, telefonei para Charlotte e ainda assim o
tempo parecia se arrastar.
“O que você foi fazer, Tyler?” “Não é porque você tem essas
crises idiotas que você precisa levar a pobre da garota junto”, conseguia ouvir
meu pai dizendo claramente. Ele não poderia ficar sabendo, nosso relacionamento
ficaria ainda pior – se é que isso é possível.
Respirei fundo e senti uma pontada no lado esquerdo do meu
corpo. Já não doía tanto, os analgéticos funcionavam maravilhosamente bem. Com
os cotovelos sobre minhas pernas, escondi meu rosto entre as mãos por alguns segundos;
as pessoas daquela sala já haviam me visto chorar demais para algumas horas. Eu
jurei que cuidaria de Ally, e lá estávamos nós em um hospital. Parte por minha
culpa. Eu poderia ter feito outro caminho. Eu poderia ter olhado para o lado de
onde veio o carro mais uma vez antes de passar. Eu poderia ter levado ela para
casa na noite anterior, ao invés de ter inventado toda aquela história de ir
para a praia de madrugada.
Mas não foi isso que eu fiz.
Já estava exausto por toda essa situação quando um senhor
rechonchudo e de meia idade foi até a cadeira em que eu estava largado,
enquanto arrumava os óculos de grau sobre o nariz arredondado.
- Tyler Hawkins? – O homem me perguntou depois de olhar a
papelada que carregava nas mãos. Fiz que sim com a cabeça enquanto me
levantava. Ele devia ser quase meio metro mais baixo do que eu, resolvi voltar
a sentar depois que apertamos as mãos.
- Allison está bem, fique tranquilo. – o médio me deu um
tapa reconfortante no ombro quando disse isso, e senti como se finalmente
conseguisse respirar novamente – Não houve nenhum trauma cerebral, o desmaio
foi mais pela pancada e estresse do momento do que qualquer outra coisa. Já
fechamos seu corte na testa e no momento estão engessando seu braço. Fora isso
não houve outras fraturas, felizmente.
Então era como se o peso do mundo todo finalmente saísse dos
meus ombros. Já estava me sentindo culpado o suficiente por tudo isso, não
conseguia nem imaginar como conviveria comigo mesmo se algo mais grave tivesse
acontecido com Allison. Não ligava para a minha saúde, nem um pouco, mas só de
imaginá-la sofrendo, eu preferia estar sozinho no carro.
- Pelo o que eu soube do acidente sua amiga teve muita
sorte, se você estivesse dirigindo um pouco mais devagar o outro automóvel teria
acertado o lado do carona em cheio. Provavelmente seria bem pior. – Completou.
- Quando eu posso ver minha namorada doutor? – Minha namorada. Era engraçado me referir
a ela como minha namorada, mas ah... a sensação era maravilhosa.
- Sua... – o senhor sorriu sem graça antes de arrumar os
óculos sem necessidade nenhuma – Me desculpe rapaz, achei que fossem só amigos.
- Nós tentamos isso, - respondi rindo enquanto passava a mão
na nuca – não deu muito certo.
- Vocês formam um belo casal, Hawkins. De qualquer forma –
consultou os papeis que carregava mais uma vez antes de voltar a me olhar –
Allison está no quarto 106. Ela é a única usando o quarto então você pode
entrar se quiser.
Agradeci o homem que com um aceno de cabeça e um sorriso cordial
foi se afastando de onde eu estava sentado, porém após alguns poucos passos,
voltou para minha direção e disse:
- Estou indo para o quarto de sua namorada agora, quer me
acompanhar?
No segundo seguinte eu já estava a caminho do quarto.
Ally
- Pode ser um pouco difícil mas tente ao máximo não molhar o
gesso durante o banho, certo? Enrolar o braço em um saco plástico costuma
funcionar bem. – A ortopedista que me atendera me passava as últimas
recomendações. Ela devia estar na casa dos 40 anos, os cabelos escuros presos
no topo da cabeça, o olhar cansado.
- Daqui a pouco os analgésicos farão efeito e você vai
sentir bastante sono, pode dormir tranquila, certo? Sua dor de cabeça e
muscular vão passar até mais rápido com um pouco de descanso.
Concordei com a cabeça e sorri o máximo que consegui até que
minha atenção se virou para leves batidas na enorme porta branca do quarto. Assim
que ela se abriu eu vi um senhor rechonchudo e de óculos de grau, estender seu
corpo para o interior do local.
- Davies? Posso falar com você aqui fora um pouquinho? –
perguntou sorrindo para a mulher que apoiava a mão no meu ombro. A doutora me
desejou melhoras e confirmou que em algumas horas eu já estaria livre para ir
para casa antes de sair pela porta – Tem uma pessoa aqui querendo muito te ver,
Alisson. – O senhor gordinho completou antes de dar espaço para que Tyler
entrasse.
O médico disse mais alguma coisa antes de sair, mas eu não
consegui prestar atenção.
Assim que Tyler pisou para dentro do cômodo com os olhos
azuis marejados, saltei da cama na qual eu devia descansar. Ele estava bem,
estava inteiro. Com as roupas manchadas de sangue, mas bem. Não sei se alguma
vez ele me abraçara como naquele momento. Seu peito vibrava, os braços fortes
me segurando como se estivesse com medo de me deixar cair, seus lábios beijando
cada milímetro que conseguiam alcançar.
- Me desculpe, me desculpe, me desculpe – ele dizia entre
cada beijo, a voz fraca e rouca.
- Não foi culpa sua. – respondi com a voz tão embargada
quanto a do ruivo. Me lembrei de seu desespero dentro do carro, não largando de
minha mão nem por um segundo. Me lembrei da história que havia me contado
poucas horas antes. Eu poderia não estar naquele hospital no dia do meu
aniversário, mas de alguma forma eu estava grata por isso.
- Eu te amo tanto, Allison Rose O’Callaghan. Tanto. – Tyler
me disse com os olhos avermelhados por culpa das lágrimas, segurando meu rosto
entre suas mãos. Seus polegares delicadamente acariciando minhas bochechas e
secando algumas lágrimas teimosas.
- Eu te amo, Tyler Joseph Hawkins. Demais. – respondi antes
de lhe beijar os lábios com calma – Você pode não acreditar – comentei partindo
o beijo sem me distanciar do rapaz – mas esse foi um dos meus melhores
aniversários.
Ty riu com nossas testas coladas, e eu senti alguma coisa se
debatendo dentro de mim enquanto ele deslizava suas mãos até o cós da minha
calça jeans.
- Fico feliz que você tenha gostado baixinha. Mas ano que
vem acho melhor a gente pular a parte do acidente de carro.
- Se você diz – dei de ombros rindo, sabendo que isso o
faria sorrir.
- Sério, eu tenho que perguntar para Charlie mais tarde que
tipo de desastres aconteceram nos seus últimos aniversários pra esse ser um dos
melhores. – ouvir seu riso me fez esquecer a dor que eu sentia, me fez esquecer
do peso que eu carregava no meu braço direito, me fez esquecer do que havia nos
levado para lá.
- Você é impossível mesmo grandão.
Por sorte a cama do quarto era grande o suficiente para que
nós dois nos deitássemos, bem juntinhos, mas era o bastante. Deitei minha
cabeça sobre o travesseiro ao invés de sobrepeito de Tyler, ele insistia que me apoiasse nele mas eu conseguia
sentir que sua respiração falhava quando o fazia. Apesar do cheiro de hospital
e sangue seco que o ruivo emanava, apesar dos murmúrios que eu escutava do lado
de fora e do som de passos apresados para todo lado, estar deitada ali era
bastante relaxante na verdade. Ty beijava minha testa e fazia carinho na minha
nuca como se minha vida dependesse disso, e talvez por conta dos remédios ou da
noite sem sono algum eu adormeci; provavelmente bem mais depressa do que eu
imagino.
Charlotte
O clima no interior do carro do meu namorado conseguia ser
ainda mais terrível do que eu imaginava. Os pais de Allison quase não falavam
no banco de trás e espiando pelo retrovisor consegui ver que os dois não
soltavam as mãos um do outro. De três em três minutos eu tentava falar com
Tyler mas como sempre, a operadora dizia que ele estava numa área sem sinal.
- Nada? – Ashton sussurrou para mim quando larguei meu
celular sobre meu colo mais uma vez. Neguei com a cabeça antes de apoiar meu
braço direito próximo a janela e deitar minha cabeça nele.
- Já estamos chegando Sr. e Sra. O’Callaghan, tenho certeza
que a filha de vocês está bem. – Ouvi Ash dizer ao meu lado, o tom de voz um
pouco mais alto e mais sorridente do que eu esperava.
- Obrigada querido. – Lauren, mãe da Ally, soltou quase num
suspiro antes de afagar o ombro do motorista – Vocês dois são ótimos, obrigada
por tudo Charlie. – a mulher que me viu crescer soltou afagando meu ombro, a
voz doce de sempre.
- É o mínimo que eu poderia fazer.
***
Depois que finalmente chegamos ao hospital - a meia hora
mais eterna de toda a minha vida - e nossa entrada na emergência foi liberada,
deixei que Lauren e Edward seguissem na frente acompanhados de uma das
enfermeiras; Ashton e eu seguíamos logo atrás.
- Tá tudo bem? - Meu namorado sussurrava em meu ouvido, o
braço tatuado me segurando a cintura. Neguei com a cabeça. – O que tá se
passando nessa sua cabecinha?
Eu precisei respirar fundo antes de voltar a falar.
- Eu sinto que de algum jeito isso é culpa minha – quando
ergui meus olhos, encontrei Ashton com a expressão mais confusa possível – sei
lá, eu sinto que eu poderia ter evitado isso. Quando nós éramos crianças tinha
um grupo de garotas na nossa escola que gostavam de zoar a Ally por causa do
aparelho ortodôntico que ela usava e ela realmente se magoava com isso. E eu
prometi que nunca deixaria que nada a machucasse e agora... Pela primeira vez
ela literalmente se machucou e eu nem estava lá pra ajudar.
Ashton soltou o ar de seus pulmões pesadamente antes de me
puxar para seu peito e me segurar forte, beijando a lateral da minha cabeça. “Eu
sei que é bobo, mas eu fico pensando que se eu estivesse lá isso não teria
acontecido”, soltei com a voz estranha por estar com a bochecha prensada contra
o peito dele.
-Você sabe que não é culpa sua bebê, e se você estivesse
junto o máximo que teria acontecido seria você também estar lá dentro agora.
Não foi culpa sua, não foi culpa do Tyler, foi culpa do babaca do outro carro,
certo? Olha pra mim. – Ashton disse se afastando poucos centímetros de mim e
levantando meu rosto com calma.
- Não tinha como você evitar nada disso, mas isso não
significa que você não pode ajudar. Você já tá ajudando na verdade Charlie e se
tem uma coisa que eu sei é que você nunca deixaria a Ally na mão. – Me disse
com um sorriso de canto de boca e eu tive que sorrir junto.
- E se tem outra coisa que eu sei – ele continuou, me
puxando de volta para ele pela barra da camiseta que eu vestia – é que eu te
amo mais do que tudo. E que você fica linda vestindo roupa minha.
Por vezes Ashton se faz de machão, o tipo “não tenho sentimentos”
e “não ligo pra nada”, mas no fundo esse é ele. Fofo, sempre preocupado comigo
e com qualquer outra pessoa, que me empresta uma camiseta quando eu não consigo
encontrar a que eu estava vestindo antes, que percebe quando alguma coisa está
errada sem que eu precise dizer nada. Ele tem cara de mal, cabelo desgrenhado e
tatuagens, mas tem também um coração enorme e eu sou muito sortuda por ocupar
um espacinho nele.
- Vocês vão entrar? – A enfermeira dizia
Allison
- Sua idiota! – Charlie disse logo após ter colocados os pés no quarto em que eu estava, seus olhos estavam
marejados mas a garota sorria mesmo assim – Você quase me matou do coração.
Disse vindo em minha direção com os braços preparados para
um abraço que saiu meio desengonçado já que eu tinha um dos meus braços
imobilizados junto do meu corpo. Ashton me abraçou com força até me levantar
alguns centímetros do chão. “Vou querer assinar isso aí depois, ok?” sussurrou
no meu ouvido quando voltou a me por no chão. Sabia que meu gesso não ficaria
em branco por muito tempo.
Charlie e Ash me olhavam com as mãos apoiadas na ponta da
cama em que minha mãe e eu estávamos sentadas, enquanto meu pai ficava na
poltrona com Tyler como se estivesse de guarda ao seu lado. Era fofo o quão sem
jeito ele estava de estar junto dos meus pais.
“Mãe, pai, esse é o Tyler” falei depois que consegui
convencer meus pais de que eu estava bem. Ty havia pulado da cama numa
velocidade assustadora assim que meus pais entraram no quarto e parecia não ter
nem piscado nesse meio tempo. “Ele é meu...namorado”, completei segurando a mão
do ruivo que corou instantaneamente. Os olhos de minha mãe passavam do rosto do
meu pai, para sorriso no meu rosto, para as nossas mãos entrelaçadas, para o
jeito que Tyler me observava e de volta ao meu pai em milésimos de segundo.
Ela não disse nada, apenas veio até nós dois em silencio e
com um sorriso no rosto e nos abraçou. Sussurrou alguma coisa para Ty que eu
não consegui entender já que estava sendo esmagada entre os dois, mas meu
namorado – estranho falar assim – afirmou com a cabeça, então acredito que
tenha sido algo bom. Meu pai se limitou a cumprimentar Tyler com um meio
sorriso e um aperto de mão. E mesmo com meu braço quebrado, um machucado no
rosto e as roupas sujas de sangue, eu me sentia estranhamente bem. Talvez
fossem as companhias.
- E quando você vai poder voltar pra casa Ally? Ainda tenho
que fazer o seu bolo.
De volta ao presente, Charlie me perguntava com os braços de
Ashton ao redor do seu corpo esguio.
- Acho que não demoro muito, a médica disse que só precisava
conferir uns papeis, uma meia hora talvez.
- Tyler, querido, você deveria voltar pra casa. – Minha mãe
disse indo de encontro a ele, a voz doce – Você precisa descansar, de noite tem
jantar de aniversário da Ally no apartamento das meninas e a sua presença é
indispensável, certo?
- Já que a minha baixinha – pausa pra deixar claro que eu
derreti ao ouvir o “minha baixinha”-
está em boas mãos agora acho que vou fazer isso mesmo, muito obrigado Sra.
O’Callaghan. Tchau baixinha – ele disse com um sorriso cansado antes de beijar
o topo da minha cabeça, como de costume.
- Sr. e Sra. O’Callaghan, foi um prazer conhecer vocês. –
“Não vá esquecer do jantar, querido” minha mãe falou rápido, fazendo-o rir. –
Não vou esquecer.
Se despediu de Charlotte com um beijo no rosto e virou para
um abraço com Ashton que o interrompeu dizendo:
- Cara, seu carro não foi pra oficina?
- Foi, foi sim, vou pegar um taxi aqui na frente. – Assim
que Charlie abriu a boca para protestar Ashton completou:
- Eu tô com o meu carro aqui cara, eu te deixo em casa, o
taxi vai ficar caro.
- Mas... – Antes que Tyler encontrasse qualquer complicação,
Charlie soltou “Eu volto com os pais da Ally de taxi, o ap é bem mais perto
daqui do que a sua casa, não se preocupa Ty”- Não vai ficar muito fora do seu
caminho cara?
Ty perguntava sem jeito para o amigo que com um tapinha
amistoso nas costas do ruivo, completou antes de trocarem um sorriso:
- Imagina se seria um problema Tyler. Sou seu melhor amigo
ou não?
- O melhor do mundo todo.
Tyler
- Puta merda.
Soltei quando vi a quantidade de ligações perdidas de minha
mãe que apareciam na tela do meu celular. Quatorze ligações.
- O que foi? – Ashton perguntava sentado ao meu lado, o
rosto preocupado porém sem desviar os olhos do trânsito.
- Aparentemente minha mãe descobriu sobre o acidente porque
ela me ligou 14 vezes no celular. Ela nunca liga no meu celular.
Guardei o aparelho no bolso da minha calça manchada
novamente. Ligaria quando chegasse em casa, ela já esperou mais de uma hora, 5
minutos não seria nada. Mick Jagger cantava no rádio mas meu amigo, e grande fã
dos Stone, não o que era bastante estranho. Sei que eu estava sério, também
pudera, não havia dormido nada e ainda me envolvido em um acidente de carro;
mas o silêncio de Ashton estava começando a me preocupar. Assim que eu abri a
boca para perguntar se estava tudo bem, Ash foi mais rápido:
- Você sabe que não é culpa sua né? – Perguntou me olhando
rapidamente. O rosto preocupado.
- Você sabe que quem tava errado era aquele filho da mãe,
né?
Insistiu, me olhando de relance em pequenos intervalos. Não
respondi, apenas respirei fundo e raspei uma das machas de sangue de minha
calça com a ponta da unha. Provavelmente teria que jogá-la fora, o que era uma
pena.
- Até a Charlie tá se sentindo culpada. E eu sei, é loucura
ela estar se sentindo culpada sendo que nem por perto ela estava – Continuou depois
que eu o olhei com o meu mais profundo e sincero olha de “????” – O que eu
quero dizer é: Nenhum de vocês é culpado pelo acidente. Você sabe que fez o que
pode para que isso não acontecesse, mas infelizmente existe muita gente filha
da puta por aí.
Tentei segurar o riso mas foi em vão. Só Ashton conseguia
dar apoio para alguém e xingar ao mesmo tempo. Eu sabia que ele falava sério,
mas talvez pelo sono era difícil não achar graça no seu discurso. Assim que
estacionamos em frente ao prédio em que moro, Ashton me abraçou dando três
tapinhas em minhas costas e completou:
- Agora me faça um favor e tome um banho, você tá fedendo a
sangue seco.
Charlotte
- Charlie?
- Oi?
- Você pode trazer meu celular? – Mal conseguia entender o
que Allison dizia com a cara enfiada em seu travesseiro. Os olhos verdes quase
fechados mas ainda assim queria o celular, maldito vício. – Tá... Na minha
bolsa? Acho que tá.
- Pode deixar que eu encontro, não precisa se preocupar.
Dito isso sai em direção da sala de estar, onde acreditava
que tinha visto Lauren largando a bolsa da filha antes de ir para o hotel. De
fato estava lá. Assim que abri o zíper, senti uma vibração vindo lá de dentro,
porém precisei retirar tudo de dentro para que finalmente encontrasse o
aparelho. Incrível como uma bolsa daquele tamanho conseguia ser tão bagunçada.
A tela do celular de Allison estava abarrotada de notificações.
22 ligações (minhas, vale dizer), um 100+ no ícone do Twitter, e uma notificação
de uma nova mensagem; aquela que fez o interior da bolsa vibrar segundos antes.
O destinatário fez meu coração parar por alguns segundos.
“Feliz aniversário
princesa! Espero que você tenha um dia maravilhoso, assim como uma vida
maravilhosa. Você não merece nada menos do que isso. Saudades do tamanho da distância.
Com amor,
J.”
Li a mensagem incontáveis vezes. Fechei meus olhos e
respirei fundo. Lembrei do estado em que Ally estava poucos meses antes,
lembrei do cheiro de cigarro constante, das noites que a ouvi em prantos em seu
quarto, sem ter como ajudar além de oferecer um ombro amigo. Me lembrei da Ally
do dia anterior, do sorriso que teimava em não sair de seu rosto, lembrei da
forma com que seus olhos se iluminavam quando via Tyler. Eu sabia o que era
melhor para ela. Eu sabia o que tinha que fazer.
Selecionei o botão “deletar
mensagem” e voltei para o quarto de minha amiga.
O que os olhos não veem o coração não sente, certo?
22/12 - noite
Allison
Esse foi oficialmente o melhor aniversário da minha vida.
Gravei um vídeo que estava fazendo um baita sucesso na internet com 3 das
minhas pessoas favoritas, ganhei um ingresso para o show de uma das minhas
cantoras favoritas, passei a noite toda na praia com o cara que eu amo (e
depois sofremos um acidente de carro mas essa parte a gente pula). Meus pais
organizaram um jantar delicioso com meus pratos favoritos e me mimaram o dia
todo e recebi flores e ligações amorosas o dia todo. (minha sogra – uau,
continua estranho – ficou longos minutos me perguntando se eu realmente não
queria que ela cruzasse o país para cuidar de mim e de Tyler.) O apartamento
estava parecendo uma floricultura, sem mentira.
Por conta do imprevisto, Charlie não teve tempo de me
preparar o bolo que queria, mas ainda assim me fez uns 30 cupcakes de chocolate
recheados com manteiga de amendoim (meu favorito), lindamente decorados com
flores de açúcar, um deles com um par de números dois roxos. No fim do dia, eu
não mudaria nada nas últimas 48 horas. Bem, talvez a parte em que quebrei meu
braço, aquele gesso era pesado e meu braço coçava. Mas fora isso, não tinha
motivos para desejar que fosse diferente.
Enquanto meu pai desejava um brinde pelo meu aniversário,
olhei para cada um que estavam sentados àquela mesa e me surpreendi com o
tamanho do afeto que eu sentia por cada um. O quanto eu queria abraçar cada um
deles e agradecer por horas pelo simples fato de existirem. E eu senti saudades
dele, não vou negar. Me perguntei mentalmente se ele lembrara do dia, se havia
pensado em mim, mas rapidamente espantei todas essas perguntas para o mais
longe possível. Tyler estava ali, um dos braços ao redor da minha cintura,
nossas testas coladas, e era só isso que eu precisava.
- Gostou do seu aniversário, baixinha?
- Demais.
Seus olhar estava tão calmo, a voz tão tranquila, como se
fosse adormecer a qualquer instante. Notei então que eu havia decorado a
posição de suas sardas e que seus olhos pareciam mais azuis a cada dia. Depois
de toda a turbulência do dia, estar só nós dois na minha cama, apenas olhando
um para o outro era algo absurdamente calmante.
- O que você achou dos meus pais?
Perguntei fazendo com que Tyler soltasse uma gargalhada.
Aparentemente ele estava pensando na mesma coisa. Eu amo o modo que seu pomo de
Adão meche enquanto ele ri. Eu amo como ele aperta os olhos com força e amo as
ruguinhas que se formam nos cantos deles.
- Sua mãe é uma querida. Seu pai é bem sério, mas é fácil de
ver que ele gosta de entreter as pessoas, me contou uma piada sobre o
descobrimento da América e eu não tenho certeza se eu entendi, mas ri mesmo
assim. – Essa foi a minha vez de gargalhar. Isso era bem típico do meu pai -
Mas sei lá, acho que ele não gosta de mim. NÃO POSSO CULPÁ-LO.
Era incrível como em poucas horas tantas coisas haviam
mudado. Como em alguns meses nosso relacionamento havia se tornado algo que eu
jamais imaginara. Depois de tanto tempo eu me sentia tão profundamente feliz
que ficava até um pouco preocupada, como se a qualquer momento as coisas fossem
ralo abaixo novamente. Não sei se eu conseguiria perder Tyler como havia
perdido Joshua. Não queria. Não me permitiria.
- Você não tem medo?
Soltei aleatoriamente enquanto passava a ponta do meu dedo
indicador pelo peito de Tyler, jogando um “ligue os pontos” imaginário com suas
sardas.
- Que seu pai não goste de mim e esteja planejando uma
vingança por ter te envolvido num acidente de carro? Muito.
Me senti tão boba que desejei poder guardar aquelas palavras
de volta na minha boca. E as que eu disse em sequência também.
- Você não tem medo disso?
– Continuei enquanto apontava rapidamente de seu peito para mim – Você não tem
medo de não darmos certo?
Tyler respirou fundo. Reconheci seu olhar, era o mesmo de
quando perguntei o que nós seríamos depois do que aconteceu em sua festa de
aniversário.
- Não. - Por fim me deu um sorriso de canto de boca antes de
puxar uma longa mecha do meu cabelo para trás de minha orelha esquerda – Eu não
sei como a vida vai ser daqui uma semana. Um mês, muito menos daqui dez horas,
mas eu sei que eu te amo. E eu sei que você me ama, o que é incrível, mas mesmo
se você não sentisse o mesmo por mim eu continuaria te amando.
Então deitou a cabeça no mesmo travesseiro em que eu deitava
a minha, o movimento de seus cílios gerando uma brisa leve em meu rosto.
- É claro que eu me preocupo com o futuro, e me pergunto
como seria se eu tivesse te conhecido um pouquinho antes, mas no fim nada disso
importa. Eu continuo te amando e vou continuar mesmo que você se canse de mim.
- Deus do céu, eu tenho ou não tenho o melhor namorado do
mundo? – Disse rindo em direção ao teto do meu quarto.
- Tem sim. E eu tenho a melhor namorada.
- Isso é verdade. – Respondi antes que Tyler passasse seu
braço ao meu lado para que ficasse com o rosto sobre o meu antes de me beijar
os lábios. Bem, se estou vivendo um sonho por favor não me acordem.
Por Mariana J.
n/a parte 2: PARTE 10 GENTE!!!!!!!!!!!! Sério, eu achava que ia acabar essa história quando chegasse na 10 mas na verdade tem tanto chão ainda, vocês vão ter que me aguentar por um tempo. Juro que vou tentar não demorar 3 meses para atualizar a história de novo, mas vocês sabem como é, bloqueio criativo + último ano de faculdade é pesado. Deixo vocês com a música desse capítulo. Sim, é Taylor Swift de novo.