Eu o conheci há tantos anos atrás que por vezes me parece
estranho a ideia de que eu já vivia antes dele me aparecer. E agora, depois
dessa boa e longa década, simplesmente não consigo nem ao menos cogitar a ideia
de ficar longe dele por mais de alguns dias. Não sei dizer como foi que tudo
isso começou ou onde foi que aquele garotinho que conheci na minha época de
escola fez casa no meu peito para nunca mais sair, mas por vezes sinto que
somos um só. Aquelas duas crianças que
anos atrás se irritavam por pouco - e ficavam brigados por horas - hoje sofrem
por ter que carregar o peso nas costas de não poder se ver todas as manhãs,
como nos velhos tempos. E sinto como se metade do meu coração batesse no peito
dele e metade do dele no meu, dividindo os mesmos medos, as mesmas paixões,
sonhos paralelos. Tão iguais em tanta coisa.
Não consigo colocar em palavras, por mais que eu tente, a
calma que me inunda todas as vezes que me lembro de que ao fim de cinco longos
dias posso novamente voltar para aquele abraço. Abraço apertado, daqueles que
se dá sem querer largar. Que gruda o perfume de quem te abraça nas suas roupas.
Abraço que aproxima as nossas metades que vivem um no peito do outro. E quando
por algum motivo qualquer aqueles braços não podem me envolver, sinto como se o
resto da semana não fosse funcionar como deveria. E as costas pesam. E o peito
também.
E quando estou com ele eu sei que não preciso me preocupar com
nada. Sei que ele estará lá pra me segurar quando eu cair, como já fez tantas e
tantas vezes antes, e espero que saiba que eu faria o mesmo num piscar de
olhos. Sei o quanto ele se esforça pra entender os meus problemas quando eu
mesma não consigo e que me apoia em qualquer coisa, contando que me faça feliz.
Clichê falar assim, mas ele é aquela pessoa que consegue fazer flores brotarem
nas partes mais escuras e inóspitas do meu peito. Uma das poucas pessoas pra
quem eu simplesmente não preciso dizer nada pois com um olhar ele sabe. Ele
sempre sabe.
Mas eu espero que ele saiba o quanto aquele sorriso enorme
que ele mostra nos lábios todas as vezes que me encontra consegue melhorar meu
dia. O quanto o seu riso me faz falta as vezes e que eu faria absolutamente
qualquer coisa para que ele sorrisse o tempo todo. Espero que saiba também o
quanto eu amo aqueles olhos de ressaca que só ele tem. Grandes, escuros, que
parecem conseguir enxergar a minha alma ao fundo mesmo que por vezes se mostrem
para mim como um poço que não se pode ver onde termina. E quando seu olhar
carrega aquela mágoa que eu já conheço bem, só queria que ele a jogasse toda em
mim. Prefiro carregar o dobro de dor no olhar do que ver aqueles olhos tão
lindos ofuscados por ela.
Pois saiba também que amo seus cabelos e a forma que sempre
deixou que meus dedos brincassem entre os fios castanhos e macios. E ainda que
ele não concorde comigo, ainda vou amar a forma como eles costumavam cair sobre
a sua testa. Mesmo sabendo que não deveria – melhor ainda, sabendo que ele não deveria- amo também a forma como
segura um cigarro entre os dedos. A tragada. Cada pequena nuvem de fumaça que
solta por entre os belos lábios que tem. Seu perfil mal iluminado por poucas
luzes distantes e como eu queria deixar essa imagem gravada na mina mente pra
sempre. Amo também o aroma que fica em mim toda vez que o abraço. O misto de
seu perfume com um pouco da fumaça.
Mas acima de tudo, eu amo a forma que nossas almas se
entendem. O modo que qualquer conversa flui, sem precisar forçar nada. Simplesmente
um assunto puxa outro que passa para outro e no fim estamos falando dos tópicos
mais aleatórios possíveis. E conversando. Um ouvindo o que o outro tem a dizer,
ponderando argumentos, guardando segredos e dividindo risadas. Eu poderia
passar horas nisso. Os dois em qualquer lugar, sem a necessidade de bebidas ou
som ambiente – pois com ele o silêncio nunca é constrangedor, é apenas um
momento que damos para nós mesmos para poder absorver tudo. E a respiração dele
quando adormece ao meu lado vira a melhor trilha sonora, a ponto de tudo
parecer quieto demais quando ele parte.
E esse garoto já esteve ao meu lado em tantos momentos
difíceis que é ridículo para mim imaginar que eu estaria aqui se não fosse por
ele. Mesmo nesses momentos em que tudo parece nublado e o futuro tão incerto
como pode ser, eu sei que não tenho nada a temer. Enquanto ele estiver do meu
lado, nada pode ser tão terrível. Não imagino meu futuro longe dele, da mesma
forma que não lembro como era minha vida antes de conhecê-lo. Depois de tantos
anos dessa presença contínua só o que me resta é agradecer por todas as
lágrimas que ele secou, cada abraço apertado e cada concelho. Agradecer as
palavras tão doces que ele sempre me diz e que colocou no papel algum tempo
atrás de um modo que só ele consegue fazer mas que eu ainda tento imitar,
deixando essas minhas linhas irem de encontro ao peito dele. Não é muito, mas é
o que eu sei fazer.
E sei ainda que se não fossemos quem somos, exatamente como
somos hoje, seriamos aquele tipo de casal que causa um misto de inveja e enjoo
em quem vê, tamanho amor que sei que dividimos. O que realmente importa é que
sei que no dono dos melhores abraços e dos sorrisos mais doces, sei que tenho
meu melhor amigo. O melhor amigo que um dia eu poderia sonhar em pedir. Uma
pessoa que se importa tanto comigo quanto faria com alguém de sua família. Tenho
em Paulo não só a minha alma gêmea, como a certeza de que a outra metade do meu
coração está muito bem guardada.
Por Mariana J.
n/a: Dedico essas minha palavras ao melhor amigo do universo/amor da minha vida/alma gêmea/marido caso continuemos solteiros aos 40 e um baita de escritor: Paulo. Te amo muito monstrinho.
to me apaixonando pela sua escrita. sério mesmo
ResponderExcluirAh sua linda ♡ muito obrigada meeeesmo
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