terça-feira, 24 de junho de 2014

Rodrigo

O conheci no verão de 2009. Dia 22 de Dezembro. Quando trocamos nossas primeiras palavras, eu te garanto que jamais imaginaria onde aquilo iria nos levar. Quando dei por mim ele já fazia parte da minha rotina. Eu acordava cedo durante as férias para que tivéssemos mais tempo para conversarmos; e como falávamos, meu Deus. Ficávamos horas e mais horas falando sobre os assuntos mais abstratos possíveis, das nossas preferencias musicais, as pessoas pelas quais éramos apaixonados na época, nossos planos para o futuro incerto que era o meio para o fim do ensino médio e tudo que passasse por nossas cabeças.  De repente eu passei a sentir meus músculos tensos todas as vezes que ele me falava sobre outra garota. Ciúmes, descobri depois. E ainda mais rápido do que eu esperava, cheguei à conclusão de que estava apaixonada por ele, pouco depois dele ter me dito o mesmo.
“Já disse que te amo hoje?” ele repetia para mim todos os dias. O coração batendo forte como um tambor no meu peito, o ar insistindo em não adentrar meus pulmões, as mãos suadas. Soa assustador, mas a sensação era incrível. Então voltamos às nossas respectivas rotinas. Trocávamos mensagens em horário de aula, mesmo que eu sempre me preocupasse com a possibilidade de ser pega no flagra por algum dos professores. Quase todos os meus cadernos e livros escolares da época tem as sete letras de seu nome escritas em ao menos uma das páginas. Escrevia em caneta todas as manhãs sua inicial no dorso de minha mão. E sempre que eu tentava focar minha mente onde eu estava realmente, meu coração ia de encontro a ele, como um cachorro preso a uma árvore. Rodrigo foi meu primeiro amor.
Quando se se tem 16 anos tudo parece eterno. A vida das pessoas que amamos, nossas amizades, o período escolar; tudo parece maior. Qualquer pequeno problema se torna um grande drama, e com nós dois não poderia ser diferente. Dois adolescentes, apaixonados, temendo o futuro, passando por todas aquelas provações que encontramos nessa idade. Problemas com os pais. O sentimento de não saber aonde pertence. As dúvidas sobre que carreira escolher. Rodrigo estava comigo em todos esses momentos. Mais do que meu primeiro amor, ele foi um grande amigo. Alguém que eu sabia que continuava se preocupando comigo mesmo na época que eu senti que não tinha ninguém ao meu lado.
- Você tem certeza disso?
- Acho que eu tenho.
- Achar não é o suficiente princesa, você tem que querer. Você quer?
- Eu quero.
- Você quer o que?
- Eu quero ser jornalista.
- Não me convenceu. Quero ver animação! Fala assim: “EU QUERO SER JORNALISTAAAA!”
 - Ok, ok: EU QUERO SER JORNALISTAAAAAA!
- Bem melhor.
Aos 16 anos eu achava que sabia o que queria fazer para o resto da minha vida, e mesmo hoje depois de alguns anos, ainda me pego pensando se estou no caminho certo ou se estou apenas correndo atrás do meu próprio rabo. Com a mesma frequência que Rodrigo tirava meu ar com seu jeito único de ser, também conseguia fazer meu sangue ferver de raiva. Brigávamos pelos motivos mais ridículos possíveis. Agora, quando olho para trás, tudo o que eu gostaria de fazer, é ter o poder de transformar cada segundo que passei com raiva do meu primeiro amor em mais momentos felizes para passar com ele agora. 
Os meses – e assim os anos – foram se passando e ao mesmo tempo que nossos sentimentos um pelo outro cresciam, a distância entre nós também. Assim fomos nos falando cada vez menos. Nem sempre recebia mensagens de bom dia assim que eu acordava. Trabalhos, provas, horários, distância física, amigos, afazeres, responsabilidade. Tudo parecia influenciar para nos manter separados, mesmo nós dois sempre planejando o contrário. Ele viria me visitar em algum feriado prolongado. Eu iria encontra-lo em sua cidade natal para que ele pudesse me apresentar a todos aqueles amigos dos quais eu tanto ouvia falar. Férias na praia. Dividindo um apartamento na cidade dos meus sonhos.  Imaginando e arquitetando como seria nosso grande dia, o começo do resto de nossas vidas. Mas nossas vidas foram acontecendo e o tempo se esvaiu entre nossos dedos como areia, sem mesmo notarmos. Assim, de pouco em pouco, simplesmente paramos de nos falar. Tantos planos que nunca realizamos. Eu espero que ele se lembre deles.
De repente eu já não fazia parte dos planos de Rodrigo mas ele continuava nos meus. Os sonhos que tínhamos antes sobraram todos para mim e eu os continuei sonhando por muito tempo. Aos poucos seus rastros foram se apagando e tudo o que eu tinha dele eram algumas mensagens antigas e uma carta de algum tempo depois que tudo começou. Tudo o que eu tinha que provava que meu primeiro amor não fora fruto da minha imaginação e eu me agarrava a essas lembranças como eu queria me agarrar a ele mesmo. Me sobraram as suas palavras já ditas, as que eu nunca consegui dizer e um coração pela metade. Pela metade é exatamente como eu me sentia. Como se tivessem arrancado a força uma parte de mim e deixado a ferida exposta. A sensação de vazio, de ter o chão tirado de debaixo de seus pés, de estar em uma queda livre eterna. O peito apertado. Os olhos vermelhos. E quando meu aniversário chegou, nada de desejos de felicidade, nada de comemoração, nada de planos para fugirmos de madrugada como era nossa tradição. Apenas a saudade.
Por tempo demais eu tentei encontrar em outros o que via nele e todas as tentativas foram em vão, e só agora consigo entender o porque. Rodrigo fora meu primeiro amor. Você pode amar muitas pessoas durante a sua vida mas jamais o amor que você sente por uma será igual ao que sente por outra. Rodrigo foi único na minha vida. Nunca mais terei outro primeiro amor. Nunca mais terei outro Rodrigo. Não importa o quanto eu procure. E de certa forma dói; dói pensar nessa piada de mal gosto que a vida pode ser as vezes. As vezes as pessoas são destinadas a se apaixonarem mas não estão destinadas a ficarem juntas. E assim foi com nós dois. Por algum tempo eu o odiei com todas as minhas forças. Quem ele pensa que é para aparecer do nada, mudar minha vida para melhor e depois me deixar sem nem mesmo um adeus? Mas foi então que eu decidi ver todas as coisas maravilhosas que ele fez por mim. As ótimas bandas que me apresentou, mesmo que meus olhos ainda insistam em transbordar quando as ouço. Todas as vezes em que ele me deu bronca por não estar agindo corretamente, apesar dele não ser o melhor dos bons exemplos do mundo. As risadas que ele tirava de mim sem o menor trabalho. Os concelhos, as palavras de incentivo.
Eu não me apaixonei por Rodrigo por seu visual. Não foram seus olhos castanhos, seus cabelos sempre bem arrumados, suas mãos fortes ou seu sorriso doce que me fizeram entregar meu coração inteiramente a ele. Foi seu senso de humor idiota, a preocupação constante comigo, sua mania de tentar – e conseguir – me fazer feliz, a sensação de pertencimento que eu tinha quando estava com ele, a bondade que transbordava de seu ser, as opiniões fortes, o espirito livre, as palavras de aconchego que sempre chegavam na hora certa, as borboletas no estômago que ele me fez sentir até o nosso último dia.

Ainda hoje eu me pego pensando nesse rapaz para quem eu jurei amor eterno. Somos como duas retas concorrentes. Nos encontramos em um exato ponto e depois seguimos nossos caminhos. Um tanto mudados, mas seguimos.  Ainda hoje eu espero que possamos nos encontrar, mesmo que em algum dia no futuro, em qualquer lugar que seja e começar de novo. Porque apesar do tempo que passa para nós dois, ele sempre será meu primeiro amor. Já sei que a parte que me foi arrancada tanto tempo atrás não pode mais ser colocada de volta, e na verdade eu nem a quero. Prefiro que fique com ela. Prefiro que Rodrigo fique com as minhas juras e todo o amor que eu antes tinha pois até hoje, pouco mais de quatro anos depois, ainda guardo as dele. 

Por Mariana J. 

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