segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sobre insônia, drogas e você.

As noites que antes eu passava segurando seu corpo contra o meu, passo agora de olhos bastante abertos. Eu gasto as horas das minhas madrugadas insones largado no sofá pequeno da minha sala, os dedos zapeando os canais da televisão pelo controle remoto. Virando doses de whisky barato ou taças de vinho. Escrevendo poemas ruins. Comprando coisas das quais não preciso de catálogos online, com dinheiro que não tenho.  Na manhã seguinte, mesmo sem ter pregado os olhos por um segundo sequer, saio para o trabalho com a minha camisa mal passada e um nó mal feito na gravata. Os óculos escuros se tornaram meus melhores amigos, seja para disfarçar os enormes semi círculos arroxeados nos meus olhos, seja para manter longe da minha ressaca a luz do dia. Passo o dia preenchendo cada centímetro possivelmente vazio do meu corpo com cafeína; tentando me manter vivo. Pelo menos na aparência.
Caso você queira saber, eu ainda tomo os meus remédios. Tanto os tomo que já aprendi a lidar com os efeitos colaterais que o álcool quando somado às outras drogas me causam. Aparentemente essa foi a única coisa com que eu aprendi a lidar nos últimos tempos. Sim, eu procurei ajuda para resolver meu problema de falta de sono mas assim como os remédios que eu já tomava antes, os novos comprimidos não fazem efeito algum. Três meses. Três meses sem dormir. Três meses que mais me parecem um único dia, que eu vejo se por e nascer de novo sem que ele termine para mim. Três meses sem sono, três meses sem você.
Passo a semana inteira nesse loop infinito de cafés, remédios, compras supérfluas, programas ruins de auditório, álcool barato, poemas escritos porcamente em guardanapos e saudade. Quando chega o fim de semana eu aproveito a minha falta de sono e me lanço para fora de casa. Tomo um banho frio, me perfumo – não, não com aquele perfume que você me deu – me visto com uma roupa qualquer e saio. Só o essencial: uma quantidade considerável de dinheiro na carteira, as chaves do meu carro e um maço de cigarro. Dirijo pelas ruas como se fosse o único nela. Para minha surpresa – e profunda tristeza – nunca me acidentei ou estive envolvido em um acidente. Deus me livre, jamais quero envolver outras pessoas nos meus problemas pessoais. Mais fácil estourar meus miolos tacando meu carro velho de uma ponte qualquer. Vou zanzando pelo centro da cidade, procurando qualquer boate ou pub em que eu possa entrar e fingir que aproveito a minha juventude. Normalmente meus cigarros rendem no máximo até eu conseguir entrar no local.
Pego cigarros com alguém por lá mesmo e me escoro numa parede qualquer só pra observar o ambiente. Toda noite que eu saio, em todo bar/pub/boate que eu vá, sempre tem uma menina que vai ficar me observando da cabeça aos pés. Trocando olhares comigo e mexendo sensualmente o que estiver bebendo até que eu vá até ela. Todas as vezes. Talvez seja a atitude “eu estou pouco me fodendo para isso tudo” que eu exalo ultimamente, talvez as mulheres realmente se sentem atraídas por caras que não parecem serem “bons moços”, ou quem sabe é uma soma de todos esses fatores. Então elas jogam o cabelo, sorriem demais com os lábios bem pintados, parecem que piscam mais lentamente com aqueles enormes cílios falsos enquanto se curvam em qualquer apoio para deixar o decote mais a mostra. E eu, homem que sou, caio nos seus encantos. Beijos aqueles lábios pintados até que eles percam a cor. Tento tirar o gosto da sua boca da minha, lascando beijos urgentes em garotas de saltos altos e vestidos quase auto colantes com hálito de álcool. Não que funcione.
Forço minhas mãos a conhecerem cada detalhe do corpo dessas garotas, tentando não desejar que estivesse acariciando a sua pele quente. Quando me canso de fingir que quero leva-las para minha cama, me jogo na pista de dança ou na primeira fileira do show que estiver acontecendo e grito as músicas mesmo que não conheça as letras. Grito qualquer coisa. Qualquer coisa que pareça exorcizar meus demônios e me dê alguns segundos de paz. Viro doses e mais doses do que o meu dinheiro conseguir pagar. Se tenho sorte, consigo fazer umas linhas no banheiro. Fumo como se estivesse tragando os meus problemas. Faço alguma garota gemer no meu ouvido. Viro mais tantas outras doses. Pego goles de drinks de pessoas aleatórias. Me exorcizo. Me destruo. E continuo vivo.

E quando volto para casa, com o céu acordando enquanto eu não dormi nem um minuto, a direção mais perigosa do que quando saí – ainda assim, continuo vivo, maldito seja o destino – você continua em cada pensamento meu. Porque mesmo quando não é mais sangue, e sim álcool que corre nas minhas veias, mesmo quando eu não consigo formular uma frase ou andar em linha reta, cada resquício de sanidade que sobra em mim implora por ti. Não existe nada que me embriague ou me intoxique mais do que de você.


Por Mariana J. 

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