As noites que antes eu passava segurando seu corpo contra o
meu, passo agora de olhos bastante abertos. Eu gasto as horas das minhas
madrugadas insones largado no sofá pequeno da minha sala, os dedos zapeando os
canais da televisão pelo controle remoto. Virando doses de whisky barato ou
taças de vinho. Escrevendo poemas ruins. Comprando coisas das quais não preciso
de catálogos online, com dinheiro que não tenho. Na manhã seguinte, mesmo sem ter pregado os
olhos por um segundo sequer, saio para o trabalho com a minha camisa mal
passada e um nó mal feito na gravata. Os óculos escuros se tornaram meus
melhores amigos, seja para disfarçar os enormes semi círculos arroxeados nos
meus olhos, seja para manter longe da minha ressaca a luz do dia. Passo o dia
preenchendo cada centímetro possivelmente vazio do meu corpo com cafeína;
tentando me manter vivo. Pelo menos na aparência.
Caso você queira saber, eu ainda tomo os meus remédios.
Tanto os tomo que já aprendi a lidar com os efeitos colaterais que o álcool
quando somado às outras drogas me causam. Aparentemente essa foi a única coisa
com que eu aprendi a lidar nos últimos tempos. Sim, eu procurei ajuda para
resolver meu problema de falta de sono mas assim como os remédios que eu já
tomava antes, os novos comprimidos não fazem efeito algum. Três meses. Três
meses sem dormir. Três meses que mais me parecem um único dia, que eu vejo se
por e nascer de novo sem que ele termine para mim. Três meses sem sono, três
meses sem você.
Passo a semana inteira nesse loop infinito de cafés,
remédios, compras supérfluas, programas ruins de auditório, álcool barato,
poemas escritos porcamente em guardanapos e saudade. Quando chega o fim de
semana eu aproveito a minha falta de sono e me lanço para fora de casa. Tomo um
banho frio, me perfumo – não, não com aquele perfume que você me deu – me visto
com uma roupa qualquer e saio. Só o essencial: uma quantidade considerável de
dinheiro na carteira, as chaves do meu carro e um maço de cigarro. Dirijo pelas
ruas como se fosse o único nela. Para minha surpresa – e profunda tristeza –
nunca me acidentei ou estive envolvido em um acidente. Deus me livre, jamais
quero envolver outras pessoas nos meus problemas pessoais. Mais fácil estourar
meus miolos tacando meu carro velho de uma ponte qualquer. Vou zanzando pelo
centro da cidade, procurando qualquer boate ou pub em que eu possa entrar e
fingir que aproveito a minha juventude. Normalmente meus cigarros rendem no
máximo até eu conseguir entrar no local.
Pego cigarros com alguém por lá mesmo e me escoro numa
parede qualquer só pra observar o ambiente. Toda noite que eu saio, em todo
bar/pub/boate que eu vá, sempre tem uma menina que vai ficar me observando da
cabeça aos pés. Trocando olhares comigo e mexendo sensualmente o que estiver
bebendo até que eu vá até ela. Todas as vezes. Talvez seja a atitude “eu estou
pouco me fodendo para isso tudo” que eu exalo ultimamente, talvez as mulheres
realmente se sentem atraídas por caras que não parecem serem “bons moços”, ou
quem sabe é uma soma de todos esses fatores. Então elas jogam o cabelo, sorriem
demais com os lábios bem pintados, parecem que piscam mais lentamente com
aqueles enormes cílios falsos enquanto se curvam em qualquer apoio para deixar
o decote mais a mostra. E eu, homem que sou, caio nos seus encantos. Beijos
aqueles lábios pintados até que eles percam a cor. Tento tirar o gosto da sua
boca da minha, lascando beijos urgentes em garotas de saltos altos e vestidos
quase auto colantes com hálito de álcool. Não que funcione.
Forço minhas mãos a conhecerem cada detalhe do corpo dessas
garotas, tentando não desejar que estivesse acariciando a sua pele quente.
Quando me canso de fingir que quero leva-las para minha cama, me jogo na pista
de dança ou na primeira fileira do show que estiver acontecendo e grito as
músicas mesmo que não conheça as letras. Grito qualquer coisa. Qualquer coisa
que pareça exorcizar meus demônios e me dê alguns segundos de paz. Viro doses e
mais doses do que o meu dinheiro conseguir pagar. Se tenho sorte, consigo fazer
umas linhas no banheiro. Fumo como se estivesse tragando os meus problemas.
Faço alguma garota gemer no meu ouvido. Viro mais tantas outras doses. Pego
goles de drinks de pessoas aleatórias. Me exorcizo. Me destruo. E continuo
vivo.
E quando volto para casa, com o céu acordando enquanto eu
não dormi nem um minuto, a direção mais perigosa do que quando saí – ainda
assim, continuo vivo, maldito seja o destino – você continua em cada pensamento
meu. Porque mesmo quando não é mais sangue, e sim álcool que corre nas minhas
veias, mesmo quando eu não consigo formular uma frase ou andar em linha reta,
cada resquício de sanidade que sobra em mim implora por ti. Não existe nada que
me embriague ou me intoxique mais do que de você.
Por Mariana J.
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