segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Aquele sobre o tempo, despedidas e estar do outro lado.

         É tão estranho pensar como tudo pode mudar tão drasticamente entre duas pessoas em tão pouco tempo. Um ano, menos que isso. Um ano atrás eu dirigia de madrugada com as janelas abertas, o vento batendo no rosto, aquela música preenchendo cada pequena rachadura do meu coração; hoje só ouvir seu nome faz o mesmo doer. Meses atrás nos ver com os dedos entrelaçados não era estranho, agora até um aceno parece errado. Dias atrás eu acreditei que poderíamos nos reconectar, já no dia seguinte percebi que estava enganada. É como se nada nunca tivesse acontecido. Por vezes acredito que tudo seria mais fácil assim. Porém, esquecer não é tão simples quanto achei que fosse.
E eu lembro de tudo. Eu lembro de tudo, o tempo todo. Lembro da primeira vez que senti seus dedos nos meus, e o quão estranho e confortável aquilo era. Lembro das horas que passamos apenas falando de coisas que no fundo tinham nenhuma ligação entre si. Me lembro de quando comecei a ver esse sentimento florescer, e como tive vontade de desaparecer quando afoguei meu carro sem querer pois me distrai com seu braço em meus ombros. Lembro daquele fim de festa, quando as conversas já eram mais altas do que a música e um simples beijo na testa fez meu coração falhar. Eu lembro da faísca que senti quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez. Me lembro dos seus olhos pousados em mim enquanto passava mais uma camada de batom antes de sairmos, e lembro também de rir de nós, enquanto tentava limpar aquelas manchas vermelhas do seu rosto algumas horas depois.
 Lembro da expressão no seu rosto ao me ver com um estilo de maquiagem que não costumo usar. Lembro dos meus amigos comemorando um relacionamento que nunca chegou a existir. Me lembro também sobre o que falamos no caminho de volta pra casa, quando faltava pouco para o sol nascer, e lembro do arrepio que senti com seus dentes no meu pescoço; e lembro do seu sorriso quando se despediu. Ainda me lembro de dirigir sozinha pelas ruas desertas, o combustível acabando, minha música favorita tocando, e tudo parecia estar no lugar certo. Então vejo como tudo está agora e isso parece ser tudo o que me resta: lembranças. Fragmentos seus que eu tento apagar mas que voltam toda vez que vejo seus olhos.
Parece injusto para mim, ver que você está tão em paz com tudo enquanto eu me sento aqui, sentindo cada parte de mim e de tudo a minha volta, virando pó. É injusto perceber que naquele dia você sabia que era a última vez seus lábios tocavam os meus, enquanto eu cheguei a acreditar que aquilo poderia ser o início de algo. E tudo o que eu mais quero no momento é recomeçar, não encontrar seus olhos no meio de um mar de gente, não esperar por seus abraços, não desejar te ter ao meu lado, mas alguns dias são piores do que outros, e esse é um deles. Porque agora eu evito cruzar seu caminho, me seguro ao máximo para não falar com você, só que for necessário, engulo meus sentimentos junto com qualquer coisa que me embriague e mande minha cabeça para longe.
Mas sei que preciso me acostumar a estar do outro lado, me acostumar a ver os seus dedos entrelaçados nos dela, não sentir um peso no peito ao imaginar sua mão sobre o joelho dela, escondidos pela mesa do bar. Tenho que me acostumar e seguir em frente, já que ao que me parece, essa é a única opção que me sobra no fim disso tudo. Esconder o que eu sabia que não deveria ter sentido desde o início, o que eu sei que você percebeu, o que você não quis como quer o dela, e deixar o tempo passar. Só espero que você não mude de ideia, pois não teria forças para passar por isso novamente. 


Por Mariana J.