sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Lovebug



Parte 1 – Início de novembro.


“Não acredito nisso” Falei equilibrando o controle da televisão e um pé do salto que eu calçava na mesma mão.
- Não acredita no que? – Charlie me perguntava enquanto tentava levar o brinco ao furo de sua orelha e ia de encontro comigo na sala do nosso apartamento. Não respondi, apenas apontei para o televisor e aumentei um pouco o volume.
“A modelo Alexia Kuznetsova foi vista acompanhada do empresário e modelo Joshua Smith, sim o sobrinho gatíssimo da nossa querida Margareth Smith, a rainha dos vestidos de festa desse mundo. Os dois saíram abraçados de um show da banda MGMT em Londres na noite passada. Vale dizer também que não é a primeira vez que Alexia e Josh são flagrados juntos, desde que a bela lançou um beijo para o moço direto da passarela durante o lançamento da linha 2015 de lingerie da rainha M.”
Quando olhei pra Charlotte achei que seu queixo tocaria o chão a qualquer segundo. Eu sabia que tinha que me preocupar com essa garota no mesmo segundo que bati meus olhos nela. Não que Joshua fosse problema meu agora. E ele já é crescido o suficiente pra saber onde enfia sua língua ou não.
“E não paramos por aí, caso você não se lembre Josh é ex-namorado de Allison O’Callaghan, a Rainbow de ‘Six of Us’, com quem nós conversamos alguns dias atrás. Falamos sobre o sucesso enorme da série, a confirmação da segunda temporada e um possível affaire com um certo ruivo do elenco. É, parece que a fila andou para os dois. Depois do intervalo.”
- PUTA QUE PARIU ALLISON. – Minha amiga gritava me estapeando o braço.
- EU SEI. – Respondi no mesmo tom de voz, ainda meio transtornada com a situação.
- Ela é linda. – Ela disse baixo, eu só concordei com a cabeça enquanto voltava a calçar meus sapatos. Em breve nós sairíamos para jantar com Ashton e Tyler e nem uma de nós estava pronta.
- Uma modelo. Russa. O que você esperava? – Tentei rir e parecer despreocupada. “Já te disse pra não ficar vendo o E!” Charlie disse com o olhar tristonho.- Eu tava só trocando de canal e ouvi o nome dele e parei por reflexo. Eu tô bem, sério. – Respondi sorrindo enquanto cutucava minha amiga com meu cotovelo.
- Pelo menos parece que vocês dois seguiram em frente né? – A ouvi falando diretamente da cozinha alguns segundos depois, enquanto destravava a porta de entrada do prédio para que os garotos subissem. – Ah é, o Ashton já sabe de vocês ok?
- Você contou pra ele né sua tonta. – Falava rindo enquanto me posicionava à porta de entrada para recepcionar os dois.
- Nem vem, foi o Tyler que abriu o bico. Falei que não durava uma semana. – Charlie completou rindo e checando sua roupa no espelho de corpo inteiro no fim do corredor.
Eu sabia que o segredo não iria durar. Ashton é o melhor amigo de Tyler, tinha certeza que ele deixaria escapar mais cedo ou mais tarde. Charlie ficou sabendo assim que eu cheguei no nosso apartamento no fim da tarde depois de passar praticamente dois dias na casa dele. Ela me olhou do sofá e eu comecei a rir sem jeito. “EU SABIA!” ela gritava e corria até mim dando saltinhos. Era cabelo loiro para todos os lados, abraços, gritos e risadinhas agudas. “Vocês são tão fofos juntos”. Charlie sempre sabe. Mesmo quando você ainda não sabe: ela sabe.
As portas do elevador se abriram e meu coração deu um salto em meu peito. A cada vez que via Tyler ele me parecia ainda mais bonito, mas nessa noite em especial ele estava se superando. Ele sorriu e por alguns segundos eu me esqueci de tudo, só o que importava naquele momento era que ele estava lá. O resto do mundo era um lugar distante e insignificante perto da sensação que eu tinha só de vê-lo sorrir. Ficar longe dele por duas semanas enquanto ele passava um tempo com a família em Nova Jersey foi difícil, mas tê-lo de volta era a melhor sensação do mundo.
- Daqui a pouco te dou oi Ally. Não que você esteja me escutando. – Ashton disse enquanto passava ao meu lado pela porta de entrada. Eu soltei uma risada baixa mas nem ao menos consegui desviar o olhar daquele par de olhos azuis que sorriam para mim. Aquelas ruguinhas se formando nos cantos dos olhos, o sorriso de dentes perfeitamente brancos, as sardas, a barba ruiva e rala marcando seu maxilar. Deus, como ele era lindo.
-Eu tava com tanta saudade de você, baixinha. – Ty me disse enquanto me acolhia em seu peito, seu queixo apoiado no topo da minha cabeça. Incrível como mesmo de salto ele conseguia ser muito mais alto do que eu.
- Eu também grandão. – Respondi me esticando mais um pouquinho para conseguir beijar seu pescoço.
Aw como vocês são lindos” Ouvi Ash dizer da porta, quando me virei vi que ele se apoiava ao batente de braços cruzados e um sorriso no rosto “Meio estranho, mas continua fofo.”
- ALLISON SUA ENTREVISTA! – Minha amiga berrava do lado de dentro do apartamento. Discreta como sempre. Puxei Tyler pela barra da camisa que vestia e voltamos todos para a sala.
“Então Allison, muita coisa mudou nesse ano na sua vida não é?” A entrevistadora me perguntava na tela. Era extremamente estranho me ver lá. Conseguia ver a série sem grandes problemas, mas entrevistas... “Totalmente” eu respondia rindo “É difícil acreditar que faço parte de uma equipe tão incrível e existem tantas pessoas por aí vendo a série e nos dando todo o apoio do mundo; eu não podia estar mais feliz.” 
- AI QUE ORGULHO DE VOCÊ! – Charlie gritava sentada no braço do sofá, me abraçando o quadril.
- Ah Tyler nós somos uma equipe incrível. – Ashton imitava meu tom de voz e abraçava os ombros de Ty com um dos braços.
“Vocês já começaram as filmagens da segunda temporada, certo?” Concordei sorrindo “O que o pessoal de casa pode esperar da próxima temporada?”
- Você não deu nenhum spoiler nosso né Ally? – Ty me perguntou me apertando a cintura, parado atrás de mim. Neguei com a cabeça antes de me voltar para beijá-lo. Seus beijos continuavam ótimos. “... casais vão se formar” Charlie soltou um “tem um casal se formando aqui moça” para o aparelho “...Teremos algumas participações especiais muito legais. Ah é, e essa temporada vai ter mais episódios do que a primeira, vai ser muito divertido.” Me ouvia dizer.
“Há boatos de que você e seu companheiro de elenco, Tyler Hawkins, estão juntos. Na verdade os boatos estão cada dia mais fortes, como vocês são vistos sempre juntos ou saindo um do apartamento do outro e até aparentemente dividindo roupas.” A Allison na TV ria e eu acompanhava. Mostraram então um tweet de Ty escrito “Quem vestiu melhor?” com uma foto dele e outra minha em que vestíamos a mesma camiseta, estampada com o rosto do Brad Pitt com os dizeres “In Tyler we trust”.
“Essa camiseta foi um presente que dei para ele no seu aniversário. É o Brad Pitt como Tyler Durden em Clube da Luta, que é um dos filmes favoritos dele. Eu achei que seria uma piadinha legal” Me via corar de leve na televisão enquanto o Tyler real me beijava o pescoço. “Eu queria uma pra mim também mas essa era a última disponível e né, prioridades.” A entrevistadora ria junto comigo. “Mas eu disse que só daria a camiseta se ele me deixasse vesti-la de vez enquanto, temos um trato agora.”
- É quase a custódia de uma criança. – Ty dizia para a TV, arrancando risadas de todos da sala.
“Vocês dois parecem ter uma relação muito boa.” A entrevistadora dizia com a voz doce, quase como se não esperasse que eu entregasse o ouro.
“E temos mesmo. Tyler é um cara incrível. Extremamente cuidadoso, querido, engraçado, tem um coração de ouro. Conhecer ele foi com toda a certeza uma das melhores coisas que Six of Us me deu. Sou muito grata por tudo isso.”
- AWWWWWWWWWW – Ashton e Charlotte disseram em coro enquanto Tyler me beijava novamente, levantando meu queixo levemente. Enquanto a apresentadora do programa anunciava que a entrevista completa estava disponível na internet, Ty rompeu o beijo com um sorriso e me sussurrou um “você é incrível” no ouvido.
- Gente eu não quero ser chato, mas se nós não chegarmos ao restaurante em meia hora a gente perde a reserva. Larga esse cara incrível Ally e vamos logo pelo amor de Deus, eu tô morrendo de fome. – Ashton dizia nos empurrando porta afora do apartamento.

***
Quando estávamos os quatro já bem alimentados, começamos a conversar sobre as festas de fim de ano e quase achei que teríamos que sedar Charlotte tamanha foi a sua animação. Ela é daquele tipo que decora a casa toda, veste roupas temáticas e envia cartões de fim de ano.
- Vocês vão passar o Dia de Ação de Graças com a família de vocês? – Tyler perguntou antes de roubar um pedacinho da minha fatia de torta de limão. Ashton e Charlie confirmaram, mas eu não. – Você não vai pra Orlando com a Charlie?
- Nah, meus pais não ligam muito pra Ação de Graças. Na verdade eles me ligaram ontem pra dizer que vão passar dez dias no Hawaii nesse período, ou seja: vou ficar por aqui mesmo.
Vendo a confusão no rosto do ruivo, minha amiga explicou:
- O pai da Ally era professor de história né, ele não concorda em comemorar um feriado em que a população nativa dos Estados Unidos foi dizimada apesar de ter ajudado na sobrevivência dos colonizadores. Mas ele ama Black Friday. – “Foi assim que ele me comprou meu primeiro celular”, complementei.
- Ah, vamos fazer alguma coisa então All. – Vendo minha falta de ânimo com a ideia, Tyler continuou – Vamos sim, mesmo que a gente acabe pedindo comida chinesa e ficando de bobeira.
- Mas e a sua família?
- Eu acabei de voltar de casa baixinha, eles vão entender. Não vou te deixar aqui sozinha. – Disse me beijando a testa.
- Sério, vocês dois são tão fofos que me dá ânsia.
Ashton sempre amoroso.
Parte 2 – Dia de Ação de Graças

Parei em frente ao interfone do prédio de Tyler segurando uma sacola cheia de barras de chocolate. Se era para termos uma Ação de Graças incomum tínhamos que fazer direito.
- E aí grandão. – Falei sorrindo para o interfone assim que ouvi que ele estava do outro lado da linha.
- Pode subir baixinha. – Por algum motivo achei sua voz apreensiva, mas subi os andares (de elevador, obrigada a quem arrumou aquele negócio) com um sorriso no rosto mesmo assim. E logo depois que apertei a campainha de seu apartamento, ouvi passos indo de encontro com a porta mas quando esperei que a porta se abrisse, isso não aconteceu.
“Ela chegou Ty” ouvi uma voz feminina do lado de dentro, se afastando de onde eu estava. Eu não conhecia aquela voz. Rapidamente mil coisas passaram pela minha cabeça, uma pior que a outra. Tyler estava com outra garota? Mas nós éramos exclusivos ou não? Eu estava com ciúmes dele?
A porta se abriu.
- Oi baixinha. – Ty disse encostando a porta atrás de si antes de me dar um selinho rápido. Seus cabelos estavam húmidos e ele estava bem vestido demais pra quem estava de bobeira em casa.
- Tá tudo bem aí? Eu achei que tinha ouv...- estava dizendo tentando espiar pela fresta aberta da porta antes de ouvir risadas do lado de dentro – Tyler, quem tá aí?
- Minha família. – Ele disse fazendo careta.
- O QUE? - “Sssssshiu” Tyler soltou olhando pra porta – O que? – Dessa vez eu sussurrei.
- Eles chegaram tem algumas horas só, queriam fazer uma surpresa. Como nunca tinham vindo pra Los Angeles aparentemente hoje era o dia perfeito pra isso. – O tom sarcástico dele me lembrava de seu personagem na série.
Eu não sabia como fazer meu coração bater mais devagar. Então era isso? Eu conheceria os pais do meu amigo? Amigo colorido? Mas isso não é coisa de namorados? Estamos namorando? Sentia que minha cara era um ponto de interrogação gigante.
- Eu sei que isso é um pouco estranho – “um pouco?” zombei – Mas meus pais gostam muito de você e a minha irmã tá super animada pra te conhecer.
Tudo fez sentido, aquela voz era da irmã dele.
- Eu não sei cara, será que eu de... – “Ty, a mãe te mandou entrar logo que ela precisa de ajuda” A porta se abriu e um garoto, que supus ser o irmão dele, pouco mais baixo do que Tyler se pôs para fora. Ele tinha menos sardas do que o mais velho e os cabelos mais puxado para o castanho-claro como os meus. “Que falta de educação a minha. Oi Allison, eu sou Dylan, irmão desse babaca aí.” Completou o garoto vindo em minha direção para me apertar a mão.
- É um prazer te conhecer Dylan. – Eu respondi sorrindo mesmo que eu estivesse gritando por dentro. Os dois tinham o mesmo formato de rosto e narizes iguais, era fofo ver uma versão “miniatura” de Tyler. – Acho melhor a gente entrar então né?
Fui entrando no apartamento que sempre me foi tão confortável como se estivesse indo de encontro com a cadeira elétrica. “Vai dar tudo certo” Ty sussurrou em meu ouvido e eu fiquei um pouco mais confortável. “TYLER, ONDE VOCÊ GUARDA O ESCORREDOR DE MACARRÃO NESSA CASA?” Ouvi uma voz feminina forte direto da cozinha. Era a mãe dele. “Eu não sei onde tá mãe” ele respondeu me puxando pela mão para dentro da cozinha “Mas a Ally sabe.”
Ela era realmente linda. Alta, levemente cheinha, cabelos bem cacheados e tão ruivos quanto os do filho mais velho. Também tinha um sorriso lindo. Que ótima genética eles têm.
- Oi querida, eu sou Marla – disse me abraçando apertado – mãe dessa criatura que nem sabe onde guarda as coisas.
- Ele nunca sabe – respondi rindo um tanto sem graça, uma das minhas mãos no bolso do jeans- E a propósito, tá na segunda gaveta.
- Ainda bem que temos você aqui querida. – Marla disse com o sorriso largo me afagando o ombro – E essa é Emma. – A mãe indicou a menina que estava timidamente encostada à bancada da pia. A garota era igualmente ruiva mas seus cabelos eram lisos, diferente dos da mãe. Mas seus olhos eram do mesmo tom dos de Tyler.
- Oi Emma, é um prazer te conhecer. – Eu disse indo de encontro com a garota que era um pouco mais alta do que eu, que me olhava com as bochechas rosadas. Depois que nos abraçamos ela disse:
- Então as mechas roxas não suas mesmo né?
- De jeito nenhum, eu não teria coragem – E rimos juntas.
- Tyler disse que eram suas. E eu ainda discuti com ele falando que já tinha visto fotos suas sem as mechas.
- Emma, seu irmão é impossível. – Falei passando meu braço por sobre seus ombros enquanto nós duas observávamos o ruivo apoiado ao batente da porta.
- E acha que eu não sei? – Todas as mulheres da cozinha riram.
***
Querendo ou não, nossa Ação de Graças foi bastante diferente. Nós cinco comemos o macarrão de massa caseira, os dois assados e a torta de abóbora que Marla havia preparado, e todos sem exceção estavam magníficos.
- Marla, o que a senhora tem de boa cozinheira seu filho tem de desastrado. – Disse para a mãe de Tyler enquanto eu a ajudava a arrumar a louça do jantar.
- Nem me diga Allison, quando ele me disse que vinha morar sozinho em Los Angeles eu quase enfartei. Nunca consegui ensiná-lo a fritar um ovo, acredita? – Ela ria enquanto lavava os pratos que ocupavam a pia – Ainda bem que ele tem você por perto – A senhora me disse com o olhar doce. Corei.
Conseguia ouvir da sala que Tyler e Dylan jogavam algum vídeo game e aparentemente Tyler estava perdendo pelo tanto que gritava com a tela.
- Me desculpe pela pergunta, mas o Senhor Hawkins não pode vir com vocês? – Perguntei sem jeito. Tyler já tinha falado para mim sobre seus irmãos e seu mãe, mas nada sobre o pai.
- Ah minha querida, estamos com alguns problemas em casa entende? – Uma onda gigantesca de constrangimento me abateu. Porra Ally, que bola fora. “Meu Deus, eu sinto muito Marla, foi idiota te perguntar isso. Eu não sabia” soltei encabulada – Imaginei mesmo que Tyler não comentaria nada. Ele e o pai nunca tiveram uma relação muito boa... São muito parecidos, dá muito atrito. Mas os dois se amam – Ela disse me olhando com um sorriso no rosto mas com os olhos chorosos – Homens...
- Ele gosta muito de você, sabia? – Marla disse alguns segundos depois enxugando as mãos em um pano de prato – De verdade. – Ela não me olhava, mas por algum motivo eu sabia que seus olhos estavam brilhando – Nunca o vi olhando pra ninguém do jeito que ele olha pra você. E eu não sei em que página vocês estão, se é que você me entende e isso não é da minha conta, mas Tyler é um garoto muito bom.
Concordei com a cabeça. De fato ele era. Tudo o que ele me viu passar, por mais bobo que fosse ele nunca me deixara de lado. Mesmo num feriado tipicamente familiar, eu estava em primeiro lugar.
- Só faça meu menininho feliz. – A senhora completou me abraçando os ombros.
***
Então estávamos fazendo um campeonato de Just Dance na sala. Na verdade só eu, Tyler, Marla e Emma. Quem tivesse a pior performance ia pro sofá. Dylan disse que não sabia dançar, mas Emma o delatou me contando que ele é o melhor dançarino da casa. Na partida em que eu perdi para Ty, fui me sentar no sofá com Emma enquanto Marla ia desafiar o filho mais velho.
- Qual música eu escolho baixinha? – Tyler me perguntou zapeando as opções.
- Coloca “You make me feel...”– “Boa ideia” ele disse piscando para mim. – Ele ama cantar essa música quando estamos juntos no carro. – Comentei rindo com Emma que apoiava a cabeça no meu ombro. Era como se nós todos dos conhecêssemos a anos, ou eu fosse parte da família.
- Vocês cantam no carro? – Emma se sentou com a expressão entre confusa e feliz. “Aham” respondi sem entender de onde vinha tanto estranhamento. Nós cantávamos sempre que possível, mesmo a minha voz não sendo lá aquelas coisas – Pode não parecer mas o Ty é bem tímido. – A garota disse se deitando novamente no meu ombro – Ele só canta com quem ele se sente muito confortável mesmo, em casa a gente praticamente só ouvia ele cantando no chuveiro. E olha que eu sou a irmã dele.
Naquele momento eu sentia que meu rosto inteiro era sorriso. E tudo o que Tyler fazia era lindo. Eu não conseguia parar de olhar para aquele cara incrível, que de alguma forma conseguia se mostrar ainda mais incrível a cada dia. O jeito que ele ria. A forma que seus cabelos voavam quando ele saltava. Suas mãos. Sua voz de sono pela manhã. O gosto dos lábios dele. A paz que seu abraço me dava. A cor dos seus olhos.
 Então eu senti aquelas borboletas no estômago e meu coração parecia que queria fugir de dentro do meu peito. Amor? Será?


Nota da autora – Como Ashton soube da história Tyler/Ally:
Os dois jogavam Halo 4, largados entre almofadas na sala do apartamento de Ashton quando o ruivo desviou um pouco sua atenção da tela:
- Ei Ash.                                    
- Fala cara. – Nenhum dos dois se olhavam, e muito menos desgrudavam os olhos da tela dividida em dois.
- Você acha que eu devia investir na Ally?
- Na nossa Ally? – Tyler soltou um “Aham” já que o amigo não o via concordar com a cabeça – Ah cara, eu deixaria quieto. Ela é areia demais pro teu caminhãozinho. – Completou rindo.
Silêncio. Os dois estavam ocupados demais em alguma missão ultra importante. Apenas os passos dos personagens do jogo e os diálogos dos mesmos enchiam o ar por causa do som alto da TV.
- Isso é engraçado já que a gente meio que ficou desde a hora que o pessoal foi embora da minha festa.
Pausa no jogo. Ashton vira-se pela primeira vez desde quando pegaram seus controles, o rosto sério e um tanto incrédulo se dissipando aos poucos antes de brotar um sorriso enorme:
- ISSO É FODA CARA. – Disse enquanto batia a mão esquerda livre com a direita do amigo.
E voltaram ao jogo.
Que uma semana o que, mal deu um dia



Por Mariana J.
                    





terça-feira, 9 de dezembro de 2014

In the silence. On the way home. With the lights out.

E quando eu finalmente achei que conseguiria dizer em alto e bom tom o que sinto por você, notei que não poderia estar mais enganado. As mãos tremendo, o coração tentando me escapar do peito, o riso bobo. “Eu acho que eu...”, “É possível que...”, “Talvez eu...”, “Pode ser que...” e as outras palavras que há tanto esperavam escondidas nos meus lábios, simplesmente se recusavam a sair. A verdade é que eu não sei o que sinto. Como poderia eu então te deixar ciente de tudo que vêm se passando nos cantos mais escuros do meu peito se eu mesmo não sei definir?
Não é só atração física. Não é apenas a minha mania de observar seus lábios enquanto você fala. Não são tuas mãos finas ou o jeito com que elas brincam com o meu cabelo. Não são teus braços que me envolvem com menos frequência do que eu gostaria. Não é a sua voz rouca. Não são teus olhos, ah esses olhos, que me encantaram logo do primeiro instante.  Eu não sei te dizer o que sempre me traz de volta para você todo esse tempo, mas eu sou honestamente grato por isso.
Talvez seja o modo com que teus olhos escondidos por detrás de óculos escuros me procuram entre os passantes, ou a forma que teus lábios se estendem em um sorriso quando finalmente me encontra. Talvez seja o silêncio que se forma quando você deita sua cabeça no meu colo e como todo o resto do universo simplesmente perde a importância. Talvez isso seja uma coisa passageira, talvez isso dure para sempre. E eu sinto essa necessidade de te ter por perto, cuidar de você, ter certeza de que tudo está bem. Coisa que cresce no meu peito e por vezes parece que me tenta sufocar. Não precisamos falar nada, estar ao seu lado já é o suficiente. Um olhar rápido para não sermos pegos. Um sorriso de canto de boca. Um suspiro que eu tento guardar para mim.
Eu não sei explicar o que eu sinto, mas sei que sinto. Sinto que meu coração acelera quando eu digo teu nome, e que aquelas malditas borboletas se batem dentro de mim quando penso naqueles olhos que gosto tanto. E enquanto estou do seu lado, nem passado, nem futuro me preocupam. Tudo o que tenho é aquele momento, mesmo que sejam alguns segundos, mesmo que seja um sorriso e um aceno enquanto passamos nos corredores. E eu vivo o presente, coisa que quase nunca faço.
Sei que sinto porque teimo em ouvir repetidamente a mesma canção. A voz suave que canta no rádio do meu carro, preenchendo cada pequeno espaço que antes eu julgava vazio. Ocupando cada fresta no meu coração. Ocupando todo o ar do automóvel, transbordando das janelas e inundando meu caminho para casa. Então eu fecho os olhos por poucos segundos e sorrio sem notar o que faço. A avenida continua vazia, o vento fresco me bagunçando os cabelos, e a voz tocando nos alto falantes. E a tua presença no meu peito.
Sei que sinto porque mesmo no silêncio absoluto a canção volta a tocar só para mim. E é impossível não sorrir, é impossível não pensar em você. Sei que sinto porque no escuro do meu quarto o pensamento corre para você e a cor dos teus olhos ilumina todo o lugar. Talvez isso seja amor, talvez seja apenas uma leve demência, talvez eu esteja tão acostumado a guardar o que sinto que hoje não sei dizer do que se trata. Sinto que eu poderia passar o resto dos meus dias tentando colocar tudo isso em palavras e nada seria o bastante.
Não sei o que sinto, mas sei que sinto. Sinto, e muito.
Não sei o que sinto, mas sei que me sentiria um tolo se não o sentisse. 


Por Mariana J.