segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

There is a light that never goes out

Existe algo na forma como a chuva cai lá fora
algo no som dos pingos sobre o teto metálico do carro
e na maneira que o asfalto molhado reflete
as luzes dos postes e dos sinais de trânsito
que me faz sentir a sua falta mais do que acredito que um dia seria possível.

Como se a minha capacidade respiratória dependesse de saber que você está ao meu lado.

Então eu fecho os olhos e desejo com todo o coração que ao abri-los
 você seja a pessoa que está me levando pra casa,
batucando os dedos no volante e cantarolando.

Existe algo na forma como Morrissey canta no rádio,
e algo na forma que meu coração parece pular um batimento
toda vez que escuto essa canção
que me faz acreditar que essa partezinha de ti que insiste em morar no meu peito
nunca vai me deixar por completo e isso me preocupa.

Mas eu tento ignorar a minha dor e aumento o volume para que a música
sobreponha o som do meu coração se partindo novamente
ao me lembrar que você não está aqui.

E eu engulo meu orgulho e espero que aonde quer que você esteja
ao ouvir essa canção você se lembre de mim
da mesma forma que me lembro de você:

A pessoa que fez as músicas do The Smiths fazerem sentido. 

Por Mariana J.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Questão de tempo.

Eu me lembro de estar andando na rua. Lembro de observar meus pés cobertos com um par de All Star pretos, traçando meu caminho incerto enquanto Ed Sheeran cantava nos meus ouvidos. Distraidamente olhei pra frente e lá estava ele: alto, não muito forte, os cabelos em cachos grandes, escuros e compridos, os olhos emoldurados com a armação grossa de óculos de grau, andando distraído em minha direção. A cada passo dado a distância entre nós diminuía consideravelmente e eu simplesmente não conseguia parar de observar cada detalhe dele, como se por alguns segundos só a gola arredondada de sua camiseta preta ou as tatuagens que cobriam seu braço esquerdo interessassem aos meus olhos.
Me senti envergonhada de estar encarando o rapaz daquela forma e tentei sem êxito algum desviar o olhar. Ele era tudo o que eu via. Só ele, mais nada nem ninguém. Porém ele parecia não me enxergar, o que era totalmente compreensível se levarmos em conta que eu não sou lá muito alta e a rua, bastante movimentada. Quando estávamos a pouco mais de 3 passos um do outro foi como se alguém lhe cutucasse as costelas e guiasse o seu olhar até mim e senti meu rosto corar. Voltei a olhar meus pés e tentei ser natural, colocando uma mecha de cabelo atrás na orelha direita antes de voltar a olhá-lo. Em um segundo lá estava ele quase na minha frente, me observando do mesmo jeito que eu o estava observando. No segundo seguinte ele já passava ao meu lado e eu voltei a olhar para frente mas ainda assim sentia seus olhos sobre mim. Olhei para trás alguns segundos depois esperando encontra-lo e o vi fazendo a mesma coisa que eu. 
*****

Eu estava dentro do mercado, deslizando pelos corredores amplos e alvos atrás de um carrinho de compras. Eu estava observando cada corredor lateral quando alguém me chamou a atenção: alto, o cabelo em cachos largos, o braço tatuado, os óculos de grau. “Não pode ser ele” pensei “Quais são as chances?”. Tentei ignorar a presença dele e continuei as minhas compras, que afinal, era o motivo para eu estar lá. Depois de ter tudo o que precisava, deslizei até a área dos caixas e entrei em uma fila aleatória e, adivinhe, lá estava ele na fila do caixa ao lado. Eu sentia que deveria dizer alguma coisa a ele mas convenhamos, seria estranho se alguém te chamasse na fila do mercado e te dissesse que lembra de passar por você na rua. Achei melhor ficar em silêncio mas não consegui evitar um sorriso bobo que a presença dele desenhou em meu rosto.
- Com licença, você poderia... – ou vi uma voz masculina dizer ao meu lado mas parou de falar assim que encontrei os olhos de seu dono. Cor de mel. Os olhos dele eram cor de mel. Ele passou a mão esquerda na nuca cheia de cachos e sorriu sem jeito. – Vo-Você....Você poderia me passar a caixa de pilha AA por favor?
Eu sorri e concordei com a cabeça enquanto me virava para pegar o que ele havia pedido. Sentia que meu cérebro poderia explodir a qualquer momento. O sorriso dele, aqueles dentes brancos e perfeitos, aqueles lábios. A voz dele – meu Deus - aquela voz. Não consigo colocar em palavras o quanto me controlei pra não deixar que todo meu sangue subisse e me delatasse no rubor das minhas bochechas.
- Muito obrigado. – ele respondeu com um sorriso de canto de boca, ah aquele sorriso, enquanto deslizava seu carrinho em direção à esteira de compras assim que entreguei a mercadoria a ele.
- Não seja por isso – respondi um pouco mais aguda do que desejava ser. Minha vez de passar as compras só chegou quando ele já estava quase a pagar. Enquanto ele digitava a senha do cartão de crédito na máquina, teimava em me observar por cima do ombro. “Desculpa moça, eu errei a senha”, ouvi-o dizer com uma risada rouca para a atendente. Depois de ter pago o que devia, ele acenou para mim enquanto se encaminhava para fora do mercado.

*****
E então eu estava em uma festa...Bem, não era exatamente uma festa, era um pub e a banda de um amigo meu tocaria lá na noite. Todos os meus amigos estavam presentes porque era a primeira vez que o cantor se apresentava para um número de pessoas maior do que o nosso pequeno grupo de amigos, assim chegamos cedo e ficamos colados ao palco baixo. Lembro que eu estava sentada sobre uma das enormes caixas de som com uma amiga quando o vi entrando no local. “Quais são as chances?” pensei comigo novamente e soltei um riso abafado que chamou a atenção de quem se sentava ao meu lado. Expliquei. Contei da rua, dos olhares cruzados, do mercado e todo aquele constrangimento bobo do “Vo-Você...”, os sorrisos e o aceno de despedida.
“Mas quem é?” – ela me perguntou forçando a vista e observando todos os cantos do pub escuro e abafado. Apontei o rapaz alto, com o cabelo em cachos escuros e largos, o braço esquerdo coberto de tatuagens e óculos de armação grossa que vestia uma camisa xadrez em azul e preto, jeans escuro e um par de All stars – “Nossa...Eu acho que se você “esbarra” com uma pessoa dessas 3 vezes em uma semana, isso nada mais é do que destino minha cara” – respondeu me empurrando de leve com o ombro ossudo.
Sendo destino ou não, ele ainda não havia me visto e minha amiga infelizmente – ou felizmente- também tinha notado aquilo. Na primeira música mais animada que tocou no som ambiente ela já me puxou e fez com que eu começasse a me mexer no ritmo da canção. Quando dei por mim já estava dançando sem pensar em nada, nem na música que eu não conhecia nem em quem me observava. Talvez fossem os drinks que eu tinha bebido fazendo seu efeito em mim. Só parei quando não conseguia mais sentir meus pés, sentando-me novamente na caixa de som que me dava uma visão privilegiada de todo o lugar. E lá estava ele, encostado no bar com mais uns três caras e me olhando. Quando nossos olhares finalmente se encontraram novamente, o vi erguer sua garrafa de cerveja no ar como um comprimento em minha direção, gesto que eu respondi com uma garrafa de água. Assim que o fiz, observei os outros rapazes que o acompanhavam olhando para mim e falando algo com ele, assim achei mais educado me voltar para meus amigos e continuar agindo como se nada tivesse acontecido.
Só voltei a vê-lo durante o intervalo do show, enquanto eu voltava do banheiro feminino. De repente ouvi-o dizer sobre o meu ombro:
- Tá de tiete hoje é? – Enquanto tentava arrumar os cabelos bagunçados.
- Meu amigo é o vocalista, é o primeiro show dele. – respondi rindo – Mas eu normalmente tieto bastante quando tem alguém cantando aqui.
- E se fosse eu lá em cima, você tietaria do mesmo jeito? – Ele passou o braço pelas minhas costas e me abraçou a cintura.
- Mas é claro, daria até um jeitinho de entrar no camarim – disse. Meu Deus, os olhos dele eram ainda mais maravilhosos de perto.
- E o que você faria no camarim, mocinha? – disse pra mim aproximando seu rosto do meu pescoço. Eu sabia o que ele queria dizer. As pessoas atrás de nós sabiam o que ele queria dizer. Os caras que trabalham no bar sabiam o que ele queria dizer. O mundo sabia o que ele queria dizer. Passei minha mão direita para sua nuca para que assim pudesse falar mais diretamente em seu ouvido:
- É engraçado que esta é a terceira vez que te vejo essa semana e ainda assim eu não sei o seu nome.
- Meu nome? Eu sou Christopher, e você?
- Madison...Ou Maddie, quase todo mundo me chama assim.
- Bem Maddie – Christopher disse no meu ouvido – dizem que encontrar alguém tantas vezes em um espaço de tempo tão pequeno é sinal do destino sabia? – seu rosto estava perigosamente próximo ao meu, sentia até seu hálito acertando meu rosto. Senti o aroma do álcool mas isso não era ruim de alguma forma.
- Interessante você ter dito isso porque minha amiga disse exatamente a mesma coisa. – Eu estava tão envolvida na situação que não cheguei a notar que minhas duas mãos estavam em sua nuca e eu conseguia sentia seus cachos entre meus dedos.
- Então deve ser verdade certo? – disse colocando sua outra mão na minha cintura. Mal tive tempo de concordar com a cabeça e já senti seus lábios urgentes sobre os meus.

*****
Os dias e as semanas se passavam e nós dois estávamos constantemente juntos. Christopher e Madison. Chris e Maddie. Maddie e Chris. Passávamos boa parte do nosso tempo fazendo alguma coisa juntos. Eu lia John Green enquanto ele lia Tolkien. Víamos filmes cults e ficávamos comentando sobre a fotografia ou a trilha sonora e riamos com os filmes alemães ou russos em que, por causa da língua, pareciam estar sempre discutindo. Cozinhávamos de tudo: de bolinhos até massa caseira para Conchiglione. Dormíamos abraçados enquanto a chuva caía do lado de fora. Dividíamos cappuccinos e a conta da cafeteria. Eu usava uma de suas camisetas como pijama, e ele carregava no pulso uma das minhas pulseiras de couro trançado. Íamos sempre à livraria e deixávamos recadinhos para os seus futuros compradores e leitores em post-its nas nossas partes favoritas de alguns livros. Dançávamos ao som de Artic Monkeys em sua vitrola até tarde da noite. Passávamos horas e horas em silêncio, apenas ouvindo o coração pulsante de cada um.
Eu nunca me sentira daquela forma. Era como se eu finalmente tivesse encontrado aquela parte que faltava nos meus dias. A voz que me sussurrava ao pé do ouvido sempre que algo me deixava preocupada. Os abraços que me serviam melhor do que meu suéter favorito. A risada mais confortável de se ouvir. O toque mais delicado que eu já sentira na vida. Tudo em nós dois parecia ter sido escolhido a dedo para se complementar. Era maravilhoso demais pra ser real.
“Quais são as chances?”
A frase brotou em minha mente novamente depois do que parecia ser muito tempo e tudo passou a fazer sentido.
- Chris...Christopher, acorda por favor. – eu dizia com a voz carregada de lágrimas enquanto cutucava sem ombro.
- O-O que aconteceu Maddie? – ele respondeu coçando os olhos sem óculos- Ei, não chora... Você teve um pesadelo? – seu rosto estava visivelmente preocupado.
- Isso é um sonho. Isso não tá acontecendo. Isso é um sonho Christopher – eu disse sem conseguir mais segurar o choro que veio com soluços. Chris me puxou para dentro do seu abraço tentando me acalmar.
- Não é não anjo, isso é verdade. Eu tô aqui tanto quanto você. – falava com um braço ao meu redor enquanto o outro aproximava meu rosto molhado de sua camiseta vermelha.
Eu sentia seu perfume. Sentia seu coração batendo contra o meu peito. Sentia seus braços me abrigando. Sentia seus lábios no topo da minha cabeça. Como aquilo podia ser um sonho?
- Eu sei que é um sonho Chris. Eu não sei como pode ser, mas é. Eu sei disso. – eu tentava voltar a ter calma mas não era possível, as lágrimas não paravam de rolar do meu rosto para sua camiseta e a cada momento meus soluços pareciam se tornar mais altos. – Por favor Christopher, não me deixe acordar. Por favor. Por Favor. – dizia agarrada a gola arredondada de sua vestimenta – Não me deixe acordar, eu não quero ficar sem você.
Ele estava em silêncio, apenas me segurava apertada ao seu peito como se quisesse nos transformar em um só. Talvez estivesse tentando entender tudo o que estava acontecendo.
- Eu sei que vou acordar a qualquer momento e eu não quero isso. Eu não quero te perder. Você não pode me deixar ir.
- Por favor Christopher. – voltei a repetir em um sussurro enquanto beijava seu pescoço e a lateral do seu rosto.
- Fica calma Maddie – ele disse finalmente, ainda me segurando firme- é só uma questão de tempo. Mas você precisa ter paciência, você tá me ouvindo? É só uma questão de tempo.
- Não Chris, eu não sei se eu consigo sem você, eu...
- Você vai ter que conseguir Maddie. Você vai conseguir. Eu vou te encontrar – e deu um longo beijo em minha testa sem me soltar nem um pouco- Eu juro que vou te encontrar. 
E então eu abri meus olhos.

*****
A única coisa que estava igual eram minhas lágrimas que brotavam e rolavam meu rosto abaixo descontroladamente. Eu não vestia a camiseta de Christopher. Todas as minhas pulseiras estavam em mim. Eu não estava em sua cama. Eu não sentia o calor da sua pele nem o seu perfume nos meus pulmões. E por várias vezes eu tentei reencontra-lo sem sucesso, voltar àquele apartamento, àquele quarto pequeno e lotado de livros e long plays, voltar para o rapaz dos olhos cor de mel.

E os dias tem se passado e eu não consigo parar de pensar em Christopher e na promessa que ele me fizera. “Eu juro que vou te encontrar”. Talvez seja idiotice buscar em cada rapaz que encontro na rua algum traço dele. As tatuagens no braço esquerdo. Os óculos de grau. A risada rouca. O gosto musical. O modo de se vestir. Mas eu não quero desistir dessa promessa. Eu não vou desistir dessa promessa. Ele me disse que era apenas “uma questão de tempo”, então que seja, esperarei mil vidas se for necessário, mas venha logo Christopher. Por favor.

Por Mariana J. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Não é sobre amor. Ou talvez seja.

Sabe Laura, eu estive pensando muito em tudo ultimamente. Pensei em você, nos teus olhos, nessa sua brancura excessiva, no seu senso de humor estranho, no jeito como você fala e pra ser sincero com você, minha cara, eu já não te sinto dentro de mim.  Eu não penso mais em ti em momentos aleatórios do dia como antes. Eu não me sinto ansioso quando vou te ver. Eu não sinto mais vontade de mandar para a UTI todo e qualquer cara que tente chegar perto de você e, convenhamos, já estava passando da hora disso acontecer.
Eu me lembro de você falando a toda hora naquela mesa plástica azul de todos os caras com quem você saíra, todos com quem você dormiu, todos os momentos constrangedores e as cicatrizes emocionais que alguns te deixaram e eu me esforçando ao máximo pra parecer totalmente despreocupado com tudo isso. E agora eu finalmente não preciso me esforçar mais.
Não estou te dizendo que a sua existência ou a falta dela pouco me acrescentam na vida, apenas que eu vi afinal que de nada adianta ficar te seguindo, suspirando seu nome se não é o meu nome que suspiras. Laura, eu tive tempo suficiente para te observar. Sei como fica seu tom de voz quando resolve que quer ser levada a sério, sei seus filmes favoritos, sei que sabor de pizza você prefere, sei cada traço do seu rosto como se fossem as linhas da palma da minha mão. Sei seus sonhos pro futuro: Casar, ter filhos, uma família completa naquele modelo mais tradicional possível. E mais importante do que tudo, sei também que eu não faço parte desse futuro.
Ah Laura, você merece alguém muito melhor do que eu.
Você merece alguém que te chame pra sair, nem que apenas para andar de mãos dadas. Alguém pra quem você pode ligar às 4 da manhã de uma quinta-feira porque está sozinha em casa e simplesmente não consegue pegar no sono. Você merece alguém que tenha a coragem de dar a cara a tapa e dizer em alto e bom tom o quanto te ama. Alguém que te ame pela pessoa que você é, a Laura verdadeira e não a que eu desenhei na minha cabeça quando sentia tudo aquilo que senti por ti.
Eu amava a garota perfeita que eu idealizei. Eu amei a Laura engraçada, prestativa, carinhosa, trabalhadora, que se da bem com a minha família e com todos os meus amigos. Aquela que rabiscava músicas em guardanapos de papel, a menina extrovertida mas envergonhada demais para abrir a minha geladeira.  A mesma menina que lê romances melosos e guarda todos na estante para quando sentir vontade de tê-los nas mãos de novo. Mas você não é ela e só agora enxergo isso. Agora eu sei que amei a persona que eu criei e Laura, ah Laura, esse é pior tipo de amor que alguém pode sentir.
Para falar a mais pura verdade eu nem ao menos tenho certeza de que te amei, só sei que por anos nutri todos esses sentimentos por ti, seja lá o que isso significa. Eu quis te fazer feliz, quis ser a única pessoa a habitar teus pensamentos, a única com quem você dividiria seu maço de cigarros. Me alimentei dessas vontades por tempo demais para te classificar como uma paixonite adolescente qualquer, mas talvez não foi tempo suficiente para se tornar amor.
Sendo amor ou não, eu declaro nesse momento que não te quero mais como te quis naquela noite em frente a um bar do qual não me recordo mais o nome. Você virava doses de tequila garganta abaixo enquanto cantava para mim a minha música preferida e eu tentava disfarçar o sorriso idiota que brotava no meu rosto tomando goles longos direto da garrafa de cerveja na minha mão. E naquele momento eu sentia que só haviam duas opções para mim: Ou eu te agarrava lá, mesmo com as pessoas em nossa volta ou me jogava na frente do primeiro carro que aparecesse na rua. No final criei uma terceira: Me sentei na mureta, arrumei minha jaqueta e abri outra cerveja. Ninguém precisava saber como me sentia. Você não precisava saber. Você não vai saber.
Hoje meu coração começa a acelerar por outro par de olhos escuros, por outro sorriso, por outra voz, mas isso não faz de você uma pessoa menos importante. Muito pelo contrário minha cara amiga branquela, muito pelo contrário.
Você sempre terá uma parte do meu coração destinada apenas a ti, mas já aviso que não será a mesma que você ocupava antes, então nem ao menos tente se encaixar lá novamente. Você já não cabe lá. Seu lugar é outro. Seu lugar é no coração de outro, não no meu.

Eu quero que você seja feliz Laura. Ah se quero. E você vai ser. Só continue procurando essa pessoa, porque eu mesmo ainda não me cansei de procurar a minha.  

Por Mariana J.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

02.02.2014


Minha bisavó muito sabiamente costumava dizer que “para morrer, basta estar vivo” e a cada dia eu vejo o quão frágil nós todos realmente somos. 
O que mais nos dói nem sempre é apenas a ausência de uma pessoa querida que a morte desta nos causa mas sim ver que ainda havia tanto a se falar, tantas músicas para se cantar, tantas pessoas para cativar, tantos momentos para se viver.  E é isso o que eu sinto agora.
Eu queria não ter um motivo para escrever essas palavras agora.
Eu queria poder dizer alegremente aos meus pais como um dos meus professores favoritos estava melhor de saúde e que tudo está bem agora mas ao invés disso tive que pedir que me levassem até seu velório.
Serginho foi certamente uma das pessoas mais queridas, inteligentes, engraçadas e cativantes que já cruzaram o meu caminho ao longo desses meus poucos anos de vida.  Foi um ótimo professor, que sempre procurava um jeito de fazer a física mais interessante para seus alunos, seja com uma música, uma piada (porque o míope não vai ao zoológico?) uma história de seus tempos de criança ou um macete para uma fórmula complicada. “Daqui alguns anos vocês vão me encontrar lá no bar e vão dizer “Ai professor, eu não me lembro como funciona mas eu ainda me lembro da musiquinha do me ma ma me re re vi vi i i d d...” tenho certeza disso.”
 Foi um esposo amoroso e um baita de um pai coruja que sempre nos contava as peripécias de seu pequeno Mateus e todas as brincadeiras que os dois compartilhavam. Foi também um grande paraninfo. Me lembro ainda hoje de Cláudia, sua esposa e nossa antiga professora de inglês, falando o quão feliz ele ficara ao ser chamado por nossa turma para discursar em nossa formatura e como segundo ela, ele não conseguia escrever o discurso porque sempre acabava chorando.
Me lembro das piadas, das broncas, do “bom dia” diário enquanto andava apresado pelos corredores do colégio, do “entra paralelo, saiu pelo foco”, do “concavidade pra cima”, do “Vocês estão me vendo? Porque eu sou um ser iluminado” do “ióooooon... Vocês sabem o que é isso? Efeito Doppler.”, do discurso na noite da formatura que arrancou lágrimas de todos os seus alunos, do abraço apertado de parabéns.
Quando consegui juntar a força necessária para entrar na sala em que seu corpo estava sendo velado eu admito que, no meu íntimo, eu desejava encontra-lo lá sentadinho em um cadeira rindo e dizendo que nós não nos livraríamos dele tão fácil assim. Infelizmente isso não foi possível. A Cláudia que eu abracei não parecia a mesma que falava alegremente em inglês nas minhas manhãs na época do ensino médio. O rosto era o mesmo, mas sem o brilho característico e com olhos tristes e cansados. Quando a abracei me esforcei ao máximo para sussurrar um quase inaudível “Eu sinto muitíssimo” em seu ouvido.  O homem de terno não era o mesmo que me abraçara em 2011. Ainda era o mesmo mas sem a aura de riso que sempre tivera, mas ainda assim era ele.
Ainda agora não consigo acreditar em tudo o que aconteceu hoje. Ainda espero acordar amanhã e descobrir que nada disso aconteceu, que fora apenas um pesadelo e que ele e sua família passam muito bem, obrigada.  
Sei que com o passar do tempo as feridas de sua partida cicatrizarão em todos nós mas as lembranças e os ensinamentos que Sérgio transmitiu permanecerão nas mentes e corações daqueles que tiveram o prazer de conviver com ele para sempre. 
Sua falta será sempre sentida. 
Muito obrigada por tudo Professor.

“E se eu não voltar é por que? Eu morri de saudades”

Por Mariana J.

* Dedico essas palavras mal escritas à memória do meu querido ex-professor de física Sérgio Novick e todos os seus familiares e amigos. Descanse em paz Serginho.