sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Lovebug



Parte 1 – Início de novembro.


“Não acredito nisso” Falei equilibrando o controle da televisão e um pé do salto que eu calçava na mesma mão.
- Não acredita no que? – Charlie me perguntava enquanto tentava levar o brinco ao furo de sua orelha e ia de encontro comigo na sala do nosso apartamento. Não respondi, apenas apontei para o televisor e aumentei um pouco o volume.
“A modelo Alexia Kuznetsova foi vista acompanhada do empresário e modelo Joshua Smith, sim o sobrinho gatíssimo da nossa querida Margareth Smith, a rainha dos vestidos de festa desse mundo. Os dois saíram abraçados de um show da banda MGMT em Londres na noite passada. Vale dizer também que não é a primeira vez que Alexia e Josh são flagrados juntos, desde que a bela lançou um beijo para o moço direto da passarela durante o lançamento da linha 2015 de lingerie da rainha M.”
Quando olhei pra Charlotte achei que seu queixo tocaria o chão a qualquer segundo. Eu sabia que tinha que me preocupar com essa garota no mesmo segundo que bati meus olhos nela. Não que Joshua fosse problema meu agora. E ele já é crescido o suficiente pra saber onde enfia sua língua ou não.
“E não paramos por aí, caso você não se lembre Josh é ex-namorado de Allison O’Callaghan, a Rainbow de ‘Six of Us’, com quem nós conversamos alguns dias atrás. Falamos sobre o sucesso enorme da série, a confirmação da segunda temporada e um possível affaire com um certo ruivo do elenco. É, parece que a fila andou para os dois. Depois do intervalo.”
- PUTA QUE PARIU ALLISON. – Minha amiga gritava me estapeando o braço.
- EU SEI. – Respondi no mesmo tom de voz, ainda meio transtornada com a situação.
- Ela é linda. – Ela disse baixo, eu só concordei com a cabeça enquanto voltava a calçar meus sapatos. Em breve nós sairíamos para jantar com Ashton e Tyler e nem uma de nós estava pronta.
- Uma modelo. Russa. O que você esperava? – Tentei rir e parecer despreocupada. “Já te disse pra não ficar vendo o E!” Charlie disse com o olhar tristonho.- Eu tava só trocando de canal e ouvi o nome dele e parei por reflexo. Eu tô bem, sério. – Respondi sorrindo enquanto cutucava minha amiga com meu cotovelo.
- Pelo menos parece que vocês dois seguiram em frente né? – A ouvi falando diretamente da cozinha alguns segundos depois, enquanto destravava a porta de entrada do prédio para que os garotos subissem. – Ah é, o Ashton já sabe de vocês ok?
- Você contou pra ele né sua tonta. – Falava rindo enquanto me posicionava à porta de entrada para recepcionar os dois.
- Nem vem, foi o Tyler que abriu o bico. Falei que não durava uma semana. – Charlie completou rindo e checando sua roupa no espelho de corpo inteiro no fim do corredor.
Eu sabia que o segredo não iria durar. Ashton é o melhor amigo de Tyler, tinha certeza que ele deixaria escapar mais cedo ou mais tarde. Charlie ficou sabendo assim que eu cheguei no nosso apartamento no fim da tarde depois de passar praticamente dois dias na casa dele. Ela me olhou do sofá e eu comecei a rir sem jeito. “EU SABIA!” ela gritava e corria até mim dando saltinhos. Era cabelo loiro para todos os lados, abraços, gritos e risadinhas agudas. “Vocês são tão fofos juntos”. Charlie sempre sabe. Mesmo quando você ainda não sabe: ela sabe.
As portas do elevador se abriram e meu coração deu um salto em meu peito. A cada vez que via Tyler ele me parecia ainda mais bonito, mas nessa noite em especial ele estava se superando. Ele sorriu e por alguns segundos eu me esqueci de tudo, só o que importava naquele momento era que ele estava lá. O resto do mundo era um lugar distante e insignificante perto da sensação que eu tinha só de vê-lo sorrir. Ficar longe dele por duas semanas enquanto ele passava um tempo com a família em Nova Jersey foi difícil, mas tê-lo de volta era a melhor sensação do mundo.
- Daqui a pouco te dou oi Ally. Não que você esteja me escutando. – Ashton disse enquanto passava ao meu lado pela porta de entrada. Eu soltei uma risada baixa mas nem ao menos consegui desviar o olhar daquele par de olhos azuis que sorriam para mim. Aquelas ruguinhas se formando nos cantos dos olhos, o sorriso de dentes perfeitamente brancos, as sardas, a barba ruiva e rala marcando seu maxilar. Deus, como ele era lindo.
-Eu tava com tanta saudade de você, baixinha. – Ty me disse enquanto me acolhia em seu peito, seu queixo apoiado no topo da minha cabeça. Incrível como mesmo de salto ele conseguia ser muito mais alto do que eu.
- Eu também grandão. – Respondi me esticando mais um pouquinho para conseguir beijar seu pescoço.
Aw como vocês são lindos” Ouvi Ash dizer da porta, quando me virei vi que ele se apoiava ao batente de braços cruzados e um sorriso no rosto “Meio estranho, mas continua fofo.”
- ALLISON SUA ENTREVISTA! – Minha amiga berrava do lado de dentro do apartamento. Discreta como sempre. Puxei Tyler pela barra da camisa que vestia e voltamos todos para a sala.
“Então Allison, muita coisa mudou nesse ano na sua vida não é?” A entrevistadora me perguntava na tela. Era extremamente estranho me ver lá. Conseguia ver a série sem grandes problemas, mas entrevistas... “Totalmente” eu respondia rindo “É difícil acreditar que faço parte de uma equipe tão incrível e existem tantas pessoas por aí vendo a série e nos dando todo o apoio do mundo; eu não podia estar mais feliz.” 
- AI QUE ORGULHO DE VOCÊ! – Charlie gritava sentada no braço do sofá, me abraçando o quadril.
- Ah Tyler nós somos uma equipe incrível. – Ashton imitava meu tom de voz e abraçava os ombros de Ty com um dos braços.
“Vocês já começaram as filmagens da segunda temporada, certo?” Concordei sorrindo “O que o pessoal de casa pode esperar da próxima temporada?”
- Você não deu nenhum spoiler nosso né Ally? – Ty me perguntou me apertando a cintura, parado atrás de mim. Neguei com a cabeça antes de me voltar para beijá-lo. Seus beijos continuavam ótimos. “... casais vão se formar” Charlie soltou um “tem um casal se formando aqui moça” para o aparelho “...Teremos algumas participações especiais muito legais. Ah é, e essa temporada vai ter mais episódios do que a primeira, vai ser muito divertido.” Me ouvia dizer.
“Há boatos de que você e seu companheiro de elenco, Tyler Hawkins, estão juntos. Na verdade os boatos estão cada dia mais fortes, como vocês são vistos sempre juntos ou saindo um do apartamento do outro e até aparentemente dividindo roupas.” A Allison na TV ria e eu acompanhava. Mostraram então um tweet de Ty escrito “Quem vestiu melhor?” com uma foto dele e outra minha em que vestíamos a mesma camiseta, estampada com o rosto do Brad Pitt com os dizeres “In Tyler we trust”.
“Essa camiseta foi um presente que dei para ele no seu aniversário. É o Brad Pitt como Tyler Durden em Clube da Luta, que é um dos filmes favoritos dele. Eu achei que seria uma piadinha legal” Me via corar de leve na televisão enquanto o Tyler real me beijava o pescoço. “Eu queria uma pra mim também mas essa era a última disponível e né, prioridades.” A entrevistadora ria junto comigo. “Mas eu disse que só daria a camiseta se ele me deixasse vesti-la de vez enquanto, temos um trato agora.”
- É quase a custódia de uma criança. – Ty dizia para a TV, arrancando risadas de todos da sala.
“Vocês dois parecem ter uma relação muito boa.” A entrevistadora dizia com a voz doce, quase como se não esperasse que eu entregasse o ouro.
“E temos mesmo. Tyler é um cara incrível. Extremamente cuidadoso, querido, engraçado, tem um coração de ouro. Conhecer ele foi com toda a certeza uma das melhores coisas que Six of Us me deu. Sou muito grata por tudo isso.”
- AWWWWWWWWWW – Ashton e Charlotte disseram em coro enquanto Tyler me beijava novamente, levantando meu queixo levemente. Enquanto a apresentadora do programa anunciava que a entrevista completa estava disponível na internet, Ty rompeu o beijo com um sorriso e me sussurrou um “você é incrível” no ouvido.
- Gente eu não quero ser chato, mas se nós não chegarmos ao restaurante em meia hora a gente perde a reserva. Larga esse cara incrível Ally e vamos logo pelo amor de Deus, eu tô morrendo de fome. – Ashton dizia nos empurrando porta afora do apartamento.

***
Quando estávamos os quatro já bem alimentados, começamos a conversar sobre as festas de fim de ano e quase achei que teríamos que sedar Charlotte tamanha foi a sua animação. Ela é daquele tipo que decora a casa toda, veste roupas temáticas e envia cartões de fim de ano.
- Vocês vão passar o Dia de Ação de Graças com a família de vocês? – Tyler perguntou antes de roubar um pedacinho da minha fatia de torta de limão. Ashton e Charlie confirmaram, mas eu não. – Você não vai pra Orlando com a Charlie?
- Nah, meus pais não ligam muito pra Ação de Graças. Na verdade eles me ligaram ontem pra dizer que vão passar dez dias no Hawaii nesse período, ou seja: vou ficar por aqui mesmo.
Vendo a confusão no rosto do ruivo, minha amiga explicou:
- O pai da Ally era professor de história né, ele não concorda em comemorar um feriado em que a população nativa dos Estados Unidos foi dizimada apesar de ter ajudado na sobrevivência dos colonizadores. Mas ele ama Black Friday. – “Foi assim que ele me comprou meu primeiro celular”, complementei.
- Ah, vamos fazer alguma coisa então All. – Vendo minha falta de ânimo com a ideia, Tyler continuou – Vamos sim, mesmo que a gente acabe pedindo comida chinesa e ficando de bobeira.
- Mas e a sua família?
- Eu acabei de voltar de casa baixinha, eles vão entender. Não vou te deixar aqui sozinha. – Disse me beijando a testa.
- Sério, vocês dois são tão fofos que me dá ânsia.
Ashton sempre amoroso.
Parte 2 – Dia de Ação de Graças

Parei em frente ao interfone do prédio de Tyler segurando uma sacola cheia de barras de chocolate. Se era para termos uma Ação de Graças incomum tínhamos que fazer direito.
- E aí grandão. – Falei sorrindo para o interfone assim que ouvi que ele estava do outro lado da linha.
- Pode subir baixinha. – Por algum motivo achei sua voz apreensiva, mas subi os andares (de elevador, obrigada a quem arrumou aquele negócio) com um sorriso no rosto mesmo assim. E logo depois que apertei a campainha de seu apartamento, ouvi passos indo de encontro com a porta mas quando esperei que a porta se abrisse, isso não aconteceu.
“Ela chegou Ty” ouvi uma voz feminina do lado de dentro, se afastando de onde eu estava. Eu não conhecia aquela voz. Rapidamente mil coisas passaram pela minha cabeça, uma pior que a outra. Tyler estava com outra garota? Mas nós éramos exclusivos ou não? Eu estava com ciúmes dele?
A porta se abriu.
- Oi baixinha. – Ty disse encostando a porta atrás de si antes de me dar um selinho rápido. Seus cabelos estavam húmidos e ele estava bem vestido demais pra quem estava de bobeira em casa.
- Tá tudo bem aí? Eu achei que tinha ouv...- estava dizendo tentando espiar pela fresta aberta da porta antes de ouvir risadas do lado de dentro – Tyler, quem tá aí?
- Minha família. – Ele disse fazendo careta.
- O QUE? - “Sssssshiu” Tyler soltou olhando pra porta – O que? – Dessa vez eu sussurrei.
- Eles chegaram tem algumas horas só, queriam fazer uma surpresa. Como nunca tinham vindo pra Los Angeles aparentemente hoje era o dia perfeito pra isso. – O tom sarcástico dele me lembrava de seu personagem na série.
Eu não sabia como fazer meu coração bater mais devagar. Então era isso? Eu conheceria os pais do meu amigo? Amigo colorido? Mas isso não é coisa de namorados? Estamos namorando? Sentia que minha cara era um ponto de interrogação gigante.
- Eu sei que isso é um pouco estranho – “um pouco?” zombei – Mas meus pais gostam muito de você e a minha irmã tá super animada pra te conhecer.
Tudo fez sentido, aquela voz era da irmã dele.
- Eu não sei cara, será que eu de... – “Ty, a mãe te mandou entrar logo que ela precisa de ajuda” A porta se abriu e um garoto, que supus ser o irmão dele, pouco mais baixo do que Tyler se pôs para fora. Ele tinha menos sardas do que o mais velho e os cabelos mais puxado para o castanho-claro como os meus. “Que falta de educação a minha. Oi Allison, eu sou Dylan, irmão desse babaca aí.” Completou o garoto vindo em minha direção para me apertar a mão.
- É um prazer te conhecer Dylan. – Eu respondi sorrindo mesmo que eu estivesse gritando por dentro. Os dois tinham o mesmo formato de rosto e narizes iguais, era fofo ver uma versão “miniatura” de Tyler. – Acho melhor a gente entrar então né?
Fui entrando no apartamento que sempre me foi tão confortável como se estivesse indo de encontro com a cadeira elétrica. “Vai dar tudo certo” Ty sussurrou em meu ouvido e eu fiquei um pouco mais confortável. “TYLER, ONDE VOCÊ GUARDA O ESCORREDOR DE MACARRÃO NESSA CASA?” Ouvi uma voz feminina forte direto da cozinha. Era a mãe dele. “Eu não sei onde tá mãe” ele respondeu me puxando pela mão para dentro da cozinha “Mas a Ally sabe.”
Ela era realmente linda. Alta, levemente cheinha, cabelos bem cacheados e tão ruivos quanto os do filho mais velho. Também tinha um sorriso lindo. Que ótima genética eles têm.
- Oi querida, eu sou Marla – disse me abraçando apertado – mãe dessa criatura que nem sabe onde guarda as coisas.
- Ele nunca sabe – respondi rindo um tanto sem graça, uma das minhas mãos no bolso do jeans- E a propósito, tá na segunda gaveta.
- Ainda bem que temos você aqui querida. – Marla disse com o sorriso largo me afagando o ombro – E essa é Emma. – A mãe indicou a menina que estava timidamente encostada à bancada da pia. A garota era igualmente ruiva mas seus cabelos eram lisos, diferente dos da mãe. Mas seus olhos eram do mesmo tom dos de Tyler.
- Oi Emma, é um prazer te conhecer. – Eu disse indo de encontro com a garota que era um pouco mais alta do que eu, que me olhava com as bochechas rosadas. Depois que nos abraçamos ela disse:
- Então as mechas roxas não suas mesmo né?
- De jeito nenhum, eu não teria coragem – E rimos juntas.
- Tyler disse que eram suas. E eu ainda discuti com ele falando que já tinha visto fotos suas sem as mechas.
- Emma, seu irmão é impossível. – Falei passando meu braço por sobre seus ombros enquanto nós duas observávamos o ruivo apoiado ao batente da porta.
- E acha que eu não sei? – Todas as mulheres da cozinha riram.
***
Querendo ou não, nossa Ação de Graças foi bastante diferente. Nós cinco comemos o macarrão de massa caseira, os dois assados e a torta de abóbora que Marla havia preparado, e todos sem exceção estavam magníficos.
- Marla, o que a senhora tem de boa cozinheira seu filho tem de desastrado. – Disse para a mãe de Tyler enquanto eu a ajudava a arrumar a louça do jantar.
- Nem me diga Allison, quando ele me disse que vinha morar sozinho em Los Angeles eu quase enfartei. Nunca consegui ensiná-lo a fritar um ovo, acredita? – Ela ria enquanto lavava os pratos que ocupavam a pia – Ainda bem que ele tem você por perto – A senhora me disse com o olhar doce. Corei.
Conseguia ouvir da sala que Tyler e Dylan jogavam algum vídeo game e aparentemente Tyler estava perdendo pelo tanto que gritava com a tela.
- Me desculpe pela pergunta, mas o Senhor Hawkins não pode vir com vocês? – Perguntei sem jeito. Tyler já tinha falado para mim sobre seus irmãos e seu mãe, mas nada sobre o pai.
- Ah minha querida, estamos com alguns problemas em casa entende? – Uma onda gigantesca de constrangimento me abateu. Porra Ally, que bola fora. “Meu Deus, eu sinto muito Marla, foi idiota te perguntar isso. Eu não sabia” soltei encabulada – Imaginei mesmo que Tyler não comentaria nada. Ele e o pai nunca tiveram uma relação muito boa... São muito parecidos, dá muito atrito. Mas os dois se amam – Ela disse me olhando com um sorriso no rosto mas com os olhos chorosos – Homens...
- Ele gosta muito de você, sabia? – Marla disse alguns segundos depois enxugando as mãos em um pano de prato – De verdade. – Ela não me olhava, mas por algum motivo eu sabia que seus olhos estavam brilhando – Nunca o vi olhando pra ninguém do jeito que ele olha pra você. E eu não sei em que página vocês estão, se é que você me entende e isso não é da minha conta, mas Tyler é um garoto muito bom.
Concordei com a cabeça. De fato ele era. Tudo o que ele me viu passar, por mais bobo que fosse ele nunca me deixara de lado. Mesmo num feriado tipicamente familiar, eu estava em primeiro lugar.
- Só faça meu menininho feliz. – A senhora completou me abraçando os ombros.
***
Então estávamos fazendo um campeonato de Just Dance na sala. Na verdade só eu, Tyler, Marla e Emma. Quem tivesse a pior performance ia pro sofá. Dylan disse que não sabia dançar, mas Emma o delatou me contando que ele é o melhor dançarino da casa. Na partida em que eu perdi para Ty, fui me sentar no sofá com Emma enquanto Marla ia desafiar o filho mais velho.
- Qual música eu escolho baixinha? – Tyler me perguntou zapeando as opções.
- Coloca “You make me feel...”– “Boa ideia” ele disse piscando para mim. – Ele ama cantar essa música quando estamos juntos no carro. – Comentei rindo com Emma que apoiava a cabeça no meu ombro. Era como se nós todos dos conhecêssemos a anos, ou eu fosse parte da família.
- Vocês cantam no carro? – Emma se sentou com a expressão entre confusa e feliz. “Aham” respondi sem entender de onde vinha tanto estranhamento. Nós cantávamos sempre que possível, mesmo a minha voz não sendo lá aquelas coisas – Pode não parecer mas o Ty é bem tímido. – A garota disse se deitando novamente no meu ombro – Ele só canta com quem ele se sente muito confortável mesmo, em casa a gente praticamente só ouvia ele cantando no chuveiro. E olha que eu sou a irmã dele.
Naquele momento eu sentia que meu rosto inteiro era sorriso. E tudo o que Tyler fazia era lindo. Eu não conseguia parar de olhar para aquele cara incrível, que de alguma forma conseguia se mostrar ainda mais incrível a cada dia. O jeito que ele ria. A forma que seus cabelos voavam quando ele saltava. Suas mãos. Sua voz de sono pela manhã. O gosto dos lábios dele. A paz que seu abraço me dava. A cor dos seus olhos.
 Então eu senti aquelas borboletas no estômago e meu coração parecia que queria fugir de dentro do meu peito. Amor? Será?


Nota da autora – Como Ashton soube da história Tyler/Ally:
Os dois jogavam Halo 4, largados entre almofadas na sala do apartamento de Ashton quando o ruivo desviou um pouco sua atenção da tela:
- Ei Ash.                                    
- Fala cara. – Nenhum dos dois se olhavam, e muito menos desgrudavam os olhos da tela dividida em dois.
- Você acha que eu devia investir na Ally?
- Na nossa Ally? – Tyler soltou um “Aham” já que o amigo não o via concordar com a cabeça – Ah cara, eu deixaria quieto. Ela é areia demais pro teu caminhãozinho. – Completou rindo.
Silêncio. Os dois estavam ocupados demais em alguma missão ultra importante. Apenas os passos dos personagens do jogo e os diálogos dos mesmos enchiam o ar por causa do som alto da TV.
- Isso é engraçado já que a gente meio que ficou desde a hora que o pessoal foi embora da minha festa.
Pausa no jogo. Ashton vira-se pela primeira vez desde quando pegaram seus controles, o rosto sério e um tanto incrédulo se dissipando aos poucos antes de brotar um sorriso enorme:
- ISSO É FODA CARA. – Disse enquanto batia a mão esquerda livre com a direita do amigo.
E voltaram ao jogo.
Que uma semana o que, mal deu um dia



Por Mariana J.
                    





terça-feira, 9 de dezembro de 2014

In the silence. On the way home. With the lights out.

E quando eu finalmente achei que conseguiria dizer em alto e bom tom o que sinto por você, notei que não poderia estar mais enganado. As mãos tremendo, o coração tentando me escapar do peito, o riso bobo. “Eu acho que eu...”, “É possível que...”, “Talvez eu...”, “Pode ser que...” e as outras palavras que há tanto esperavam escondidas nos meus lábios, simplesmente se recusavam a sair. A verdade é que eu não sei o que sinto. Como poderia eu então te deixar ciente de tudo que vêm se passando nos cantos mais escuros do meu peito se eu mesmo não sei definir?
Não é só atração física. Não é apenas a minha mania de observar seus lábios enquanto você fala. Não são tuas mãos finas ou o jeito com que elas brincam com o meu cabelo. Não são teus braços que me envolvem com menos frequência do que eu gostaria. Não é a sua voz rouca. Não são teus olhos, ah esses olhos, que me encantaram logo do primeiro instante.  Eu não sei te dizer o que sempre me traz de volta para você todo esse tempo, mas eu sou honestamente grato por isso.
Talvez seja o modo com que teus olhos escondidos por detrás de óculos escuros me procuram entre os passantes, ou a forma que teus lábios se estendem em um sorriso quando finalmente me encontra. Talvez seja o silêncio que se forma quando você deita sua cabeça no meu colo e como todo o resto do universo simplesmente perde a importância. Talvez isso seja uma coisa passageira, talvez isso dure para sempre. E eu sinto essa necessidade de te ter por perto, cuidar de você, ter certeza de que tudo está bem. Coisa que cresce no meu peito e por vezes parece que me tenta sufocar. Não precisamos falar nada, estar ao seu lado já é o suficiente. Um olhar rápido para não sermos pegos. Um sorriso de canto de boca. Um suspiro que eu tento guardar para mim.
Eu não sei explicar o que eu sinto, mas sei que sinto. Sinto que meu coração acelera quando eu digo teu nome, e que aquelas malditas borboletas se batem dentro de mim quando penso naqueles olhos que gosto tanto. E enquanto estou do seu lado, nem passado, nem futuro me preocupam. Tudo o que tenho é aquele momento, mesmo que sejam alguns segundos, mesmo que seja um sorriso e um aceno enquanto passamos nos corredores. E eu vivo o presente, coisa que quase nunca faço.
Sei que sinto porque teimo em ouvir repetidamente a mesma canção. A voz suave que canta no rádio do meu carro, preenchendo cada pequeno espaço que antes eu julgava vazio. Ocupando cada fresta no meu coração. Ocupando todo o ar do automóvel, transbordando das janelas e inundando meu caminho para casa. Então eu fecho os olhos por poucos segundos e sorrio sem notar o que faço. A avenida continua vazia, o vento fresco me bagunçando os cabelos, e a voz tocando nos alto falantes. E a tua presença no meu peito.
Sei que sinto porque mesmo no silêncio absoluto a canção volta a tocar só para mim. E é impossível não sorrir, é impossível não pensar em você. Sei que sinto porque no escuro do meu quarto o pensamento corre para você e a cor dos teus olhos ilumina todo o lugar. Talvez isso seja amor, talvez seja apenas uma leve demência, talvez eu esteja tão acostumado a guardar o que sinto que hoje não sei dizer do que se trata. Sinto que eu poderia passar o resto dos meus dias tentando colocar tudo isso em palavras e nada seria o bastante.
Não sei o que sinto, mas sei que sinto. Sinto, e muito.
Não sei o que sinto, mas sei que me sentiria um tolo se não o sentisse. 


Por Mariana J.

sábado, 29 de novembro de 2014

O dia seguinte

Então quando eu abri meus olhos, tantas horas depois, a primeira imagem totalmente sóbria que tenho é de Tyler adormecido ao meu lado. Sua testa coberta de fios cor de laranja bagunçados a poucos centímetros da minha. Havia algo de mágico em conseguir ver suas sardas tão de perto. Sardas lhe cobrindo o peito e os ombros largos, salpicadas nas bochechas e uma única embaixo do queixo.  Nunca tinha percebido como seus cílios eram claros ou como a ponta de seu nariz fino era “amassadinha”. Nunca tinha percebido como ele era lindo. Atraente sim - foi a primeira coisa que notei quando nos conhecemos, já que né, convenhamos-  mas Ty era lindo em todos os aspectos e eu estava finalmente começando a perceber aquilo.
Assim que consegui me tirar do transe contemplativo em que me encontrava, decidi que seria legal se eu preparasse um almoço – ou brunch, honestamente pelo tamanho da minha fome até hora de almoço já tinha passado- para quando Ty resolvesse levantar. Enquanto tentava sair de sua cama sem fazer muito barulho, vi o rapaz fazer uma careta e com o braço que estava sobre meu quadril, me ajeitou novamente junto dele. Fiz o possível para segurar o riso e lhe beijei a testa antes de delicadamente me tirar do seu abraço e correr para a cozinha.
Separei os ingredientes necessários para preparar panquecas e ovos mexidos para duas pessoas e logo coloquei as mãos na massa. Incrível como eu conhecia a cozinha dele tanto quanto a minha própria. Mais incrível ainda era que eu a conhecia melhor do que o próprio dono. “Ally, onde que você guardou o escorredor de macarrão mesmo?” “No lugar de sempre” – silêncio mortal – “Segunda gaveta Tyler”.  Quando a mesa da cozinha já estava arrumada e quase tudo já estava pronto, de repente sinto Ty me abraçando por trás e me cheirando o pescoço antes de falar com a voz abafada, perto demais do meu ouvido:
- Bom dia, baixinha. – Ele disse antes de largar um beijo no meu pescoço. Vinte e quatro horas antes se ele fizesse isso eu possivelmente ia cair na risada e responder com uma brincadeira, mas não agora. Nossa relação havia sofrido um giro de 180 graus e de alguma forma aquilo não parecia estranho como deveria ser.
- Bom dia grandão. – Respondi sorrindo e lhe beijando a bochecha- Boa tarde na verdade né, já são quase três horas. - Completei com um tom falsamente irritado.
- Nem vem com essa de que tem muito tempo que você tá acordada porque eu sei que não. – Tyler disse rindo sem me soltar um segundo sequer.
Foi aí que eu me virei para ficar de frente um para o outro. Antes mesmo que eu pudesse vir com uma resposta engraçadinha, Tyler segurou meu rosto em suas mãos e me disse com uma expressão que nunca tinha visto antes:
- Às vezes eu me pergunto como eu vivia antes de você.
E eu juro que naquele exato segundo eu senti novamente o que não sentia há tantos meses e não achava que sentiria tão cedo: borboletas no estômago. No segundo seguinte de alguma forma eu estava aos beijos com Tyler, com as minhas pernas abraçadas ao quadril do ruivo que me levava para a sala andando de costas. Então de alguma forma – não me pergunte, eu ainda não entendi – consegui levar ao chão um banco/mesinha com uma pilha enorme de livros, antes que nós dois caíssemos no sofá.
- Meu Deus, desculpa Ty, desculpa, desculpa, desculpa – Eu disse rindo e me agarrando à típica regata branca que ele vestia para ficar em casa, a poucos centímetros de deitar no sofá.
- Nah, não tem problema. Esses livros ficam melhores no chão mesmo. – Ele respondeu antes de voltar a me beijar. “Você é impossível mesmo” soltei entre um beijo e outro. 

***

Depois de estarmos devidamente alimentados e com toda a bagunça arrumada, – nada de livros pelo chão – Tyler e eu aproveitávamos a preguiça e a ressaca deitados em seu quarto. Ele de barriga para cima e eu de lado, a cabeça em seu peito. Seu braço direito pendendo sobre meu corpo e seus dedos longos me desenhando círculos nas costas. Da sala dava para se ouvir alguma música de Weezer tocando do rádio mas o som dos batimentos de Ty encobriam qualquer outro som. Naquele momento nada mais importava. Eu sabia que o que quer que estivesse acontecendo entre nós dois naquele momento não seria fácil, mas tudo era tão simples, tão certo... 

- Ty?
- Fala.
- E agora?
- E agora o que? – Conseguia sentir a confusão na sua voz e por um segundo me perguntei se ele estava dormindo ou quase isso.
- E agora como a gente fica? – Perguntei de novo, me sentando enquanto Tyler rolava de lado. Silêncio. Aparentemente ele também não havia pensado nisso.
- Eu não sei baixinha. – Ele respirou fundo e deixou o olhar perdido por alguns segundos antes de voltar a me olhar. – Você acha que seria uma boa deixar isso público agora?
Sabia o que ele estava querendo dizer. Não tinha muito tempo que eu estava oficialmente solteira e menos tempo ainda desde que eu admiti para o público que de fato, Joshua e eu não estávamos mais juntos. É claro que os boatos de que havia algo acontecendo entre Ty e eu não eram novidade mas se aparecêssemos como um casal talvez a repercussão não fosse uma das melhores. O mundo é machista demais infelizmente.
- É... Acho que é melhor não. – Aquele silêncio era quase incômodo – Isso significa que acaba por aqui? – Sentia meu coração pulsando na minha garganta. Toda essa história com Tyler poderia acabar muito mal e com toda a certeza eu temia pela nossa amizade, mas depois do que havíamos passado pelos últimos tempos e ver que ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele, parecia idiota jogar tudo fora.
- Que tal – ele disse do nada, enquanto olhava para o teto – uma amizade colorida?
- Então continuamos na mesma mas não na frente dos outros? – Respondi rindo e me deitando de barriga para baixo com os cotovelos apoiados no colchão enorme.
- Basicamente. – Me respondeu antes de se esticar até onde eu estava para me beijar. Logo eu já estava deitada nas minhas costas de novo, dessa vez com Tyler em cima de mim com os joelhos apoiados no colchão.
- Vai ser fácil. – Fiz piada entre um beijo e outro.
- Claro. Não é como se nós fossemos animais. – Rindo, foi me puxando até que nós dois estivéssemos sentados um de frente pro outro. – Mas – Ele me soltou e disse, colocando seu dedo indicador no ar- pra isso funcionar mesmo você não pode fazer algumas coisas.
- Como por exemplo?
- Abraços muito longos. – Notando minha cara de “mas que porra?” ele completou:-  Toda vez que você me abraça eu tenho vontade de te pegar no colo e te encher de beijos. Assim não dá. – Me disse rindo. Ah, aquele sorriso.
- Ah tá, então você não pode me dar aquele seu sorriso de canto de boca. – “Que sorriso cara?” ele soltou, inevitavelmente sorrindo de canto de boca. Aquele babaca.- ESSE! – Gritei lhe apontando o rosto – Esse sorriso em que você só puxa um dos cantos dos lábios e me faz ter vontade de arrancar a sua roupa.
- Você tem vontade de arrancar a minha roupa? – Tyler disse aproximando seu rosto do meu, o sorriso ocupando dois terços do rosto sardento, o olhar mais pervertido que já tinha visto na vida. “Isso não vem ao caso agora”, tratei de responder logo já me sentindo corar. – Vou fazer de conta que nem ouvi isso. – Falou passando a mão na nuca cheia de fios ruivos.
- Já lembrei de mais uma coisa que você não pode fazer. Isso. Isso de passar a mão na nuca. É injusto. – Contei antes de me sentar entre suas pernas “de indinho”, e abraçar seu tronco com as minhas.
- Só se você parar de ter a risada mais fofa do planeta. – Ele me respondeu colocando uma mecha de cabelo minha atrás de minha orelha direita. “Fofa?” eu perguntei rindo. “É disso que eu tô falando” ele disse antes de me beijar mais uma vez.

É, parece que se manter separado não seria a tarefa mais fácil no final das contas. 


Por Mariana J.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Take you home.

- Você tem certeza disso Ally? – Charlie me perguntava com o celular em mãos.
- Tenho. – Continuei lavando a louça da noite anterior e me forcei a engolir o choro mais uma vez quando ouvi os passos da minha amiga se afastando da cozinha. “Ei Josh, tudo bem?” ouvi antes que ela fechasse a porta de seu quarto. Não conseguiria falar com ele, pelo menos não em tão pouco tempo, mas também não podia continuar andando pra cima e pra baixo com um carro que era dele. Não era certo, fora que eu tinha crises de choro só de adentrá-lo. Eu tinha dinheiro suficiente para comprar um carro pra mim, e mesmo que a entrega demorasse eu poderia muito bem me virar com um taxi; dirigir uma memória ambulante não era opção.
Depois de alguns minutos Charlotte retornou à cozinha e se sentou na bancada do lado oposto em que eu me encontrava.  “Pronto”, ela falou.  “Ele me disse que vai combinar com o pai dele vir buscar o carro pra você não ter que pagar taxi pra voltar pra casa”. Precisei parar por alguns segundos. Mesmo depois de terminar nosso relacionamento ele ainda se preocupava comigo, a ponto de não me deixar gastar dinheiro a toa. “Aham”, respondi com a voz pesada.  Foi então que senti minha amiga me abraçando por trás, o queixo fino apoiado no meu ombro.
- Tá tudo bem baixinha?
- Vai ficar. – Me soltei de seus braços e forcei um sorriso- Você não ia sair?
- E vou mesmo, ia te convidar pra ir também. Vou comprar algumas coisinhas pra minha fantasia e tal. – Charlie dizia enquanto saia correndo pelo apartamento à procura de sua bolsa – Falando nisso, você já sabe o que vai usar?
- Eu não tenho a menor ideia. O pessoal queria fazer uma fantasia de grupo mas ninguém chegou a conclusão nenhuma.  Acho que vou com você mesmo.
A verdade é que: Louise queria se vestir de Wendy, Ashton e Isaac seriam João e Miguel, Jenny seria a Tinkerbell, Ty seria Peter, e eu uma versão feminina do Capitão Gancho. Mas acabou que Jenny decidiu que queria se vestir de Rainbow (roubando minha primeira – e nada criativa- ideia de fantasia), Isaac seria padrinho de casamento no mesmo dia e o aniversariante Tyler queria usar uma “fantasia surpresa”; o que me levava à estaca zero mais uma vez.
Depois de horas andando pelas ruas de Los Angeles com Charlotte me puxando de loja em loja, voltamos ao nosso apartamento com algumas sacolas de roupa – poucas delas eram parte da fantasia de minha amiga, mas quem está contando? – e diversos potes de glitter. Digamos que a fantasia dela será no mínimo suja.
***
Estava pegando meu último figurino da primeira temporada da série quando bateram de leve na porta do meu camarim. Antes que eu pudesse responder a porta se abriu e um Tyler sorridente entrou na sala carregando nosso café da manhã.
- Bom dia pequena. Um cappuccino canela e um brownie quentinhos para a senhorita. – disse deixando um dos copos e um pacotinho de papel sobre minha mesa de centro.
- Bom dia grandão. – respondi com um beijo em sua bochecha rosada e cheia de sardas- E obrigada pelo café, te pago daqui a pouquinho, vou só me trocar.
- Até quando eu preciso falar que é um presente meu? – Tyler corou quando notou que eu já começara a me trocar em um canto da sala, se virando de costas para mim- Você não tem que pagar nada.
- Você já faz muito por mim Ty, pagar meus cafés é o mínimo que eu posso fazer. E você já pode virar – completei rindo enquanto lhe dava um tapinha nas costas.
Rindo, o ruivo tomou um gole grande do copo de isopor em sua mão e foi se sentar em um dos sofazinhos vermelhos da sala e a cor do estofado fez com que o tom de sua pele me parecesse ainda mais claro.
- E você conseguiu resolver aquele problema? – Ele me perguntava cruzando as longas pernas. Não tocávamos no nome do meu ex namorado desde aquele sábado. Me sentei na cadeira em que costumo estar para a maquiagem e tomei um gole do meu cappuccino antes que pudesse responder.
- Estamos resolvendo. Vou entregar o carro amanhã pro pai dele e acho que vou segunda mesmo atrás de um pra mim. Aliás, se você quiser me acompanhar na saga pra encontrar um carro, está mais do que convidado.
- Eu não entendo muito de carros, mas seria uma honra. – E abriu um sorriso. Aquele sorriso. – Por falar em ajuda, será que você pode me dar uma mãozinha com os preparativos pra festa amanhã? Você pode se arrumar lá em casa se preferir.
Tem como dizer não para um sorriso desses? Não, não tem. Fui até o sofá em que Tyler estava sentado e me pus ao seu lado segurando meu copo com as duas mãos. Encostei minha cabeça em seu ombro e senti que ele inclinava a dele sobre a minha. Seu braço esquerdo abraçando minhas costas.
- Muito obrigada por tudo tá? – Soltei antes de lhe dar um beijo no rosto que acabou lhe acertando o pescoço branquíssimo.
- É o mínimo que eu posso fazer. – E beijou o topo de minha cabeça, como sempre – Agora toma logo esse negócio antes que a maquiadora chegue.
Essas últimas semanas não estavam sendo fáceis de jeito nenhum, mas tê-lo por perto estava realmente me fazendo bem. Estava dormindo mais, mais bem humorada, e por incrível que pareça estava até fumando menos depois de tantos pedidos de Tyler para que eu me cuidasse mais. Me lembrei então de um dia desses em que estava voltando a pé do estúdio para a casa do ruivo, em que ele me passou o braço pela cintura e enquanto andávamos devagar me disse algo que eu não esperava jamais. “Você precisa se amar mais. Se você sente sono, durma. Se está com fome, coma. Se estiver triste, chore. Você é importante demais pra se privar de ser você mesma. Me promete?”
E eu prometi
***
Passei toda a minha manhã de sexta apreensiva com a visita de meu ex-sogro. Mesmo que estivesse marcado dele aparecer só depois do horário de almoço. Tão apreensiva que pela primeira vez em meses eu tinha a opção de dormir até tarde e ainda assim já estava de olhos abertos antes das 8. Aproveitando o tempo a mais que teria , decidi que faria meu desjejum em algum café ou padaria assim que buscasse minha fantasia para a festa de aniversário/ Halloween adiantado de Tyler. E aliás, acabou que me escolheram para ser a Tinkerbell depois de tudo. Então antes que o relógio marcasse nove horas da manhã, me coloquei para fora do apartamento com as roupas mais confortáveis que eu consegui encontrar e uma maçã – Mania que eu acabei roubando do meu amigo ruivo. Chequei o endereço da casa de fantasias no meu celular e sai caminhando pelas ruas constantemente movimentadas de L.A.
Encontrar a loja foi fácil. Carregar a fantasia também – O que há de pesado em um vestido  verde e curto (até um pouco demais, se posso dizer)? Difícil mesmo foi virar uma esquina e dar de cara com a cafeteria em que conheci Josh. Foi como se todos os meses que passamos juntos voltassem de uma só vez, somado a todos os meses em que estávamos separados e à incerteza de que nos veríamos novamente. Então tudo o que eu queria naquela hora era voltar no tempo. Voltar para aquele sábado de manhã. Voltar para aquele momento em que o vi pela primeira vez e tudo o que conseguia pensar era “wow”. Voltar para as risadas que me faziam doer o abdome enquanto corríamos pela rua em direção ao velho cinema. Eu só queria ter Josh de volta e isso me machucava demais. Me lembrava de cada detalhe daquele dia. Das roupas que ele vestia, do que eu pedi, a careta que ele fez quando soube que eu não tomava café puro, o jeito que ele me fez sentir só de olhar para mim.
Me sentei em uma das mesinhas do lado de fora para aproveitar a manhã de sol. Nossa mesa estava vazia do lado de dentro, porém eu não ousaria sentar nela desacompanhada. Era a nossa mesa, mesmo que “nós” não existisse mais. A cadeira vazia do outro lado da mesa redonda parecia me observar, ou ao menos esperar que alguém a ocupasse. Mas ninguém apareceria. Coloquei lá a sacola em que carregava minha fantasia na esperança que assim a sensação passasse; o que não aconteceu. Precisei unir todas as minhas forças para não desabar lá mesmo. Eu não queria que alguém ocupasse aquela cadeira. Eu queria que ele ocupasse aquela cadeira. Me lembrei da promessa que fiz a Tyler mas naquele momento não seria possível, me recusava a chorar em público. Imaginar que algum paparazzi poderia acabar colocando fotos minhas chorando na internet era exatamente o que eu precisava para deixar as lágrimas de lado de vez. Ou pelo menos até chegar em casa.
Depois de ter tomado duas xícaras de café – puras em homenagem àquele que me colocou nessa vida de café sem nada – resolvi fazer o caminho de volta para casa com o máximo de calma possível. Mesmo que fosse chegar tarde, queria aproveitar aquele tempo para colocar meus pensamentos em ordem. Juro que nas semanas seguintes ao rompimento eu fiz tudo o que eu pude para apagar todo e qualquer pensamento relacionado a Joshua da minha cabeça. Acontece que isso era muito mais difícil do que parecia. Estava tentando me acostumar com a ideia de que aquelas memórias não seriam o tipo de coisa que você pode simplesmente apagar. No máximo camufla-las na minha cabeça até que eu conseguisse esquece-las.  Mesmo que eu insistisse em procurar pelo responsável por aquelas memórias em todo lugar.
Enquanto estava a metros do prédio em que morava e tentava esconder os fragmentos de Josh nos cantos mais escuros do meu cérebro, eis que minha mania de vê-lo em toda parte ataca novamente. Mesmo de costas para mim eu conseguia notar as semelhanças. Vestido em roupas sociais, talvez um pouco mais alto que ele, os cabelos levemente grisalhos, mas a estrutura era exatamente a mesma. Em frente à entrada, busquei meu molho de chaves na bolsa que carregava pendurada no braço antes de ser interrompida por uma voz rouca logo atrás de mim.
- Com licença. – A pessoa me tocou de leve nas costas, me fazendo virar quase que instantaneamente- A senhorita mora aqui?
Foi então que eu vi. Olhos castanhos. O nariz fino. Eu sabia que já conhecia aqueles traços.
- Sim. – Respondi temendo o motivo da pergunta e por meio segundo me xinguei mentalmente por não estar mais bem vestida. Tinha a sensação de que aquele era o meu ex-sogro, caso contrário seria uma coincidência doentia.
- Ótimo, - O homem respondeu sorrindo de leve e juntando as mãos ao peito- eu estou procurando... Allison O'Callaghan? Eu me esqueci de perguntar o número do apartamento. – Ele disse com um sorriso de canto de boca que parecia bastante com outro que eu não via a muito tempo.
“Ai caralho”, eu pensei rezando para que ele não soubesse ler mentes.
- Essa seria eu. – Respondi com a voz risonha e um sorriso no rosto (mesmo que por dentro eu estivesse gritando) antes de cumprimenta-lo com um aperto de mão – É um prazer conhece-lo, Sr. Smith.
- O prazer é todo meu, querida. E pode me chamar de William. – O pai de Josh me disse mantendo o sorriso de canto de boca – Espero que você não se importe por eu ter vindo antes do horário combinado, saí mais cedo de uma reunião mas descobri que tenho outra daqui a pouco então estava torcendo para que você estivesse em casa.
- Não é problema nenhum, espero que o senhor... Você – Me corrigi no mesmo segundo – não tenha ficado aqui fora por tempo demais. Eu acho que... – Olhei rapidamente para o interior da minha bolsa e tateei um pouco por lá – Tá aqui. – Respondi tirando a chave do carro de Josh de lá – Se importa de esperar aqui mais um pouquinho? Só vou tirar o carro do estacionamento ok?
“Sem problemas querida”, ouvi William dizendo enquanto eu corria até a garagem. Eu tremia da cabeça aos pés. De todas as formas que eu imaginara conhece-lo, nenhuma delas incluía devolver o carro do meu ex-namorado. Colocar a chave na ignição foi um desafio, assim como levar esse carro para a rua sem chorar. Por fim consegui estaciona-lo em frente ao prédio no mínimo de tempo possível.
- Prontinho. – Soltei com um sorriso enquanto entregava a chave ao homem na minha frente.
- Muito obrigada Alisson. Vejo que você cuidou muito bem dele. – William falava alisando a lataria brilhante do automóvel. Apenas ri baixo, sem saber exatamente como manter uma conversa com ele. – Foi um enorme prazer te conhecer. Se precisar de qualquer coisa é só me ligar ok? – Disse antes de me abraçar. Carinho nas costas, assim como o filho costumava fazer.
-O prazer foi meu Sr.Smith. William. – Ri do meu próprio erro e da cara de reprovação do meu ex-sogro enquanto ele entrava no carro. “Allison?” ele disse assim que eu abri a porta de entrada do prédio, me fazendo virar em sua direção uma última vez.
- Sou muito grato por você ter feito meu filho feliz. Eu sinto por muito tudo isso.
E tudo o que eu fiz foi concordar com a cabeça e acenar de leve enquanto William partia. Antes que eu me desse conta estava chorando sozinha mais uma vez. Mais uma vez chorando por alguém que não estava por perto e que aparentemente não queria mais estar.  Então busquei meu celular dentro da minha bolsa e chamei o primeiro número que me veio a cabeça.
- Ty? – Estava com voz de choro e sabia que acabaria preocupando-o mas eu não conseguia pensar em mais nada – Tudo bem se eu chegar aí mais cedo?
***

Quando cheguei de olhos vermelhos e com uma bolsa enorme nas mãos ao apartamento de Tyler, esse já me esperava literalmente de braços abertos. Não me perguntou nada, apenas me abraçou junto ao seu peito e me deixou chorar em paz, fazendo carinho nos meus cabelos e não tocou no assunto pelo resto do dia. Ensinei Ty a preparar um macarrão à putanesca  - que modéstia a parte, ficou muito bom – e depois de descansarmos um pouco começamos os preparativos para a festa daquela noite.
Incontáveis garrafas de bebidas alcoólicas ocupavam dois terços do interior da geladeira de duas portas e eu não entendo o motivo da minha surpresa quando as abri. Tyler e álcool são palavras comumente ouvidas na mesma frase. Em poucos minutos já tínhamos limpado e decorado todo o terraço do prédio e o relógio quase marcava 19 horas quando as comidas que ele havia encomendado começaram a chegar. “Ninguém consegue viver só de vodca né?” Disse me dando uma piscadela enquanto passava por mim levando caixas e mais caixas de comida para a cozinha.
***
- Sai logo desse banheiro, daqui a pouco teus convidados começam a chegar e você vai estar trancado aí dentro. – Eu dizia impaciente do lado de fora.
- Calma aí baixinha, tá cedo ainda. E eu já estou me secando ok? – “Aham, sei.” Respondi cruzando os braços, mesmo que ele não pudesse me ver  com a porta fechada – Quer que eu prove?
Ouvi a porta se destravando e rapidamente cobri meus olhos com as mãos.
- EU NÃO QUERO TE VER PELADO TYLER!
- Ei, calma aí, eu tô de toalha. – Ele ria alto enquanto descobria meu rosto e passava por mim em direção ao seu quarto. Era a primeira vez que o via sem camisa e só queria dizer que ele estava de parabéns, mas preferi guardar isso pra mim. A toalha azul escuro que lhe cobria a parte de baixo fazia com que sua pele parecesse ainda mais branca e destacava as sardas que lhe pintava as costas. Eu poderia dizer que não pensei em segundo algum naquela toalha caindo, porém isso seria uma mentira.
- Eu... Vou tomar um banho... Me arrumar... É. – Eu disse sem olhar na direção em que ele estava e corri para o banheiro. Um banho frio. Era exatamente isso que eu precisava. “Quando sair tranca a porta e vai lá pra cima. Vou arrumar o som.” Consegui ouvir sua voz abafada.
- Allison, o que você tá fazendo? – Me perguntei olhando para meu reflexo no espelho. As mãos apoiadas na pedra fria da pia. Não sabia o que exatamente estava acontecendo comigo mas me convenci naquele momento que nada poderia acontecer entre nós dois, mesmo que por vezes eu quisesse. Muito. Como naquele momento. Banho frio é sempre uma boa opção.
***
Quando cheguei ao terraço, alguns convidados de Tyler já haviam chegado, entre eles estava Ashton vestido de Peter Pan. Ou melhor, uma versão meio rock do personagem. Ash tinha ambos os braços quase cobertos por tatuagens e alargadores nas orelhas mas ainda assim fazia um Peter.
- Hey Tinkerbell, dá uma rodadinha aí. – Ashton dizia com um sorriso malicioso no rosto que rapidamente virou uma cara de aprovação – Você tá linda Ally. Acabei de perguntar por você pro esquisitão. – E apontou para o lado. Pela altura e pelo “esquisitão” que Ash disse presumi que se tratasse de Tyler. De costas conseguia ver que ele vestia uma calça preta, um par de tênis retro da Addidas, e um agasalho cinza de moletom com a cabeça protegida pelo capuz.
- Ally! – Tyler gritou depois que Ashton o chamou. Aparentemente o ruivo já estava levemente alterado, a jugar pela sua alegria excessiva e o copo vermelho em sua mão – Você está maravilhosa. – Passando seu braço direito pelo meu pescoço, me puxou para perto antes de me beijar o rosto- ADIVINHA A MINHA FANTASIA!
Então ele parou bem na minha frente. As bochechas rosadas por causa do álcool. Foi aí que eu vi que na verdade ele estava vestindo um macacão, não uma calça. Um macacão preto com estampa de esqueleto. O agasalho cinza, com o capuz deixando escapar algumas mechas ruivas. O tênis dos anos 80. Atrás dele Ashton acenava pra mim e repetia alguma coisa com os lábios sem deixar sair nenhum som.
- Você é... – comecei a falar ainda olhando para Ash, tentando entender o que ele estava falando – Donnie Darko?
Felizmente eu entendi certo o que Peter Pan tentava me comunicar e Donnie quase explodiu de felicidade antes de correr para cumprimentar mais pessoas que chegavam.
- Posso pegar uma bebida pra você? – Ashton disse passando o braço pela minha cintura.
- Acho que eu vou precisar mesmo pra não acabar matando o aniversariante. – A melhor maneira de lidar com uma pessoa bêbada é acompanhar na bebedeira. 
Enquanto Ash pegava nossas bebidas, vi Charlotte chegando. Os cabelos loiros armados e bagunçados, os olhos azuis bem contornados com lápis preto e muito (muito) glitter. Vestia uma combinação de duas regatas – uma sobre a outa, sendo uma justa e outra larga – um shorts jeans bem curto e detonado, meia calça escura com alguns rasgos, coturnos pretos mal amarrados, colares com penas, várias pulseiras diferentes nos pulsos e cifrões desenhados pelos braços para completar. Sim, minha amiga era Ke$ha por uma noite. E estava maravilhosa.
- Quem é o Peter Pan ali? – Ela me perguntou ao pé do ouvido, apontando para meu colega de elenco que estava de costas para nós duas. Antes que eu tivesse a chance de responde-la, Ashton veio em nossa direção com uma garrafa de cerveja em uma mão e um grande copo vermelho e bem cheio na outra.
- Pronto Ally, você vai ter que descobrir o que eu coloquei aqui. – Me disse entregando o copo sem tirar os olhos de cima de Charlie que fazia exatamente a mesma coisa.
- Valeu Ash. E falando nisso, Ashton, Charlotte; Charlotte, Ashton. – Falei me colocando de fora dos olhares dos dois que logicamente não estavam nem aí pra mim e saí com a minha bebida. Já de costas consegui ouvir Ash perguntando se poderia pegar uma bebida para Charlie – É, parece que alguém vai se dar bem aqui hoje. – E ri comigo mesma antes de tomar um gole da mistura misteriosa que eu carregava. E estava bem forte.
***
Tyler
Já era tarde da noite e alguns dos meus convidados já haviam ido embora mas a festa continuava. Eu estava meio embriagado e não conseguia encontrar Allison em lugar nenhum. Não sei ao certo o porquê, mas eu sentia que eu deveria estar com ela.
- ASHTON! – Gritei do outro lado do terraço enorme e decorado com abóboras, luzes e esqueletos antes de correr em sua direção. – Você viu a Ally?
- Hum, não. – respondeu antes de voltar a beijar a garota que estava sentada em seu colo.
- Cara isso é sério porra, eu tô preocupado com ela.
- Eu realmente não sei cara, talvez ela esteja no seu apartamento. – Eu notava que ele estava irritado por eu estar atrapalhando o momento, mas eu não tinha notado com quem ele estava tendo um momento. Charlie.
- Oi de novo Tyyyyy – Ela dizia com a voz alterada por causa do álcool – feliz aniversário lindão.
- Valeu Charlie. – respondi sorrindo para ela antes de ir saindo de perto dos dois – Podem continuar a troca de saliva aí.
- Me chama se precisar de ajuda com a Ally – ouvi Charlotte dizendo antes de ser brutalmente interrompida pelos lábios de Ashton.
Então corri até o elevador e desejei com todas as minhas forças que eu encontrasse Allison no meu apartamento. Potencialmente bêbada, depois de todas as doses que a vi virar, mas bem. Assim que as portas metálicas se abriram vi que ela estava lá, tentando sem êxito nenhum colocar a chave a fechadura, xingando baixinho.
- O que você tá tentando fazer?
- Oh, eeeeeei Tyler! Eu tô... – Ela então se encostou à porta de entrada do meu apartamento. Os seus cabelos que antes estavam presos em um coque alto, agora já estavam totalmente soltos, lhe cobrindo os ombros sardentos. – Tentando abrir a sua porta mas ela é meio que impossível. – Completou depois de alguns segundos em silêncio.
- E o que você ia fazer lá? A festa ainda tá rolando lá em cima. Tá tudo bem? – Perguntei apoiando a lateral do meu corpo no batente da porta. Ally imitou o movimento e se virou para mim.
- Eu lembrei que deixei meu celular lá dentro.
- E pra quem você ia ligar? – Não sei se era culpa da bebida mas ela parecia ainda mais bonita naquela noite. Coisa que eu achava que não seria possível.
- Pra ninguém, eu só... Esquece. – Ally disse balançando a cabeça e indo em direção ao elevador parado naquele andar.
- Ei, volta aqui. – E a puxei pela mão de volta ao lugar onde estávamos antes de passar meus braços pela sua cintura. Eu sabia que ela estava pensando no ex. – Deixa isso pra lá ok? Se quiser a gente pode conversar. – Ela apenas negou de cabeça baixa enquanto brincava com os cordões do agasalho que eu vestia – Quer voltar lá pra cima? – Perguntei levantando seu queixo delicadamente. Eu nunca antes tinha visto seus olhos tão de perto e me perguntei se eles sempre foram lindos daquele jeito.
- Aham. – Allison disse encostando seu rosto em meu peito e largando os braços ao lado do corpo como se estivessem pesados demais. Entramos abraçados no elevador. Meu braço direito envolvendo os ombros dela e seu braço esquerdo fazendo carinho nas minhas costas. Quando estávamos quase chegando ao terraço, com a cabeça ainda apoiada no meu peito ela disse: - Feliz aniversário grandão.
Agradeci com um beijo no topo de sua cabeça enquanto a apertava o mais junto de mim que conseguia. Não era difícil dizer que aquele estava sendo meu melhor aniversário até o momento, e não, não era coisa da bebida. Era coisa de Allison.

Assim que as portas se abriram, encontramos Ashton e Charlie ainda se engolindo, mas se largaram assim que nos viram. “Arrumem um quarto”, Ally disse ao passar por eles no seu caminho até a mesa de bebidas. “É isso que vamos fazer O’Callaghan.” Meu amigo disse em resposta , mesmo que ela não o fosse escutar com a música alta.
- Cara, posso falar com você? – Perguntei segurando seu braço. Notando que era um assunto pessoal, Charlie pediu licença e disse que ia se despedir de Allison enquanto isso.
- Manda bala Hawkins. – Disse cruzando os braços junto ao corpo. Me segurei muito pra não rir na cara dele, era difícil levar a sério um cara vestindo calça verde grudada no corpo.
- Eu quero ficar com a Allison.
- Você o que? – A expressão de espanto na cara dele era impagável e eu novamente me segurei muito pra não rir, por mais que o assunto fosse sério. Tudo é muito mais engraçado quando você está bêbado – Tem certeza de que não é só o álcool falando?
- Pode ser também, mas tem muito tempo que eu quero isso. Eu não paro de pensar nisso desde que gravamos a cena do beijo.
- Mas você não tinha combinado que ia cuidar dela pro cara lá? – “Cara lá” = Joshua.
- Eu sei, é exatamente esse o problema Ashton. – Abaixei meu tom de voz assim que vi que Charlie voltava para onde estávamos.
- Bem Tyler, só o que posso dizer é: Não faça nada de que vá se arrepender depois. – Disse baixo me dando um abraço antes de entrar no elevador de mãos dadas com Charlie, que acenava para mim. Antes que as portas se fechassem, completou: - E se precisar tem bebida suficiente pra mais umas três festas aí.
Fiquei alguns segundos olhando fixamente para as portas fechadas do elevador enquanto os dois iam até o térreo e tentei colocar meus pensamentos em ordem. Não fazer nada de que iria me arrepender depois era praticamente impossível. De um jeito ou de outro eu acabaria me arrependendo.
- Oi grandão. – Quase como se pudesse ouvir meus pensamentos, Ally me chamou da porta atrás de mim. Encostada ao batente da porta, um copo vermelho na mão, o sorriso juvenil.
- Oi baixinha. – Respondi sentindo como se naquele momento não existisse mais ninguém no mundo. Coisa que eu sempre sentia quando estava com ela.
- Estão te procurando aqui fora. Eles foram embora? – Perguntou fazendo cara de confusa. Allison bêbada era a melhor coisa do mundo e eu estava descobrindo aquilo na hora. Confirmei com a cabeça enquanto ia de encontro com ela. – Ah eles foram lá pra casa. Ah não...Ugh, eu não quero ouvir os dois transando Ty. Eu tava brincando sobre o “arrumem um quarto”. – Ally disse deitando a cabeça no meu peito. A voz tristonha.
- Hoje você dorme aqui. Não vou te deixar cruzar a cidade sozinha e bêbada.
- Se eu desmaiar você vai me levar para a cama? – Ela dizia me olhando com um sorriso malicioso no rosto antes de cair na risada. Confirmei com a cabeça. – Então vou continuar isso aqui. – Completou antes de virar o que quer que aquele copo continha de uma vez só.
***
O céu estava começando a acordar quando me despedi dos meus últimos convidados. Quando voltei para o terraço quase deserto, encontrei Allison vestida com meu agasalho, usando uma das abóboras de plástico da decoração como acento. Os cabelos castanho claros ainda enrolados nas pontas, fruto do coque que usava antes.  O tom de verde do vestido que usava realçava ainda mais a cor de seus olhos. Havia copos plásticos e garrafas vazias por todos os lados, e ainda assim aquele cenário era perfeito. Perfeito por causa dela.
- Pronto pra arrumar essa bagunça? – Ally perguntou se levantando da abóbora.
- Não precisa se preocupar com isso baixinha, eu contratei uma equipe de limpeza pra cuidar disso aqui. Inclusive daqui umas horas eles devem aparecer aqui.
- Nossa, olha só quem manja muito de organização de eventos. – Ela disse rindo e subindo nos meus pés, antes de largar suas mãos no meu pescoço.
- Tenho que gastar o salário com alguma coisa né? – Respondi rindo de tudo aquilo, puxando seu corpo para mais perto do meu.
- Acabei de lembrar que deixei seu presente no sofá de casa. Espero que Ashton e Charlie não transem em cima dele.
- Eu também espero, sinceramente. – Soltei enquanto ria – Mas você não precisava se preocupar Ally, de verdade. Te ter aqui já é um presentão. – Falei enquanto cobria sua cabeça com o capuz do agasalho. Incrível como conseguia ser linda de qualquer jeito. Então ela puxou minha cabeça para mais perto dela, até que estivéssemos com as testas coladas.
- Acho que você merece um segundo presente. – Ela disse com os lábios quase juntos dos meus.
- Você tem certeza disso? – Perguntei procurando seus olhos verdes. Uma das minhas mãos na lateral de seu rosto, a outra nas suas costas. Ela confirmou com a cabeça. – Não é o álcool falando? –  “E quem se importa se for?” ela disse num sussurro. Seus lábios a meio milímetro dos meus. Até que essa distância desapareceu. Então eu finalmente entendi o que estava acontecendo. Estava me apaixonando por Allison e aparentemente não havia nada que eu pudesse fazer para evitar tudo aquilo. Uma de suas mãos me puxava o cabelo na nuca enquanto a outra continuava no meu pescoço e eu me perguntei mentalmente se ela se sentia como eu, sem coragem para perguntar em voz alta.
Quando percebi que as coisas estavam ficando intensas demais, ao invés de continuar acabei cortando o beijo, afastando levemente o corpo de Allison do meu, que com as mãos sobre meu peito perguntou o que estava acontecendo.
- Isso tá errado Ally. Eu tô meio bêbado. Você tá ainda mais. Não é justo com você. – Ela concordou, mesmo que desapontada.
- Podemos ir pro seu apartamento pelo menos? – Perguntou descendo dos meus pés e bocejando longamente.
***
Enquanto Allison se vestia no banheiro com uma camiseta velha minha, eu carregava meu travesseiro e um cobertor qualquer para a sala, sem acreditar direito no que acontecera alguns minutos antes. Ainda conseguia sentir o seu gosto e seus dedos no meu pescoço. Durante meu transe Ally saiu do banheiro e veio de encontro comigo:
- O que você pensa que tá fazendo? – Os cabelos presos em um coque baixo, a minha camiseta azul quase como um vestido, o hálito de hortelã.
- Já arrumei a cama pra você no meu quarto, eu vou dormir aqui mesmo. – Respondi largando meu travesseiro sobre o estofado com um meio sorriso.
- Não Ty, dorme comigo por favor. – Ela disse segurando minhas duas mãos – Prometo que não vou tentar nada. Por favor.
Ponderei. Sabia que não era a melhor ideia mas preferia estar por perto se ela acabasse passando mal.
- Tá certo. Só vou tirar esse macacão e escovar os dentes. – Antes que eu terminasse de falar ela já estava indo para o quarto. Dentro do banheiro me perguntei onde eu estava com a cabeça. Como alguma coisa poderia ser tão certa e tão errada ao mesmo tempo? Vestido apenas com a calça do agasalho que eu havia usado para a fantasia, entrei em meu quarto e encontrei Ally colocando meu travesseiro ao lado do dela.
- Boa noite pequena. – Soltei quando já estávamos os dois dividindo o colchão, antes de lhe beijar a bochecha. Mesmo que eu quisesse beija-la em outro lugar.
- Boa noite grandão. – Ela me disse com aquele sorriso no rosto e depois se virou para o outro lado. Silêncio profundo. Por vários minutos eu continuei lá, olhos abertos, observando a silhueta da garota. Sem sono para dormir, sem coragem para falar com ela. Assim que eu me virei e passei o observar o teto, Ally se virou para o meu lado – Ty? – Ela chamou.
- Ally? – Respondi voltando para a minha antiga posição.
- Eu não bebi mais nada alcoólico desde a hora que o Ash e Charlie saíram. – Ela falou se aproximando de mim, passando de seu travesseiro para o meu. Então senti sua mão novamente na minha nuca. Estávamos perigosamente próximos mais uma vez. Mesmo na penumbra daquele quarto eu conseguia ver claramente seus olhos verdes. Seu nariz alinhado ao meu. Antes que seus lábios encontrassem os meus novamente, ela completou:
- Talvez você não saiba, mas eu sou péssima em cumprir promessas.

Por Mariana J.

n/a: E tá aí a parte 7/especial de Halloween, finalmente. Espero que vocês estejam gostando da história porque eu tô gostando ~demais~. E como de costume, termino o post com a música do capítulo. Happy Halloween! 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

3:33

Eu nunca fui do tipo que se apaixona. Mas então veio você.
Você e esses lábios bem desenhados. Você e seus olhos cor de céu de manhã cedo. Você e suas mãozinhas delicadas. Você e sua mania boba de brincar com os meus dedos, com os meus cabelos, com minhas camisetas e com o que mais conseguir. Você e essa insistência em me fazer feliz mesmo quando não está por perto. De repente cada e qualquer minuto que passei do seu lado se tornou o melhor da minha vida, algo para me manter de olhos abertos até muito tarde.
E mesmo depois de tanto tempo eu insisto em voltar para aquela noite de sábado.  Seus cabelos escuros caindo sobre os ombros, os olhos claros desenhados em preto, o vestido vermelho escuro deixando sua pele ainda mais alva. E quando te disse o quão bela estava, o rubor do que vestia subiu até suas bochechas e refletiu no fundo dos meus olhos.  O jeito com que seus braços envolviam meus ombros enquanto os meus abraçavam sua cintura, usando minhas pernas como acento. Eu só queria continuar daquele jeito para sempre. Meu queixo apoiado em seu ombro nu, meus lábios a centímetros de seu pescoço. E eu o beijo, mesmo sabendo que não deveria.  E você sorri, sabendo que eu te conheço tanto quanto você mesma. Apenas esse momento se repetindo infinitamente, o modo como seus lábios se abrem no sorriso mais belo, fazendo seus olhos quase se fecharem e como tudo isso parece ter saído de um conto de fadas.
Ainda sinto seus dedos brincando com os meus cabelos “longos demais” enquanto eu tentava prestar atenção na avenida deserta. E eu desejei com todas as minhas forças que fosse horário de pico para que todo o caminho até a porta da sua casa fosse o mais demorado possível, assim ao menos eu não teria que me despedir tão cedo. As luzes amareladas dos postes deixando toda a paisagem melancólica e – se possível- seu rosto ainda mais belo, enquanto você encostava a cabeça no meu ombro direito e cantarolava a música do rádio. E quando eu te deixei tarde da noite em frente ao seu portão e você me beijou o canto da boca, desejei que tivesse errado a mira.
A verdade é que você é boa demais para mim. Diz que não gosta de seu próprio sorriso, mas ainda assim não consegue mantê-lo trancado ao meu lado e, Deus, eu me sinto tão sortudo por isso. E aqueles pequenos pedaços de céu que você carrega nos olhos me faz paralisar. Talvez por medo. Talvez porque nenhum outro par de olhos já me observou como os seus fazem. Talvez porque meu medo de te perder seja superior à minha vontade de te ter nos meus braços. Maior do que a minha vontade de te pegar as mãos e nunca mais soltar, encontrar um lugar em que finalmente seremos apenas nós dois.  E isso seria mais do que suficiente.
Mas eu insisto em esconder tudo isso nos cantos mais escuros do meu peito, partes que pertencem a você e ninguém mais. Enquanto tiver seu nome escrito dentro do meu coração, será como se você fosse minha, mesmo que eu seja o único a saber disso. E quem mais precisa saber? Enquanto eu te guardo em mim sei o quão puro são meus sentimentos, e isso basta. Ter suas mãos nas minhas, sua cabeça deitada em meu peito e seu riso me inundando os ouvidos é tudo o que eu preciso. O que mais me dói é saber que isso eventualmente acaba, que um dia nossos caminhos irão se bifurcar e não sei se voltarão a se unir um dia. Eu sou muito sortudo por te ter, mesmo que não exatamente como meu coração deseja. 
Só espero que você saiba disso. 

Por Mariana J.