sábado, 29 de novembro de 2014

O dia seguinte

Então quando eu abri meus olhos, tantas horas depois, a primeira imagem totalmente sóbria que tenho é de Tyler adormecido ao meu lado. Sua testa coberta de fios cor de laranja bagunçados a poucos centímetros da minha. Havia algo de mágico em conseguir ver suas sardas tão de perto. Sardas lhe cobrindo o peito e os ombros largos, salpicadas nas bochechas e uma única embaixo do queixo.  Nunca tinha percebido como seus cílios eram claros ou como a ponta de seu nariz fino era “amassadinha”. Nunca tinha percebido como ele era lindo. Atraente sim - foi a primeira coisa que notei quando nos conhecemos, já que né, convenhamos-  mas Ty era lindo em todos os aspectos e eu estava finalmente começando a perceber aquilo.
Assim que consegui me tirar do transe contemplativo em que me encontrava, decidi que seria legal se eu preparasse um almoço – ou brunch, honestamente pelo tamanho da minha fome até hora de almoço já tinha passado- para quando Ty resolvesse levantar. Enquanto tentava sair de sua cama sem fazer muito barulho, vi o rapaz fazer uma careta e com o braço que estava sobre meu quadril, me ajeitou novamente junto dele. Fiz o possível para segurar o riso e lhe beijei a testa antes de delicadamente me tirar do seu abraço e correr para a cozinha.
Separei os ingredientes necessários para preparar panquecas e ovos mexidos para duas pessoas e logo coloquei as mãos na massa. Incrível como eu conhecia a cozinha dele tanto quanto a minha própria. Mais incrível ainda era que eu a conhecia melhor do que o próprio dono. “Ally, onde que você guardou o escorredor de macarrão mesmo?” “No lugar de sempre” – silêncio mortal – “Segunda gaveta Tyler”.  Quando a mesa da cozinha já estava arrumada e quase tudo já estava pronto, de repente sinto Ty me abraçando por trás e me cheirando o pescoço antes de falar com a voz abafada, perto demais do meu ouvido:
- Bom dia, baixinha. – Ele disse antes de largar um beijo no meu pescoço. Vinte e quatro horas antes se ele fizesse isso eu possivelmente ia cair na risada e responder com uma brincadeira, mas não agora. Nossa relação havia sofrido um giro de 180 graus e de alguma forma aquilo não parecia estranho como deveria ser.
- Bom dia grandão. – Respondi sorrindo e lhe beijando a bochecha- Boa tarde na verdade né, já são quase três horas. - Completei com um tom falsamente irritado.
- Nem vem com essa de que tem muito tempo que você tá acordada porque eu sei que não. – Tyler disse rindo sem me soltar um segundo sequer.
Foi aí que eu me virei para ficar de frente um para o outro. Antes mesmo que eu pudesse vir com uma resposta engraçadinha, Tyler segurou meu rosto em suas mãos e me disse com uma expressão que nunca tinha visto antes:
- Às vezes eu me pergunto como eu vivia antes de você.
E eu juro que naquele exato segundo eu senti novamente o que não sentia há tantos meses e não achava que sentiria tão cedo: borboletas no estômago. No segundo seguinte de alguma forma eu estava aos beijos com Tyler, com as minhas pernas abraçadas ao quadril do ruivo que me levava para a sala andando de costas. Então de alguma forma – não me pergunte, eu ainda não entendi – consegui levar ao chão um banco/mesinha com uma pilha enorme de livros, antes que nós dois caíssemos no sofá.
- Meu Deus, desculpa Ty, desculpa, desculpa, desculpa – Eu disse rindo e me agarrando à típica regata branca que ele vestia para ficar em casa, a poucos centímetros de deitar no sofá.
- Nah, não tem problema. Esses livros ficam melhores no chão mesmo. – Ele respondeu antes de voltar a me beijar. “Você é impossível mesmo” soltei entre um beijo e outro. 

***

Depois de estarmos devidamente alimentados e com toda a bagunça arrumada, – nada de livros pelo chão – Tyler e eu aproveitávamos a preguiça e a ressaca deitados em seu quarto. Ele de barriga para cima e eu de lado, a cabeça em seu peito. Seu braço direito pendendo sobre meu corpo e seus dedos longos me desenhando círculos nas costas. Da sala dava para se ouvir alguma música de Weezer tocando do rádio mas o som dos batimentos de Ty encobriam qualquer outro som. Naquele momento nada mais importava. Eu sabia que o que quer que estivesse acontecendo entre nós dois naquele momento não seria fácil, mas tudo era tão simples, tão certo... 

- Ty?
- Fala.
- E agora?
- E agora o que? – Conseguia sentir a confusão na sua voz e por um segundo me perguntei se ele estava dormindo ou quase isso.
- E agora como a gente fica? – Perguntei de novo, me sentando enquanto Tyler rolava de lado. Silêncio. Aparentemente ele também não havia pensado nisso.
- Eu não sei baixinha. – Ele respirou fundo e deixou o olhar perdido por alguns segundos antes de voltar a me olhar. – Você acha que seria uma boa deixar isso público agora?
Sabia o que ele estava querendo dizer. Não tinha muito tempo que eu estava oficialmente solteira e menos tempo ainda desde que eu admiti para o público que de fato, Joshua e eu não estávamos mais juntos. É claro que os boatos de que havia algo acontecendo entre Ty e eu não eram novidade mas se aparecêssemos como um casal talvez a repercussão não fosse uma das melhores. O mundo é machista demais infelizmente.
- É... Acho que é melhor não. – Aquele silêncio era quase incômodo – Isso significa que acaba por aqui? – Sentia meu coração pulsando na minha garganta. Toda essa história com Tyler poderia acabar muito mal e com toda a certeza eu temia pela nossa amizade, mas depois do que havíamos passado pelos últimos tempos e ver que ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele, parecia idiota jogar tudo fora.
- Que tal – ele disse do nada, enquanto olhava para o teto – uma amizade colorida?
- Então continuamos na mesma mas não na frente dos outros? – Respondi rindo e me deitando de barriga para baixo com os cotovelos apoiados no colchão enorme.
- Basicamente. – Me respondeu antes de se esticar até onde eu estava para me beijar. Logo eu já estava deitada nas minhas costas de novo, dessa vez com Tyler em cima de mim com os joelhos apoiados no colchão.
- Vai ser fácil. – Fiz piada entre um beijo e outro.
- Claro. Não é como se nós fossemos animais. – Rindo, foi me puxando até que nós dois estivéssemos sentados um de frente pro outro. – Mas – Ele me soltou e disse, colocando seu dedo indicador no ar- pra isso funcionar mesmo você não pode fazer algumas coisas.
- Como por exemplo?
- Abraços muito longos. – Notando minha cara de “mas que porra?” ele completou:-  Toda vez que você me abraça eu tenho vontade de te pegar no colo e te encher de beijos. Assim não dá. – Me disse rindo. Ah, aquele sorriso.
- Ah tá, então você não pode me dar aquele seu sorriso de canto de boca. – “Que sorriso cara?” ele soltou, inevitavelmente sorrindo de canto de boca. Aquele babaca.- ESSE! – Gritei lhe apontando o rosto – Esse sorriso em que você só puxa um dos cantos dos lábios e me faz ter vontade de arrancar a sua roupa.
- Você tem vontade de arrancar a minha roupa? – Tyler disse aproximando seu rosto do meu, o sorriso ocupando dois terços do rosto sardento, o olhar mais pervertido que já tinha visto na vida. “Isso não vem ao caso agora”, tratei de responder logo já me sentindo corar. – Vou fazer de conta que nem ouvi isso. – Falou passando a mão na nuca cheia de fios ruivos.
- Já lembrei de mais uma coisa que você não pode fazer. Isso. Isso de passar a mão na nuca. É injusto. – Contei antes de me sentar entre suas pernas “de indinho”, e abraçar seu tronco com as minhas.
- Só se você parar de ter a risada mais fofa do planeta. – Ele me respondeu colocando uma mecha de cabelo minha atrás de minha orelha direita. “Fofa?” eu perguntei rindo. “É disso que eu tô falando” ele disse antes de me beijar mais uma vez.

É, parece que se manter separado não seria a tarefa mais fácil no final das contas. 


Por Mariana J.

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