terça-feira, 9 de dezembro de 2014

In the silence. On the way home. With the lights out.

E quando eu finalmente achei que conseguiria dizer em alto e bom tom o que sinto por você, notei que não poderia estar mais enganado. As mãos tremendo, o coração tentando me escapar do peito, o riso bobo. “Eu acho que eu...”, “É possível que...”, “Talvez eu...”, “Pode ser que...” e as outras palavras que há tanto esperavam escondidas nos meus lábios, simplesmente se recusavam a sair. A verdade é que eu não sei o que sinto. Como poderia eu então te deixar ciente de tudo que vêm se passando nos cantos mais escuros do meu peito se eu mesmo não sei definir?
Não é só atração física. Não é apenas a minha mania de observar seus lábios enquanto você fala. Não são tuas mãos finas ou o jeito com que elas brincam com o meu cabelo. Não são teus braços que me envolvem com menos frequência do que eu gostaria. Não é a sua voz rouca. Não são teus olhos, ah esses olhos, que me encantaram logo do primeiro instante.  Eu não sei te dizer o que sempre me traz de volta para você todo esse tempo, mas eu sou honestamente grato por isso.
Talvez seja o modo com que teus olhos escondidos por detrás de óculos escuros me procuram entre os passantes, ou a forma que teus lábios se estendem em um sorriso quando finalmente me encontra. Talvez seja o silêncio que se forma quando você deita sua cabeça no meu colo e como todo o resto do universo simplesmente perde a importância. Talvez isso seja uma coisa passageira, talvez isso dure para sempre. E eu sinto essa necessidade de te ter por perto, cuidar de você, ter certeza de que tudo está bem. Coisa que cresce no meu peito e por vezes parece que me tenta sufocar. Não precisamos falar nada, estar ao seu lado já é o suficiente. Um olhar rápido para não sermos pegos. Um sorriso de canto de boca. Um suspiro que eu tento guardar para mim.
Eu não sei explicar o que eu sinto, mas sei que sinto. Sinto que meu coração acelera quando eu digo teu nome, e que aquelas malditas borboletas se batem dentro de mim quando penso naqueles olhos que gosto tanto. E enquanto estou do seu lado, nem passado, nem futuro me preocupam. Tudo o que tenho é aquele momento, mesmo que sejam alguns segundos, mesmo que seja um sorriso e um aceno enquanto passamos nos corredores. E eu vivo o presente, coisa que quase nunca faço.
Sei que sinto porque teimo em ouvir repetidamente a mesma canção. A voz suave que canta no rádio do meu carro, preenchendo cada pequeno espaço que antes eu julgava vazio. Ocupando cada fresta no meu coração. Ocupando todo o ar do automóvel, transbordando das janelas e inundando meu caminho para casa. Então eu fecho os olhos por poucos segundos e sorrio sem notar o que faço. A avenida continua vazia, o vento fresco me bagunçando os cabelos, e a voz tocando nos alto falantes. E a tua presença no meu peito.
Sei que sinto porque mesmo no silêncio absoluto a canção volta a tocar só para mim. E é impossível não sorrir, é impossível não pensar em você. Sei que sinto porque no escuro do meu quarto o pensamento corre para você e a cor dos teus olhos ilumina todo o lugar. Talvez isso seja amor, talvez seja apenas uma leve demência, talvez eu esteja tão acostumado a guardar o que sinto que hoje não sei dizer do que se trata. Sinto que eu poderia passar o resto dos meus dias tentando colocar tudo isso em palavras e nada seria o bastante.
Não sei o que sinto, mas sei que sinto. Sinto, e muito.
Não sei o que sinto, mas sei que me sentiria um tolo se não o sentisse. 


Por Mariana J.

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