quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

07/01

Ah Giulia, eu jurei que nunca mais deixaria meu coração doer por sua causa. Jurei que tomaria mais sol. Jurei que seria mais saudável. E eu estava conseguindo, pelo menos te deixar para fora do meu peito, mas então tudo mudou. Sentir sua falta costuma ser uma coisa constante, quase natural; como ondas do mar batendo nas pedras. Constante. Me desgastando aos poucos, mas ah, tão poético.
Mas não agora.
Então o movimento brando se transformou em um enorme tsunami, me arrastando para longe, me tirando o ar dos pulmões, arrasando toda e qualquer coisa que teime em ficar no seu caminho. E eu me sufoquei. A água que me inundava o coração resolveu transbordar dos meus olhos cansados com mais força do que os pingos que martelavam o teto do meu carro. O asfalto molhado refletindo as luzes da rua, sua música favorita no rádio, e naquele momento era saudade e não sangue que meu coração bombeava. Eu ainda me sinto afogando, mesmo agora que as lágrimas secaram e o céu escuro insiste em me observar. Trovões, mas nada de tempestade.
Eu achava que te conhecia. Achava que a sua presença seria algo constante. Achava que era isso que você queria. Hoje eu já não sei de nada. Não sei se te quero de volta. Eu quero. Eu quero te abraçar e dizer que eu não vou pra lugar nenhum. Eu preciso te contar das pessoas que eu conheci, dos problemas que eu tive, da dor que eu sinto no meu peito agora. Eu quero contar que conheci o vocalista daquela banda que você gostava tanto, e dizer que o cara é insuportavelmente legal. Quero te contar dos meus planos pro futuro. Mais do que tudo, eu quero que você faça parte desse futuro. Eu queria.
Eu não te quero mais. Eu não quero a sua memória insistente em toda e qualquer coisa que eu faço. Eu não quero meus amigos me olhando com pena quando digo seu nome. Eu não quero me lembrar do aroma do seu perfume como se tivesse acabado de senti-lo. Eu não quero mais ouvir a sua voz. Eu não quero saber das bandas que você gosta, não quero saber se sua irmãzinha se machucou caindo de bicicleta, não quero saber com que celebridade seu avô te compara. Eu não amar os teus olhos. Eu não quero mais te amar Giulia, mas eu não tenho a mínima ideia de como fazer isso.
Não sei o que eu quero. Não sei o que estou fazendo com a minha vida. Não sei quando as coisas vão melhorar. Não sei como tirar toda essa água dos meus pulmões. Eu continuo me afogando. E eu grito seu nome, mas você não me escuta. Cadê você pra me desejar bom dia? Cadê você pra reclamar que eu não bebo como alguém da minha idade deveria? Cadê você que foi embora e não deixou nem uma migalha para que eu seguisse? Eu não sei de muita coisa. Só sei que estamos sob o mesmo céu, e as mesmas estralas. O mesmo sol que te banha a pele, cega meus olhos. Eu sei que você está aí fora, em algum lugar do mundo e isso acalma a minha tempestade. Não o suficiente para me deixar viver, apenas o suficiente para continuar te procurando.
Uma vez leram a palma da minha mão e disseram que você não está no meu futuro. Você pode não ser parte do meu destino, mas foi parte do meu passado. E você ainda é parte do meu presente, mesmo que eu não queira. Você pode não estar nas linhas das minhas mãos, mas você corre nas minhas veias. Você continua marcada em cada centímetro da minha pele e em cada canto do meu coração, por mais que eu tente negar. Pode ser masoquismo, insistir na busca de alguém que não quer ser encontrado, mas se eu não o fizer, o que farei então? Tudo de alguma forma me puxa de volta para ti. De volta para a costa, sendo beijado pelo movimento das ondas. Me desgastando. Sumindo aos poucos, mas sem ninguém para me procurar. Eu sei que você não está sofrendo por mim o quanto eu estou sofrendo por você, mas as vezes eu prefiro acreditar que você também está na busca. Se estiver não desista, porque eu acho que nunca conseguirei desistir de ti. 


Por Mariana J.

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