quinta-feira, 2 de abril de 2015

Lembranças de outubro

Por alguns segundos foi como se estivéssemos completamente sozinhos.  Eu nada entendia das conversas ao nosso redor, e também pouco me importava. Ela estava vindo na minha direção e tudo parecia acontecer em câmera lenta, talvez pela minha noite mal dormida ou pelo excesso de remédio para gripe.
Seus olhos estavam cansados, o olhar disperso, os ombros magros levemente pendendo para frente. Por alguns segundos eu realmente acreditei que ela passaria por mim sem se dar conta de que eu estava parado ali e senti uma pontada de tristeza, mesmo que nada tivesse acontecido. Que tolo eu fui. Assim que aquele par de olhos cor de céu de manhã cedo encontraram os meus e seus lábios formaram um sorriso cansado, eu soube o quão sortudo eu era.  Sortudo porque ela passara por todos os outros de cabeça baixa. Sortudo porque vi naqueles olhos o brilho que sempre me cativou. Sortudo por ser o único a receber aquele sorriso.
E mesmo que suas mãos não funcionassem como deveriam, mesmo que ela não estivesse nos seus melhores dias ou que seu sorriso abrisse um pouco menos do que de costume, continuava sendo ela. Era ela, e eu continuava apaixonado por seus cabelos escuros, pela textura de suas mãos no meu rosto, pelo seu riso. Era ela e eu continuava encantado pelo jeito que ela andava, mexendo os ombros. Era ela e eu continuava apaixonado pelo jeito que sempre conseguia criar um sorriso no meu rosto, mesmo que o mundo estivesse desmoronando ao meu redor. Era ela e eu não conseguia controlar meus olhos que insistiam em segui-la enquanto subia as escadas, para longe de todas aquelas conversas. Era ela, mesmo que não emanasse o mesmo aroma. Era ela mesmo que não soubesse o quanto meu coração acelerava todas as vezes que citavam seu nome.
Ainda era ela.
E eu continuava apaixonado.
Ainda que não admitisse. 

Por Mariana J.

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