terça-feira, 19 de agosto de 2014

Matheus

Depois de tanto tempo, dias de chuva ainda me lembram você. O cheiro do asfalto molhado me lembra do teu abraço e teu perfume grudando nas minhas roupas e me embriagando mesmo quando longe de você. Me lembra todas aquelas tardes que passamos largados no chão da sua sala, dividindo aquele seu cobertor verde escuro e vendo um filme de terror na TV – mesmo eu odiando o gênero, você sabe. 
Eu nunca te dei uma explicação, eu sei disso. Nunca me despedi propriamente, e de alguma forma eu acho que foi melhor assim. Fui egoísta, admito, mas eu sempre fui e você nunca deixou de apontar isso como um dos meus grandes defeitos e eu concordo plenamente. Não quero nunca que você pense que eu fui embora porque você fez algo errado – não, isso nunca aconteceu. Ah garoto você nunca foi perfeito e é exatamente isso que eu gosto tanto em você. Sempre achando as suas bandas favoritas tão superiores às minhas, o seu mau humor matinal, suas experiências culinárias que nem sempre davam certo (ainda assim sempre ficava gostoso, nunca entendi), a implicância com o meu apetite por coisas agridoces - “Cara, para de inventar... Sério, não passa maionese em bolacha recheada isso é nojento. Puta merda". 
Se um dia te disserem que eu nunca te amei eu espero que você saiba que é mentira. Eu te amei, ah se amei. Amei seus olhos castanho esverdeados, seus cabelos espantosamente bem cuidados para um cara, as veias saltadas das suas mãos, a marca de queimadura de sol que você tem nas costas e a sua barba com aquela falha eterna logo embaixo do queixo por causa daquela sua cicatriz de quando caiu de bicicleta indo me pegar no trabalho. Amei cada referência a filmes/séries/bandas que você fazia mesmo que por vezes eu não pegasse de primeira, admito. Eu amei cada risada que você deu, todas as vezes que me observou de canto de olho, todas as camisetas que me emprestou pra usar de pijama, sua mania de organização e os sermões que você me passava todas as vezes que deixava algum sapato meu largado por aí. Eu amei cada pequena parte de você, e o melhor de tudo, sei que o sentimento foi recíproco.
Talvez esse sentimento de “amar e ser amada” fosse o que eu mais gostasse em nós dois, mas um dia isso não foi mais o suficiente. Seus beijos não tinham mais o mesmo gosto, e eu já não me sentia ansiosa pela próxima vez em que eu poderia deixar me perder em você. Tudo ao nosso redor continuava exatamente igual, mas não eu. Por isso eu digo que nunca foi culpa sua. Eu simplesmente tinha que ir. Caso eu continuasse com a minha rotina, subindo os 9 andares, beijando os teus lábios, brincando com o seu gato, rindo das suas piadas, mais cedo ou mais tarde iríamos nos separar; e acredite: Ia ser bem pior do que foi. Teríamos mais uma daquelas brigas em que ninguém fala nada realmente relevante e tudo o que se consegue são dois corações feridos e arrependidos. Então eu decidi que era hora de ir. Me levantei da tua cama, peguei minhas coisas e fui. Fui.
Na correria acabei me esquecendo daquele meu lenço vermelho com bolinhas, e se bem te conheço ele deve estar guardado ainda. Você guarda tudo como se assim ainda conseguisse dominar o que aqueles objetos representam pra você, mas ainda assim, você nunca me dominou. Eu nunca me deixei ser dominada. Nem por você, nem por ninguém. Talvez esse seja outro defeito meu. Nós sempre fomos tão diferentes, será que agora você consegue enxergar? Seu erro foi se apegar demais a mim. Eu nunca te prometi que ficaria, e mesmo quando partia eu nunca prometia voltar. Você acreditava que sim, até que eu não voltei. Eu li suas mensagens. Recebi suas ligações. Vi seus recados. Mas não existia nada que você pudesse dizer ou que eu pudesse fazer que mudasse o que eu sentia e o quanto eu sabia que do seu lado não era o meu lugar.
Falo de você mas ainda guardo aquela palheta vermelha que me deu quando eu disse que queria aprender a tocar violão. Pior ainda, falo de você mas estou aqui te escrevendo essas linhas que você nunca vai ler pelo simples prazer de tirar isso do meu peito. Larguei o instrumento, larguei meu lenço favorito, larguei você. E apesar da certeza que eu ainda tenho no meu íntimo eu sinto a sua falta. Todos os dias. As vezes ainda espero ouvir sua voz no telefone me dizendo que está muito gripado e precisa de reforços, ou te ver vestindo aquela combinação de camiseta dos Smiths e samba canção que você sempre usava enquanto andava pelo seu pequeno – e muito bem arrumado – apartamento. Sinto falta da sua paciência com as minhas manias bobas e a sua voz de sono pela manhã. Mas eu fui embora. Larguei tudo e recomecei do zero. Saí do meu antigo endereço, mudei o número do meu celular, trabalho em outro lugar, pintei meus cabelos de preto (as vezes ainda me pergunto o que você acharia deles), mas a única coisa que eu aparentemente nunca consigo deixar totalmente é você. Mas eu não te amo mais como amava antes. Espero que você sinta o mesmo.

Com um carinho enorme,

Giulia. 

Ps: Sinto muito pelos cigarros mentolados, sei que você comprava por mim. 

Por Mariana J.

n/a: Tá lembrado da Giulia? Pois é, o Matheus já falou um pouco dela aqui e aqui.Corre lá caso você ainda conheça, e se já conhece pode ler de novo, tá liberado haha. 

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