sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Metade do meu coração

Eu o conheci há tantos anos atrás que por vezes me parece estranho a ideia de que eu já vivia antes dele me aparecer. E agora, depois dessa boa e longa década, simplesmente não consigo nem ao menos cogitar a ideia de ficar longe dele por mais de alguns dias. Não sei dizer como foi que tudo isso começou ou onde foi que aquele garotinho que conheci na minha época de escola fez casa no meu peito para nunca mais sair, mas por vezes sinto que somos um só.  Aquelas duas crianças que anos atrás se irritavam por pouco - e ficavam brigados por horas - hoje sofrem por ter que carregar o peso nas costas de não poder se ver todas as manhãs, como nos velhos tempos. E sinto como se metade do meu coração batesse no peito dele e metade do dele no meu, dividindo os mesmos medos, as mesmas paixões, sonhos paralelos. Tão iguais em tanta coisa.
Não consigo colocar em palavras, por mais que eu tente, a calma que me inunda todas as vezes que me lembro de que ao fim de cinco longos dias posso novamente voltar para aquele abraço. Abraço apertado, daqueles que se dá sem querer largar. Que gruda o perfume de quem te abraça nas suas roupas. Abraço que aproxima as nossas metades que vivem um no peito do outro. E quando por algum motivo qualquer aqueles braços não podem me envolver, sinto como se o resto da semana não fosse funcionar como deveria. E as costas pesam. E o peito também.
E quando estou com ele eu sei que não preciso me preocupar com nada. Sei que ele estará lá pra me segurar quando eu cair, como já fez tantas e tantas vezes antes, e espero que saiba que eu faria o mesmo num piscar de olhos. Sei o quanto ele se esforça pra entender os meus problemas quando eu mesma não consigo e que me apoia em qualquer coisa, contando que me faça feliz. Clichê falar assim, mas ele é aquela pessoa que consegue fazer flores brotarem nas partes mais escuras e inóspitas do meu peito. Uma das poucas pessoas pra quem eu simplesmente não preciso dizer nada pois com um olhar ele sabe. Ele sempre sabe.
Mas eu espero que ele saiba o quanto aquele sorriso enorme que ele mostra nos lábios todas as vezes que me encontra consegue melhorar meu dia. O quanto o seu riso me faz falta as vezes e que eu faria absolutamente qualquer coisa para que ele sorrisse o tempo todo. Espero que saiba também o quanto eu amo aqueles olhos de ressaca que só ele tem. Grandes, escuros, que parecem conseguir enxergar a minha alma ao fundo mesmo que por vezes se mostrem para mim como um poço que não se pode ver onde termina. E quando seu olhar carrega aquela mágoa que eu já conheço bem, só queria que ele a jogasse toda em mim. Prefiro carregar o dobro de dor no olhar do que ver aqueles olhos tão lindos ofuscados por ela.
Pois saiba também que amo seus cabelos e a forma que sempre deixou que meus dedos brincassem entre os fios castanhos e macios. E ainda que ele não concorde comigo, ainda vou amar a forma como eles costumavam cair sobre a sua testa. Mesmo sabendo que não deveria – melhor ainda, sabendo que ele não deveria- amo também a forma como segura um cigarro entre os dedos. A tragada. Cada pequena nuvem de fumaça que solta por entre os belos lábios que tem. Seu perfil mal iluminado por poucas luzes distantes e como eu queria deixar essa imagem gravada na mina mente pra sempre. Amo também o aroma que fica em mim toda vez que o abraço. O misto de seu perfume com um pouco da fumaça.
Mas acima de tudo, eu amo a forma que nossas almas se entendem. O modo que qualquer conversa flui, sem precisar forçar nada. Simplesmente um assunto puxa outro que passa para outro e no fim estamos falando dos tópicos mais aleatórios possíveis. E conversando. Um ouvindo o que o outro tem a dizer, ponderando argumentos, guardando segredos e dividindo risadas. Eu poderia passar horas nisso. Os dois em qualquer lugar, sem a necessidade de bebidas ou som ambiente – pois com ele o silêncio nunca é constrangedor, é apenas um momento que damos para nós mesmos para poder absorver tudo. E a respiração dele quando adormece ao meu lado vira a melhor trilha sonora, a ponto de tudo parecer quieto demais quando ele parte.
E esse garoto já esteve ao meu lado em tantos momentos difíceis que é ridículo para mim imaginar que eu estaria aqui se não fosse por ele. Mesmo nesses momentos em que tudo parece nublado e o futuro tão incerto como pode ser, eu sei que não tenho nada a temer. Enquanto ele estiver do meu lado, nada pode ser tão terrível. Não imagino meu futuro longe dele, da mesma forma que não lembro como era minha vida antes de conhecê-lo. Depois de tantos anos dessa presença contínua só o que me resta é agradecer por todas as lágrimas que ele secou, cada abraço apertado e cada concelho. Agradecer as palavras tão doces que ele sempre me diz e que colocou no papel algum tempo atrás de um modo que só ele consegue fazer mas que eu ainda tento imitar, deixando essas minhas linhas irem de encontro ao peito dele. Não é muito, mas é o que eu sei fazer.

E sei ainda que se não fossemos quem somos, exatamente como somos hoje, seriamos aquele tipo de casal que causa um misto de inveja e enjoo em quem vê, tamanho amor que sei que dividimos. O que realmente importa é que sei que no dono dos melhores abraços e dos sorrisos mais doces, sei que tenho meu melhor amigo. O melhor amigo que um dia eu poderia sonhar em pedir. Uma pessoa que se importa tanto comigo quanto faria com alguém de sua família. Tenho em Paulo não só a minha alma gêmea, como a certeza de que a outra metade do meu coração está muito bem guardada.

Por Mariana J.

n/a: Dedico essas minha palavras ao melhor amigo do universo/amor da minha vida/alma gêmea/marido caso continuemos solteiros aos 40 e um baita de escritor: Paulo. Te amo muito monstrinho.  

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