quinta-feira, 20 de março de 2014

Giulia

E é em dias como hoje que eu mais sinto sua falta.
Dias em que nada que escrevo parece certo. Dias em que nada parece satisfazer esse buraco negro que eu tenho dentro do peito. Dias em que meu único desejo é deixar meu rosto se perder na infinidade dos teus cabelos. A chuva caí do lado de fora e eu consigo escutar cada pingo martelando a janela insistentemente e espero te ver entrando no meu quarto, vestindo sua enorme camiseta do Two Door Cinema Club, dançando na ponta dos pés e cantando aquela música sobre chuva. Como era mesmo? “Rain... I don’t mind” alguma coisa, alguma coisa. Não me lembro exatamente. Eu sinto falta disso, de verdade, sinto falta de ouvir sua voz abafada pelo cobertor me pedindo pra te abraçar sempre que precisava me ausentar da sua companhia mesmo que por míseros minutos.
Meus cigarros mentolados duram muito mais agora sabia? Na verdade eu só os comprava porque sabia que você preferia estes aos que eu costumava fumar. A sua ultima caixa ainda está aqui, vazia mas ainda me faz companhia. Já perdi a conta das vezes em que me encontrei com os cotovelos encostados no beiral da sacada, assistindo a fumaça dançando para fora no meu cigarro e esperando o sol se por e as luzes da cidade se intensificarem como nós fazíamos. A cidade é a mesma. O céu é o mesmo. As luzes, idem. Mas não eu, eu não posso ser o mesmo sem você.
 Eu sinto falta de ter alguém pra dividir um copo de café nas minhas madrugas insones. Eu sinto falta das nossas discussões ridículas causadas pelo seu ciúme, e pelo meu também. Sinto falta até do seu costume chato de deixar seus sapatos largados por aí e de tratar o meu –antigo- gato como um bebê. Ele foi embora alguns dias depois de você, quem sabe ele esteja contigo agora. Sabe, eu amava ficar doente com você por perto pois eu sabia que iria cuidar de mim. Traria bala de gelatina em formato de tubarões e dormiria aninhada no meu peito sem ter medo de pegar o que quer que eu tivesse na época. Além que você sempre ria quando eu respondia sua mensagem preocupada de “Posso te ajudar em alguma coisa?” com um “Traga doce, um filme de terror e uma lingerie preta”.
Alguns dias atrás eu estava fazendo uma limpa no meu armário para mandar algumas roupas velhas para doação quando encontrei o seu lenço favorito, aquele vermelho com bolinhas brancas com o qual você costumava prender os cabelos. A princípio eu estranhei que você o tivesse deixado para trás pois você sempre me dizia o quão importante ele era mas então pensei melhor e notei que você costumava dizer o mesmo de mim. E eu continuo aqui, assim como o velho lenço que agora não é mais tão importante.
Talvez eu vá sempre sentir falta do seu perfume, das suas piadas terríveis, do seu bom gosto musical, da sua paciência infinita comigo e do som do seu riso. Agora que não te tenho mais por perto o buraco negro dentro do meu peito parece maior e maior a cada dia e eu temo, minha cara, que um dia eu seja todo escuridão.
 É... É em dias assim que eu mais sinto sua falta. 

Por Mariana J.

n/a: A Giulia atacou novamente e o resultado está aqui. Espero que gostem. 

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